PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS
Entenda sobre as perspectivas contemporâneas da Sociologia.
NORBERT ELIAS
A obra Estabelecidos e Outsiders é o resultado de aproximadamente três anos de pesquisa no qual Norbert Elias (1897-1990) analisou uma pequena cidade da Inglaterra (Wiston Parva). Nesse local existia uma divisão entre dois grupos: os antigos moradores (estabelecidos) e os recém-chegados (outsiders).
Os estabelecidos se classificavam como superiores aos recém-chegados. Os outsiders passaram a ser estigmatizados, se sentindo muitas vezes inferiores e carentes de virtudes humanas, assim como aqueles que não estabelecem a interdependência com a sociedade, se desprezam e não se reconhecem. Aqueles que estão fora do contexto de funcionalidade interpessoal são chamados de outsiders, segundo Elias.
Dessa forma os estabelecidos acabaram excluindo os novos residentes do seu convívio social, com exceção do relacionamento profissional. Todo esse incômodo contra os outsiders era reforçado através de fofocas elogiosas e depreciativas.
Através desses apontamentos, Norbert Elias investiga sistematicamente os motivos que levaram um grupo a manter a crença de superioridade perante o outro que era marginalizado. Segundo Elias, “um grupo só pode estigmatizar o outro com eficácia quando está bem instaurado em questões de poder dos quais o grupo estigmatizado é excluído”.
Dessa forma os estabelecidos retaliam quando qualquer ato que faça sentir que os seus poderes estão sendo ameaçados. Sendo assim, os mesmos ofendem e humilham os outsiders por não compartilharem dos mesmos valores daquela ordem vigente. O uso dessa pequena cidade poderia ser utilizado como forma de entendimento diante de uma sociedade mais abrangente, mas desde que fossem feitos os devidos ajustes do método aplicado.
Na verdade, a exclusão e coesão eram causadas como forma de os estabelecidos preservarem sua identidade e manter o status quo. O autor relata que não se trata exclusivamente de um preconceito de caráter individual, mas principalmente de um preconceito social.
Os outsiders são estigmatizados pelos grupos dominantes, esses considerados civilizados. Por “civilizado” entendem-se os considerados estabelecidos, segundo análise de Norbert Elias. Eles são comumente conhecidos como mais cultos, mais civilizados, mais decentes e que enxergam os outsiders dentro de uma categoria geral. Essa generalização por vezes provoca, em contrapartida, a repulsa por parte das próprias minorias em aceitar seus rótulos e estereótipos. “Os civilizados” se legitimam a partir de uma história em comum, memórias, parentescos e políticas de favores, onde estabelecem uma consistente articulação global.
O livro trata de ver como o grupo “estabelecido” na aldeia, o grupo que se encontrava há mais tempo naquele lugar, relacionava-se com o grupo dos que chegaram mais tarde e eram vistos pelos antigos moradores do lugar como outsiders, isto é, como gente de fora e, por essa razão, sem direitos de plena cidadania na vida local.
Os outsiders, portanto, sempre foram vistos como aqueles de comportamento desviante. Entende-se por desviante o sujeito que não age, comporta-se ou veste aquilo que a maioria aceita ou entende como padrão.
Como vimos nesse módulo, mulheres, idosos, portadores de necessidades especiais, homossexuais são vistos, cada um no seu contexto como outsiders, e grupos que vivem “como se tivessem chegado depois”, como se seus direitos fossem mais limitados, ou muitas vezes quase sem direitos, e, por isso, necessitam de reconhecimento.
ANTHONY GIDDENS
O sociólogo inglês Anthony Giddens (1938- ) busca entender como se dá a relação entre o indivíduo e a sociedade no contexto da modernidade. Giddens vai apontar que os agentes (os indivíduos) e as estruturas estabelecem entre si uma relação de correlação, em outras palavras, as duas partes são capazes de gerar influência uma sobre a outra.
O sociólogo entende que as estruturas com suas regras, leis, normas e práticas exercem cotidianamente influência sobre o indivíduo. Entretanto, e aqui é o centro de sua análise, o indivíduo na modernidade, através da reflexividade é capaz de pensar e refletir sobre suas práticas, e mais, dessa forma, transformar as estruturas que agem sobre ele. Giddens vai destacar que a frequente evolução das tecnologias de informação reforça esse movimento reflexivo.
RICHARD SENNETT
O sociólogo nascido nos Estados Unidos vai buscar compreender como a sociedade capitalista contemporânea vai influenciar no indivíduo, na sua relação com a sociedade, na sua sociabilidade e até na formação da sua identidade individual.
Sennett (1943- ) vai construir sua análise apontando que a formação da sociedade atual passou por um processo no qual a dimensão do público foi fortemente valorizada e necessária. Foi preciso que os indivíduos se entendessem como parte de algo coletivo, de pertencimento a uma esfera pública com leis, normas, práticas e hábitos que alcançassem a todos.
Por outro lado, Sennett vai apontar que o mundo contemporâneo apresenta um fenômeno no qual cada vez mais aquela dimensão coletiva vai perdendo força e importância e, ao contrário, a dimensão individual vem sendo mais valorizada.
Esse movimento de valorização da esfera individual tem como consequência a construção de uma sociedade de consumo. Nesse cenário, a formação da esfera individual passa de maneira muito forte pelo que esse indivíduo consome; a construção da identidade passa pelo que é consumido. E Sennett avança nesse debate apontando para algo muito concreto nos tempos atuais: é um consumo que se pauta na busca do novo, da novidade, em detrimento daquilo que é antigo.