Probabilidade
A partir de agora começaremos a falar de probabilidade. É muito importante salientar que calcular probabilidade é estimar as chances de algo acontecer. Mas não podemos ter certeza se isso vai realmente ocorrer ou não.
INTRODUÇÃO
A partir da observação dos eventos de um espaço amostral, podemos medir se um evento tem grandes chances de acontecer ou não.
Assim, calcular probabilidade é comparar as chances de um evento ocorrer em relação a todas as possibilidades possíveis. Quanto maior for o evento em um espaço amostral, maior será a probabilidade de ele ocorrer. Maior será a porcentagem de chance de seu acontecimento.
DEFINIÇÃO DE PROBABILIDADE
Seja um espaço amostral equiprovável, finito e não vazio, e seja A um evento.
A probabilidade do evento A ocorrer, simbolizaremos por P(A), será definida por:
P(A) = n(a)/n(Ω)
Exemplo 1:
No lançamento de um dado “honesto”, qual a probabilidade de na face superior ocorrer um número par?
Resolução:
Espaço amostral: = {1, 2, 3, 4, 5, 6}. Logo n(Ω) = 6
Evento A: resultado par = {2, 4, 6}. Logo n(A) = 3
Assim, P(A) = n(A)/n(Ω) ⇒ P(A) = 3/6 = 1/2
OBSERVAÇÃO
É muito comum representarmos a probabilidade como porcentagem. Assim, no exercício anterior, P(A) = 1/2 = 0,5 = 50%
Exemplo 2:
Ao se arrumar as letras D, A, V, I, qual a probabilidade de se formar a palavra “VIDA”?
Resolução:
O evento que nos interessa só tem um elemento, que é a palavra VIDA.
Os casos possíveis que existem são todas as permutações dessas 4 letras, que é 4! = 24.
Dessa forma, a probabilidade pedida será 1/24.
Exemplo 3:
Em um baralho, retiram-se 4 cartas. Qual a probabilidade que exatamente duas sejam de reis?
Resolução:
O baralho possui 52 cartas, sendo 4 reis e 48 não reis.
Evento que nos interessa: E = {grupo de 4 cartas, sendo 2 reis e 2 não reis}.
Os 2 reis serão escolhidos entre os 4 reis do baralho. Isso pode
ser feito de C⁴,² modos.
As outras duas cartas serão escolhidas entre as 48 que não são reis do baralho. Sendo C⁴⁸,² casos.
Como queremos 2 reis e 2 não reis, pelo princípio multiplicativo, teremos C⁴,2 . C⁴⁸,² = 6 . 1128 = 6768
O espaço amostral é o total de grupos de 4 cartas.
Ora, temos 52 cartas e escolheremos 4, assim teremos C⁵²,⁴ , 270725 casos possíveis.
Dessa forma, a probabilidade pedida será: 6768/270725
PROPRIEDADES
Seja um espaço amostral finito e não vazio, e sejam A e B eventos. Dessa forma, valem as seguintes propriedades:
a) P(∅) = 0 (∅ é chamado de evento impossível, pois ele nunca ocorre).
b) P(Ω) = 1(Quando o evento que coincide com o espaço amostral, é chamado de evento certo, pois ele sempre ocorre).
c) 0 ≤ P(A) ≤ 1
d) P(AUB) = P(A) + P(B) – P(A∩B) (chamada de adição de probabilidades).
e) P(A) = 1 – P(A) (chamada de probabilidade complementar).
Demonstração das propriedades:
a) P(∅) = n(∅)/n(Ω) = 0/n(∅) = 0
b) P(Ω) = n(Ω)/n(Ω) = 1
c) Como ∅ ⊂ A ⊂ Ω, temos n(∅) ≤ n(A) ≤ n(Ω)
Dividindo ambos os membros da desigualdade por n(Ω), temos:
n(∅)/n(Ω) < n(A)/n(Ω) < n(Ω)/n(Ω), logo 0 < P(A) < 1.
d) Das relações entre conjuntos, sabemos que n(A ∪ B) = n(A) + n(B) – n(A ∩ B)
Dividindo ambos os membros da desigualdade por n(Ω), temos:
n(A ∪ B)/n(Ω) = n(A)/n(Ω) = n(B)/n(Ω) = n(A ∩ B)
Portanto:
P(A∪B) = P(A) + P(B) – P(A∩B)
e) Sabemos que A ∩ A = ∅ e A ∪ A = Ω e, dessa forma, n (A ∩ A) = n (∅) = 0 e n(A ∪ A) = n(Ω).
Mas
n(A ∪ A) = n(A) + n(A) – n(A ∩ A)
n(Ω) = n(A) + n(A) – 0
n(Ω) = n(A) + n(A)
Dividindo ambos os membros da igualdade por n(Ω), temos:
1 = P(A) + P(A), em que P(A) = 1 – P(A).
