CLASSES GRAMATICAIS : SUBSTANTIVOS
Os substantivos nomeiam os seres, as coisas, os sentimentos; os adjetivos indicam as características que os substantivos podem ter.
Observe o texto abaixo, de Mário Quintana, com uma linguagem composta de adjetivos.
E havia uma gramática que dizia assim:
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou coisa: João, sabiá, caneta.”
(…)
Mas o bom, mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
O poeta cita os substantivos e os adjetivos. Os substantivos nomeiam os seres, as coisas, os sentimentos; os adjetivos indicam as características que os substantivos podem ter. Substantivo e Adjetivo são duas classes de palavras estudadas pela Morfologia.
CLASSIFICAÇÃO DAS PALAVRAS
Podemos classificar uma palavra de acordo com três critérios: semântico, morfológico e sintático. Veja cada um deles:
• Semântico: é a finalidade do sentido que a palavra apresenta.
• Sintático: é a relação que a palavra mantém com outras palavras em um mesmo enunciado.
• Flexional: é a capacidade de variação que a palavra apresenta.
A combinação destes critérios dá origem à classificação morfossintática das palavras, que as separa em categorias, segundo as características que são peculiares a cada uma delas. Assim surgem dez classes gramaticais: artigo, substantivo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, conjunção e interjeição. Diferenciá-las vai nos exigir a utilização dos critérios mencionados.
São dez as classes de palavras na Língua Portuguesa, que podem ser visualizadas no esquema abaixo, combinando-se os três critérios apresentados:
SINTAGMAS
Sintagmas são grupos de signos linguísticos, de palavras, que aparecem em sequência e constituem uma unidade. Desta forma, os vocábulos que compõem a unidade sintagmática se organizam em torno de um núcleo; dependendo do núcleo, podemos falar em sintagma nominal e sintagma verbal.
Exemplo:
• Um verdadeiro amor nunca morre. – sintagma nominal
• Um verdadeiro amor nunca morre. – sintagma verbal
DEFININDO O SUBSTANTIVO
Ora, se utilizarmos os critérios apresentados para classificar o substantivo, poderemos afirmar que se trata de uma palavra variável com a qual se nomeiam os seres em geral, funcionando como núcleo de termos essencialmente nominais.
Quanto à variação, os substantivos podem flexionar-se em número (singular/plural) e gênero (masculino/feminino). Quanto à designação, o substantivo significa as substâncias, qualidades, estados ou processos, tomados como seres. Por sua função nuclear, desempenha os papéis de núcleo do sujeito, do objeto, do complemento nominal e, por vezes, do predicativo.
CLASSIFICAÇÕES DO SUBSTANTIVO
O substantivo classifica-se quanto à composição em simples e composto; quanto à formação, em primitivos e derivados; quanto à extensão, em comuns e próprios; quanto à designação, em concretos e abstratos. Ainda há o substantivo coletivo, um tipo de substantivo comum que representa grupos de seres ou coisas da mesma espécie.
• SUBSTANTIVOS SIMPLES
São aqueles que possuem apenas um radical. Ex.: pedra, pedreiro, jogo, Justiça etc.
• SUBSTANTIVOS COMPOSTOS
São aqueles formados por dois ou mais radicais. Ex: paraquedas, mandachuva, girassol, guarda-roupas etc.
• SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS
São os substantivos que não se originam de nenhum outro e dão origem a novas palavras. Ex.: pedra, mar, sal etc.
• SUBSTANTIVOS DERIVADOS
São aqueles que têm origem em outro vocábulo. Ex.: pedreira, Marinha, saleiro etc.
• SUBSTANTIVOS CONCRETOS
Representam “figuras”, isto é, designam seres de existência independente, ou que o pensamento apresenta como tal. Não importando se reais ou imaginários, materiais ou espirituais. Nomeiam pessoas, lugares, animais, vegetais, minerais e coisas. Ex.: alma, corpo, dragão, sereia, Brasil, Cuba, Deus, ar etc.
• SUBSTANTIVOS ABSTRATOS
Designam seres de existência dependente. São aqueles que nomeiam uma qualidade, ação, estado, considerados como seres, imaginados independentemente dos seres que provém, ou em que se manifestam. Ex.: política, alegria, justiça, velhice, doença, amor etc.
