CLASSES GRAMATICAIS VI – MORFOLOGIA VERBAL (EMPREGOS EXPRESSIVOS DOS VERBOS)
Aprenda sobre Morfologia Verbal – Empregos Expressivos dos Verbos.
Te devoro (Djavan)
Teus sinais
Me confundem da cabeça aos pés
Mas por dentro eu te devoro
Teu olhar
Não me diz exato quem tu és
Mesmo assim eu te devoro
Te devoraria a qualquer preço
Porque te ignoro ou te conheço
Quando chove ou quando faz frio
Noutro plano
Te devoraria tal Caetano
A Leonardo Di Caprio
É um milagre tudo o que Deus criou
Pensando em você
Fez a Via Láctea
Fez os dinossauros
Sem pensar em nada
Fez a minha vida
E te deu
Sem contar os dias
Que me faz morrer sem saber de ti
Jogada à solidão
Mas se quer saber
Se eu quero outra vida, Não, não
Eu quero mesmo é viver
Pra esperar, esperar
Devorar você
Observe que, no texto acima, há palavras que expressam ações – confundem, devoraria, diz, chove, fez etc. São os verbos, como sabemos. Veja também que outros verbos exprimem estado, qualidade, condição.
Leia também os versos de um poema concretista, que busca o efeito expressivo, explorando a sonoridade das palavras e o espaço gráfico.
FORMA
REFORMA
DISFORMA
TRANSFORMA
CONFORMA
INFORMA
FORMA
(Poema sem título, de José Lino Grunewald, de 1960. In: Philadelpho Menezes, Poesia concreta e visual Roteiro de Leitura. São Paulo, Ática, 1998.)
Observe que, em cada verso do poema, temos uma palavra expressando uma ação: forma, reforma, disforma, transforma, conforma, informa e, novamente, forma. Palavras desse tipo expressam uma visão dinâmica dos seres, situando-os no tempo, conferindo algum aspecto às suas ações. Essas são características expressivas do verbo.
Ao analisar um tempo verbal, é importante considerar que ele pode indicar seu valor específico ou um outro valor, o chamado aspecto verbal, decorrente de seu uso no idioma. Tanto aspecto quanto tempo são noções que se referem à temporalidade dos acontecimentos, porém, sob diferentes perspectivas.
O tempo localiza os fatos na linha temporal em relação ao momento da enunciação (passado, presente, futuro). O aspecto marca a duração do fato.
PRINCIPAIS ASPECTOS VERBAIS
• Pontual ou momentâneo: o processo é instantâneo, súbito, como em: abocanhar, achar, apagar, cair, deitar-se, piscar, saltar e sair.
Bebi o café e saí.
• Durativo, cursivo ou progressivo: o processo está em desenvolvimento, isto é, continua depois que se inicia.
Ele vive reclamando.
Está dormindo.
Você anda estudando muito.
(Em Portugal, este aspecto é marcado pela construção “está a”: Ela está a conversar com o amigo.).
• Permansivo: o processo terminou, mas seus resultados continuam por determinado tempo, como em: adoecer, aprender, castigar, empalidecer, odiar, parar e saber.
Pedro aprendeu a lição.
• Incoativo ou inceptivo: denota que o processo começou, como em: brotar, decolar, despontar e embarcar. Pode ser expresso pelo sufixo -ecer, como amanhecer ou anoitecer, e pelos auxiliares começar a, desatar a, entrar a, passar a, pôr-se a, principiar a (todos com infinitivo).
Começamos a estudar Literatura.
• Conclusivo ou cessativo: sinaliza que o processo terminou, como em acabar, acordar, ancorar, aportar, chegar, concluir, morrer e terminar. Pode, ainda, ser expresso por auxiliares, como: acabar de, deixar de, desistir de, cessar de, parar de (todos com infinitivo).
Ela acabou de entrar.
Pedro já viu o filme.
• Iterativo ou frequentativo: o processo se repete, como em: abanar, bombardear, chuviscar, galopar, navegar e passear.
Chuviscava sem parar.
• Iminencial: a ação é iminente, está prestes a acontecer (estar e ir – ambos regidos de preposição a ou para)
Ela está para viajar
VERBOS IMPESSOAIS E UNIPESSOAIS
Sabemos que, em geral, os verbos indicam ações ou estados que, de alguma maneira, ligam-se às pessoas do discurso e assim são conjugados. Entretanto, alguns verbos, por força de sua significação, acabam não sendo conjugados em todas as pessoas.