EXERCÍCIO RESOLVIDO
01. Para a rifa de um computador, foram vendidos mil bilhetes, numerados de 1 a 1.000, dos quais apenas um será premiado por sorteio. Zeca comprou os bilhetes de números 233, 234, 235, 236 e 237. A probabilidade de um dos bilhetes de Carlos ser sorteado é?
a) 5/200
b) 4/200
c) 3/200
d) 2/200
e) 1/200
Resolução: E
Observe que Zeca tem 5 bilhetes dentre mil. Dessa forma, a probabilidade de Zeca ser premiado é dada por P(ganhar) = 5/1000 = 1/200.
02. Mariana faz uma brincadeira com sua irmã. Recorta quatro pedaços de papel, e em cada um coloca uma das letras A, O, M, R. Em seguida coloca os quatro pedaços em uma caixa. Sacode e pede para sua irmã retirar os quatro pedaços, um de cada vez. Determine a probabilidade de que as letras sejam retiradas em ordem, formando a palavra AMOR. Isto é, qual a probabilidade de sair primeiro a letra A, seguida da letra M, seguida da letra O e por último sair a letra R?
a) 1/24
b) 1/16
c) 1/12
d) 1/8
e) 1/4
Resolução: A
Observe que Mariana estipulou uma única sequência de letras para serem retiradas, mas o total de formas que isso pode ser feito é 4! = 24 (permutação das quatro letras) portanto a probabilidade pedida é dada por P = 1/24
03. Uma urna contém 5 bolas pretas e 4 bolas brancas. Retirando-se, simultaneamente, duas bolas, determine a probabilidade de ambas serem pretas.
Resolução:
A retirada de duas bolas pretas pode ser feita de C⁴,² = 4!/2!2! = 6 maneiras enquanto que a retirada de duas bolas quaisquer pode ser feita de C⁹,² = 9!/7!2! = 36 maneiras.
Dessa forma, a probabilidade pedida é dada por P=6/36=1/6.
04. Escolhendo-se ao acaso um dos meses do ano, qual a probabilidade de que esse mês tenha 32 dias?
a) 12/32
b) 4/32
c) 3/31
d) 3/17
e) 0
Resolução:
Como nenhum dos doze meses do ano possui 32 dias a probabilidade desse vento é zero. Chamamos esse caso de
evento impossível.
PROBABILIDADE CONDICIONAL
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral equiprovável, finito e não vazio. Iremos usar o símbolo P(A/B) para representar a probabilidade do evento A ocorrer, sabendo que o evento B já aconteceu. Chamaremos de probabilidade condicional, uma vez que, nesse caso, o evento A ocorrer está condicionado à ocorrência do evento B. Dessa forma, B passa a ser o novo espaço amostral. Isso nos motiva a seguinte definição:
P (A|B) = n(A ∩ B)/n(B), desde que n(B) ≠ 0.
Na igualdade anterior, se dividirmos numerador e denominador por n(Ω), teremos:
Assim, podemos também calcular a probabilidade condicional através da fórmula:
P (A|B) = P(A ∩ B)/P(B) , desde que P(B)≠ 0.
Concluímos, então, que temos duas maneiras de calcular a probabilidade condicional P(A/B).
É importante salientar que, em geral, resolveremos os problemas de probabilidade condicional sem preocupação com fórmulas novas, e sim usando o conceito inicial de probabilidade, com o devido cuidado em designar o conjunto que cumprirá o papel de espaço amostral.
05. Numa cidade, 400 pessoas foram classificadas, segundo sexo e estado civil, de acordo com a tabela abaixo:
Uma pessoa é escolhida ao acaso, calcule a probabilidade de que ela seja solteira, sabendo que ela é do sexo masculino.
Resolução:
Considere os seguintes eventos:
S = conjunto das pessoas solteiras
M = conjuntos das pessoas do sexo masculino
Estamos interessados em calcular a probabilidade do evento S ocorrer, sabendo que o evento M já aconteceu. Isto é, escolhendo-se um homem ao acaso, qual a probabilidade de ele ser solteiro?
Nesse caso, o conjunto das pessoas do sexo masculino passa a ser nosso novo espaço amostral. Pela tabela temos n(M) = 40.
Estamos interessados no evento, homem e solteiro. Como existem 10 homens solteiros, n(S ∩ M) = 10.
Assim, a probabilidade pedida será P(S|M) = n(S ∩ M)/n(M)
P(S|M) = 10/40 ⇒ 1/4
06. Um grupo de 30 pessoas é classificado de acordo com o sexo e a cor dos olhos, de acordo com a tabela.
Uma pessoa é escolhida ao acaso, calcule a probabilidade de:
a) ser do sexo masculino;
b) ser do sexo masculino, sabendo que tem olhos azuis.