OBSERVAÇÃO
Alguns substantivos abstratos podem passar a concretos, em um processo chamado personificação. Ocorre, por exemplo, em morte (o estado de perda de vida) e Morte (a figura sinistra representada por uma caveira que segura uma foice).
• SUBSTANTIVOS COMUNS
São aqueles que designam totalidade dos seres de uma espécie ou uma abstração (designação genérica). Ex.: homem, rio, urso etc.
• SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS
Designam um determinado indivíduo da espécie (designação específica).
Exemplo: Roger, Amazonas, Catatau etc.
Os substantivos próprios ainda podem classificar-se em antropônimos, quando se aplica a pessoas que, em geral, têm prenome e sobrenome ou apelido; ou em topônimos, quando se referem a lugares e acidentes geográficos.
OBSERVAÇÃO
É bastante comum a passagem de substantivos próprios a comuns, seja pelo preço que as personalidades históricas pagam por suas características, atos ou feitos.
Exemplo: Aquela pessoa é um judas. (judas = traidor, falso amigo); O rapaz é um don juan. (don juan = galanteador, conquistador de mulheres).
O mesmo também pode ocorrer com marcas ou lugares de fabricação de produtos.
Exemplo: sanduíche, champanha, gilete etc.
• SUBSTANTIVOS COLETIVOS
São substantivos comuns que mesmo no singular representam um conjunto ou coleção de seres de uma mesma espécie. Há coletivos que se consideram universais, como povo, passarada, casario e outros particulares, como vinhedo, laranjal. Alguns coletivos, como nomes de bando, aplicam-se de maneira definida (cardume, alcateia, enxame) e, assim, dispensam a locução adjetiva que lhes possa acompanhar. Outros, ao contrário, por se aplicarem de forma indefinida (grupo, bando, conjunto), necessitam de uma locução que lhes forneça um sentido mais específico: bando de aves etc.
Segue abaixo uma pequena lista de coletivos. É interessante lembrar que de pouco vale a memorização de tais palavras, valendo a lista como um acréscimo de informação, não como necessidade.
É importante ressaltar que existem coletivos numéricos que se associam aos numerais, por expressar uma quantidade, uma coleção de elementos em um número exato, como par, casal, terno, dúzia, dezena, grosa, centena, milheiro, novena, década, etc. Alguns autores excluem tais palavras dos substantivos, classificando-os como numerais coletivos.
FLEXÕES DO SUBSTANTIVO
Vimos que o substantivo é uma categoria variável em gênero e número. Apesar de a flexão indicar a diferença entre dois gêneros, masculino e feminino, ou seja, substantivos biformes, sujeito à flexão desinencial. Alguns outros substantivos serão classificados também pela invariabilidade flexional, isto é, substantivos uniformes, mas com referência a seres de gêneros distintos.
Estudaremos também as dúvidas frequentes entre os gêneros vacilantes de palavras e suas aplicações segundo as regras da NGB.
Quanto ao número, caberá indicar os processos de flexão das palavras simples e compostas, bem como fenômenos inerentes ao plural, como metafonia, duplo plural e pluralização pelos determinantes, além daquelas palavras que se usam apenas no plural.
Ainda dentro de flexões, falaremos de grau dos substantivos, assunto controverso, já que a NGB considera-o como flexão apesar de a maioria dos gramáticos discordar de tal classificação.
GÊNERO DOS SUBSTANTIVOS
Gênero é uma classificação puramente gramatical, que divide os substantivos em dois grupos: masculinos e femininos, que assim são classificados segundo seus determinantes. Ocorre, no entanto, uma nítida confusão entre gênero e sexo em nossa classificação. Por isso, aqui se adota uma classificação distributiva em classes mórficas, baseadas na possibilidade de flexão da palavra e em sua determinação.
Desta forma, teremos substantivos uniformes de gênero único, de dois gêneros e substantivos biformes (flexionados). Vejamos sistematicamente tal classificação:
• SUBSTANTIVOS BIFORMES – FLEXIONADOS
A esse grupo pertencem os substantivos masculinos e femininos capazes de estabelecer flexão por suas desinências.
– Masculino – substantivo a que se pode antepor artigo masculino. Ex.: o gato, um conde, o professor etc.;
– Feminino – substantivo de mesmo radical flexionado por desinência ou sufixo. Ex.: a gata, uma condessa, a professora etc.