Não é, neste caso, uma questão de ausência de uma forma por sua impossibilidade de conjugação por motivos fonéticos ou morfológicos, como ocorre com os defectivos. É, em verdade, uma questão relativa à significação de tais verbos e sua impossibilidade de conjugação.
Os verbos impessoais não fazem referência a nenhuma pessoa do discurso e costumam indicar fenômenos naturais e aqueles independentes da ação ou da vontade humanas. Os principais casos são os de fenômenos da natureza, do verbo haver e do verbo fazer.
FENÔMENOS DA NATUREZA
Verbos como anoitecer, ventar, chover etc. são conjugados apenas nas terceiras pessoas, bem como aqueles verbos que estejam com essa significação contextual.
Chove lá fora e aqui faz tanto frio. (Lobão)
Perceba que o verbo chover indica um fenômeno típico da natureza, e o verbo fazer, que normalmente não tem essa atribuição, também indica um fenômeno: fazer frio, sendo, nesse caso, impessoal.
HAVER
O verbo haver, quando indica existência, também não possui sujeito e somente será conjugado na terceira pessoa do singular.
Havia muitos alunos no pátio.
FAZER
O verbo fazer também pode apresentar-se como impessoal, quando, como vimos, expressa um fenômeno da natureza, mas também quando indica tempo decorrido, caso no qual também só se usa na terceira pessoa do singular.
Faz dois anos que não vejo meus tios.
VERBOS UNIPESSOAIS
Já os verbos unipessoais são aqueles que se conjugam apenas nas terceiras pessoas, tanto do singular quanto do plural, e apresentam um sujeito. No entanto, é comum que esses sujeitos sejam não humanos, correspondendo o verbo, assim, a vozes e ações típicas de animais:
Os cães latiam sem parar ante a presença daquele misterioso homem.
Evidentemente, em linguagem conotativa ou em fábulas e narrativas alegóricas, pode-se conjugar estes verbos em outras pessoas.
O rapaz rosnava xingamentos de raiva diante da negativa das autoridades.
O gato acusou-se: fui eu que miei na hora errada.
Outro caso de unipessoalidade ocorre com verbos que se usam na terceira pessoa do singular para que funcionem como uma oração com função de sujeito. Verbos como ocorrer, convir, custar, acontecer, etc. são exemplos dessas ocorrências.
Convém que esperemos a chuva passar.
Custou-me a crer nesta atitude dele.
VOZES VERBAIS
Dá-se o nome de voz verbal à forma assumida pelo verbo para indicar a posição do sujeito frente ao processo que se enuncia. Assim, o sujeito pode apresentar a posição de agente (quem pratica a ação) ou de paciente (quem sofre a ação) de uma ação verbal, dando origem às três vozes do verbo:
Voz ativa
O sujeito é o agente da ação verbal.
Nesse caso, o sujeito é o paciente da ação verbal, isto é, recebe a ação expressa pelo verbo. A voz passiva pode apresentar-se em dois modos de organização diferentes: voz passiva analítica ou voz passiva sintética.
• Analítica – formada por verbo auxiliar + particípio passado do verbo principal.
Observe que o verbo auxiliar está conjugando no mesmo tempo, aspecto e modo do período correspondente na voz ativa.
• Sintética – formada por verbo na 3ª pessoa + se (partícula apassivadora).
O agente da passiva é um termo que, frequentemente, não vem expresso na voz passiva sintética. Uma informação fundamental para o entendimento da voz passiva sintética é que apenas os verbos transitivos diretos podem fazer voz passiva. Isso acontece porque é o objeto direto da voz ativa que se tornará o sujeito da frase passiva.
Voz reflexiva
O sujeito é, ao mesmo tempo, agente e paciente, isto é, pratica e sofre a ação verbal.
OBSERVAÇÃO
Existe uma particularidade que ocorre na voz reflexiva quando o sujeito está no plural ou é composto, chamada de voz reflexiva de reciprocidade ou, simplesmente, voz recíproca.
A particularidade dessa voz acontece porque o entendimento é de que cada um dos sujeitos não é paciente de sua própria ação, mas de uma ação igual praticada pelo outro elemento do sujeito. Assim, sabemos que a mãe abraçou o filho e vice-versa, caracterizando assim a reciprocidade. Com a compreensão simples de uma voz reflexiva a mãe teria abraçado a si própria e o filho teria feito o mesmo.