Resolução:
M = conjunto das pessoas do sexo masculino.
A = conjuntos das pessoas com olhos azuis.
a) a probabilidade de ser do sexo masculino é imediata,
P(M) = 10/30 = 1/3
b) Estamos interessados em calcular a probabilidade do evento M ocorrer, sabendo que o evento A já aconteceu.
Isto é, escolhendo-se uma pessoa de olhos azuis ao acaso, qual a probabilidade de ser homem?
Nesse caso, o conjunto das pessoas de olhos azuis passa a ser nosso novo espaço amostral. Pela tabela temos n(A) = 6.
Estamos interessados no evento, homem com olhos azuis. Como existe apenas 1 homem com olhos azuis, n(M ∩ A) = 1.
Assim, a probabilidade pedida será P(M|A) = n(M ∩ A)/n(A) = 1/6
EVENTOS INDEPENDENTES
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral finito e não vazio. Dizemos que A e B são eventos independentes quando a ocorrência de um não afeta a probabilidade do outro.
Nesse caso, P(A | B) = P(A). Além disso, teremos também que P(B | A) = P(B).
OBSERVAÇÃO
Quando a ocorrência do evento B, influenciar na ocorrência do evento A, diremos que A depende do B. Em símbolos, se A depende do B, teremos P(A | B) ≠ P(A).
MULTIPLICAÇÃO DE PROBABILIDADES
Uma importante ferramenta que surge como consequência imediata da probabilidade condicional é a multiplicação de probabilidades.
Considere A e B dois eventos não vazios, de um espaço amostral equiprovável, finito e não vazio. Temos que:
Dessa forma, a probabilidade de dois eventos A e B ocorrerem simultaneamente, é produto da probabilidade de um deles pela probabilidade do outro, dado que o primeiro já ocorreu.
Com base nisso, podemos provar que:
A e B são eventos independentes se, e somente se, P(A ∩ B) = P(A) · P(B).
Demonstração:
De fato, suponha A e B são eventos independentes. Então
P(A | B) = P(A).
Aplicando na multiplicação de probabilidades, temos:
P(A ∩ B) = P(B) · P(A | B), em que P(A ∩ B) = P(A) · P(B)
Concluímos assim que, se A e B são eventos independentes, então P(A ∩ B) = P(A) · P(B).
Por outro lado, suponha agora que P(A ∩ B) = P(A) · P(B) (I)
Da multiplicação de probabilidades, sabemos que
P(A ∩ B) = P(B) · P(A | B) (II)
Logo, de (I) e (II) temos que P(A | B) = P(A), o que equivale a dizer que P(B | A) = P(B), sendo assim A e B são eventos independentes.
Como queríamos demonstrar
OBSERVAÇÃO
Quando P(A ∩ B) ≠ P(A) . P(B) diremos que os eventos são dependentes.
EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
07. Uma urna possui 4 bolas brancas e 3 pretas. Retirando-se 2 bolas desta urna, determine a probabilidade das duas serem brancas, se as bolas tiverem sido retiradas com reposição.
Resolução:
A probabilidade da 1ª bola ser branca é 4/7 . Como houve reposição da bola, a probabilidade da 2ª bola ser branca também vale 4/7 . Para calcularmos a probabilidade da 1ª branca e 2ª branca, pela multiplicação de probabilidades, teremos:
Repare que o 1º evento não influenciou a probabilidade do 2º evento, logo, são eventos independentes.
08. Uma urna possui 4 bolas brancas e 3 pretas. Retirando-se 2 bolas desta urna, determine a probabilidade das duas serem brancas, se as bolas tiverem sido retiradas sem reposição.
Resolução:
A probabilidade da 1ª bola ser branca é 4/7. Neste caso, não ocorre reposição. Como já retiramos uma bola da urna, agora ela só tem 6 bolas na urna. Como a 1ª bola retirada era branca, agora só temos 3 bolas brancas na urna, logo, a probabilidade da 2ª ser branca é 3/6.
09. Uma urna possui 4 bolas brancas e 3 pretas. Retirando-se 2 bolas desta urna, sucessivamente e sem reposição, calcule a probabilidade de as bolas possuírem cores diferentes.
Resolução:
Se as duas bolas terão cores diferentes, então uma será branca e a outra será preta. Como iremos retirar duas bolas
sucessivamente e sem reposição, temos dois casos a considerar:
1ª bola branca e a 2ª bola preta: 4/7 . 3/6 = 2/7
1ª bola preta e a 2ª bola branca: 3/7 . 4/6 = 2/7
Assim, a probabilidade pedida é 2/7 + 2/7 = 4/7