• SUBSTANTIVOS UNIFORMES
a) de gênero único
São os substantivos masculinos e femininos que não se flexionam através de desinência ou sufixo. Alguns guardam formas heterônimas atribuídas equivocadamente como “flexão” de feminino.
– Masculino – substantivo a que se pode antepor artigo masculino. Ex.: o homem, um bode, o barco etc.;
– Feminino – substantivo a que se pode antepor um artigo feminino. Ex.: a mulher, uma cabra, a barca etc.
b) de referência a mais de um gênero
– Comum de dois – substantivo uniforme a que se pode antepor artigo masculino ou feminino. Ex.: o/a artista, o/a estudante, o/a camarada, o/a mártir, o/a doente, e aqueles terminados em –ista: o/a dentista
– Sobrecomuns – substantivo uniforme ao qual se pode apenas antepor um tipo de artigo, mas que se refere a pessoas de ambos os sexos. Ex.: a criança (menino/menina), a testemunha (homem/mulher), o algoz, o carrasco, o cônjuge, a criatura, o ente, o indivíduo, a pessoa, o ser, o verdugo, a vítima.
– Epicenos – substantivo uniforme ao qual se pode apenas antepor um tipo de artigo, mas que se refere a animais ou vegetal de ambos os sexos. Ex.: a onça (macho/fêmea), a cobra (macho/fêmea).
c) substantivos heterônimos
Os substantivos heterônimos possuem duas formas com radicais diferentes, uma para a designação do feminino e outra para o masculino.
d) outras marcações de gênero
Algumas palavras podem causar dúvida quanto a seu gênero, por isso as tabelas abaixo tornam-se importantes:
Em alguns substantivos, a mudança de gênero leva à mudança de significado:
NÚMERO DOS SUBSTANTIVOS
Número é o acidente gramatical que indica a quantidade de seres nomeados por um substantivo. Além disso, faz referência aos objetos substantivos considerando-os na sua unidade da classe a que pertencem (singular), ou no conjunto de dois ou mais objetivos da mesma classe (plural).
FORMAÇÃO DO PLURAL – SUBSTANTIVOS SIMPLES
• Os substantivos terminados em vogal ou ditongo são acrescidos de -s a sua forma singular.
Exemplo: garoto – garotos, mesa – mesas, moça – moças
• Os substantivos terminados em -ão apresentam três possibilidades:
– A maior parte deles (entre os quais se incluem todos os aumentativos) muda a terminação para -ões:
– Um número bastante reduzido de substantivos apresenta o plural em -ães.
– Poucos oxítonos e todos os paroxítonos seguem a regra do acréscimo simples de -s.
– alguns substantivos apresentam mais de uma forma flexionada no plural:
• Os substantivos terminados em consoante formam plural acrescentando-se -es ao singular.
Exemplo: mar – mares, feliz – felizes, gravidez – gravidezes.
• Alguns substantivos terminados em consoante possuem flexão diferente:
– Paroxítonos terminados em -s e -x não possuem marca de número próprio, dependendo de seus determinantes para pluralizá-los.
Exemplo: o lápis – os lápis, o atlas – os atlas, o tórax – os tórax;
– Substantivos terminados em -al, -el, -ol, -ul substituem o -l por -is.
Exemplo: animal – animais, papel – papéis, farol – faróis;
OBSERVAÇÃO
Excetuam-se as palavras mal, cônsul e seus derivados, que fazem plural respectivamente em males e cônsules.
– Substantivos oxítonos terminados em -il mudam o -l em -s.
Exemplo: barril – barris, fuzil – fuzis;
– Substantivos paroxítonos terminados em -il substituem essa terminação por -eis.
Exemplo: fóssil – fósseis, réptil – répteis;
– Os monossílabos cais, dez e xis são invariáveis;
– Alguns substantivos apresentam modificação da sílaba tônica como caráter/caracteres, júnior/juniores, sênior/seniores.
– A palavra qualquer apresenta o plural quaisquer.
PLURAL DOS NOMES TERMINADOS POR SUFIXO DIMINUTIVO ZINHO OU ZITO
Nesse caso, deve-se separar o radical da palavra, flexioná-la e acrescentar a desinência ao sufixo diminutivo:
BALÃOZINHO
BALÃO +ZINHO
BALÕE(S)+ZINHO
BALÕEZINHOS
Daí os plurais pãezinhos, barezinhos, florezinhas, hoteizinhos, chapeuzinhos etc.
PLURAL COM ALTERAÇÃO DE TIMBRE DA VOGAL TÔNICA
Alguns substantivos quando pluralizados apresentam uma alteração na vogal “o” tônica que apresentam seu timbre fechado no singular e torna-se aberto no plural. A esse fenômeno damos o nome de metafonia. Segue uma lista das palavras mais usuais em que ocorre tal mudança:
FORMAÇÃO DO PLURAL – SUBSTANTIVOS COMPOSTOS
• Substantivos compostos que formam vocábulo único seguem a mesma regra dos substantivos.
Exemplo: girassol – girassóis.
• Substantivos compostos por palavras separadas por hífen ou não, em regra geral, variam normalmente, flexionando-os separadamente e posteriormente os reunindo.
Exemplo: amor-perfeito – amores-perfeitos; abaixo-assinado – abaixo-assinados
OBSERVAÇÃO
Cuidado com o substantivo alto-falante, pois alto, nesse caso, tem valor adverbial e é invariável, portanto: alto-falantes.
• Verbo, normalmente, permanece no singular.
Exemplo: beija-flor – beija-flores
• Quando o segundo elemento limita o significado do primeiro, isto é, indica-lhe semelhança ou finalidade, somente o primeiro elemento flexiona-se.
Exemplo: caneta-tinteiro – canetas-tinteiro (canetas do tipo tinteiro); banana-maçã – bananas-maçã (bananas do tipo maçã).
• Quando a palavra composta é unida por preposição, somente o primeiro elemento varia.
Exemplo: pé de moleque – pés de moleque; mula sem cabeça – mulas sem cabeça.
• Em compostos de palavras repetidas ou que reproduzam sons, apenas o segundo elemento irá para o plural.
Exemplo: tique-taque – tique-taques.
OBSERVAÇÃO
Caso as palavras repetidas sejam verbos, o composto aceitará duas flexões.
Exemplo: pega-pega – pega-pegas /pegas-pegas.
Caso o segundo verbo seja o oposto do primeiro, a palavra é invariável.
Exemplo: o perde-ganha – os perde-ganha.
• Permanecem invariáveis as frases substantivadas e os compostos de tema verbal e palavra invariável. Ex.: o disse me disse/ os disse me disse, o cola-tudo/os cola-tudo.
GRAU DOS SUBSTANTIVOS
A bem da verdade, o grau não constitui uma flexão do substantivo, já que, tomada ao rigor gramatical, a flexão provoca concordância, o que exclui o grau do rol das flexões. É, na realidade, um processo de adjetivação ou, quando muito, um caso de derivação.
Assim, o substantivo pode apresentar-se
• com a sua significação normal: chapéu, boca
• com intensificação de seu significado, grau aumentativo: chapelão, bocarra, chapéu grande, boca enorme
• com atenuação ou valorização afetiva, grau diminutivo: chapeuzinho, boquinha, chapéu pequeno, boca minúscula.
Se analisarmos o processo gramaticalmente, teremos:
• aumentativo e diminutivo sintéticos – através do uso de sufixos.
• aumentativo e diminutivo analíticos – através do uso de adjetivos.
FUNÇÃO DO SUBSTANTIVO
Do ponto de vista funcional, o substantivo exerce a função de núcleo dos sintagmas nominais das orações, ou seja, os
substantivos são núcleos dos termos da oração.
Verifique os exemplos abaixo:
• sujeito: O homem realizou a tarefa.
• objeto direto: Chamei o homem.
• objeto indireto: Não confiou no homem.
• predicativo do sujeito: Você não parece homem.
• predicativo do objeto: Não considero você um homem imortal.
• complemento nominal: Barata tem medo de homem.
• adjunto adnominal: Isto não é atitude de homem.
• adjunto adverbial: Não sairei com aquele homem.
• agente da passiva: Meu coração foi conquistado por aquele homem.
• aposto: Hagar, homem corajoso, buscava a imortalidade.
• vocativo: Homem, busque a imortalidade!