Estude com quem mais aprova. escolha um plano e faça parte dos milhares de alunos que são aprovados todos os anos com o Proenem
Search

Estude para o Enem totalmente grátis

REALISMO

REALISMO

A partir da segunda metade do século XIX, a Europa assiste a uma série de gigantescas mudanças econômicas, científicas e sociais, com o surgimento de correntes de pensamento que se refletem na estética como uma crítica às posturas românticas.

A segunda fase da Revolução Industrial, marcada pelo avanço nas tecnologias de produção advindas de um agudo avanço no campo do conhecimento científico, modifica não só o funcionamento produtivo, mas as próprias estruturas econômicas da sociedade. Pequenos empreendimentos familiares passam a não encontrar lugar e em seu lugar surgem grandes fábricas e empresas, normalmente com atuação conjunta e organizada para dominar mercados – os chamados trustes e cartéis.

HEJENBROCK, Herman. A fundição de ferro em blocos, 1890

A figura acima representa HEJENBROCK, Herman. A fundição de ferro em blocos, 1890.

A população passa a aglomerar-se em centros urbanos, um reflexo da própria industrialização, que atrai para as cidades grandes contingentes populacionais oriundos dos campos. Os industriais e seus grupos econômicos expandem sua influência e passam a atuar em nome de seus países, dominando o mercado internacional e dando início à expansão imperialista, com um novo processo de colonização e captura de países africanos e asiáticos em busca de matérias-primas. A burguesia europeia vive seu apogeu, em que há enorme fluxo de capitais, rápido enriquecimento e vida luxuosa, tudo às custas da exploração das vastas colônias pelo mundo.

Ao mesmo tempo, verifica-se um grande avanço das ciências e da filosofia. O positivismo de Augusto Comte, o determinismo de Hippolyte Taine, as descobertas no campo da biologia, além das muitas invenções tecnológicas, como a luz elétrica, o telégrafo, entre outras aceleram a transformação do mundo e a tentativa de descrevê-lo e entendê-lo.

Por outro lado, as contradições advindas das novas formas de produção não demoram a surgir de maneira contundente. As cidades incham-se e crescem desordenadamente, onde não há condições mínimas de higiene e as pessoas amontoam-se sem conforto algum; burgueses e proletários entram em rota de colisão e devido à exploração massiva, com longas jornadas de trabalho, falta de condições, trabalho infantil e ausência de direitos. Nessa conjuntura, surgem movimentos e revoltas de trabalhadores empurrados por movimentos anarquistas e posteriormente pelas organizações comunistas, apoiadas na crítica do socialismo científico postulado por Karl Marx.

Este cenário contraditório entre a excitação burguesa, com sua exploração capitalista desumano, e a duríssima realidade dos milhares de trabalhadores, que pintam as ruas da cidade de pobreza, traz, não de forma surpreendente uma crise aos valores românticos, incompatíveis com a realidade que se apresenta.

INFLUÊNCIAS IDEOLÓGICAS

O Realismo representa um olhar alinhado à compreensão do período, marcado pelo cientificismo e por algumas linhas de pensamento que são decisivas na construção de sua estética. Em linhas gerais, pode-se caracterizá-los de forma sucinta:

Positivismo

Auguste Comte

A figura acima Auguste Comte.

Desenvolvido pelo filósofo francês Auguste Comte, pregava a estrita racionalidade científica e lógica, e a postulação de que a ciência é sinônimo absoluto da verdade. O progresso da humanidade vem dos avanços da ciência e por isso era a única “deusa” possível. Dessa forma, as subjetividades e achismos eram secundários, pois o conhecimento restringia-se à experiência sensível dos dados materiais e concretos e a imaginação devia subordinar-se à experiência na busca pelo observável, pelo palpável, pelo concreto, por tudo aquilo que poderia ser mensurado de alguma forma.

Tinha como lema “o amor como princípio, a ordem como base e o progresso como fim” e pregava a hierarquia, organização, obediência e desprezo ao imaterial. Estabelecia a crença em um governo da elite intelectual, guiado pela ciência, única maneira de melhorar a vida da sociedade.

O positivismo chegou a manifestar-se como filosofia religiosa, louvando a ciência e pensadores, unindo a teologia e a metafísica no que ficou conhecida como a Religião da Humanidade.

Determinismo

Hippolyte Taine

Hippolyte Taine foi um pensador francês, adepto do positivismo, que defendia o entendimento do comportamento humano por três fatores determinados: a raça, o meio e o momento.

A raça é o conjunto das características hereditárias imprimidas pela família às gerações seguintes. O meio corresponde às tradições, as crenças, os hábitos mentais e as instituições que modelam os indivíduos. O momento é o conjunto de circunstâncias que desencadeia as ações de cada indivíduo, a “ocasião” ou “oportunidade”.

O homem é forçado a adaptar-se às circunstâncias adquire um temperamento e um caráter que lhes são correspondentes, sendo, portanto, suas ações determinadas pelos fatores, nunca pela sua escolha. A conclusão é de que o homem não é livre nem em seu agir nem em seu pensar.

Evolucionismo

A figura acima representa Charles Darwin. 

A contribuição de Charles Darwin para a ciência e o entendimento do mundo é enorme. E, evidentemente, seus pensamentos, ao modificarem a forma de como se entende o mundo, são influências diretas na maneira como os artistas vão reproduzir este mundo.

Em linhas gerais, sua teoria da Evolução mostra a modificação das espécies por meio de transformações progressivas ao longo do tempo de acordo com o ambiente em que habitam.

Para as artes, a explicação da origem do homem fornecida por Darwin retira a divindade como um fator-chave. Assim, o homem não é mais um fruto divino, idealizado e assume sua condição animal, submisso às condições materiais e instintos.

Socialismo científico

A figura acima representa Karl Marx e Friedrich Engels.

Karl Marx, em conjunto com Friedrich Engels, produz a primeira crítica consistente do modelo liberal burguês, nos âmbitos econômico, político e social. Faz a denúncia da exploração burguesa, da forma do acúmulo de riquezas, dos processos imperialistas e dá novo entendimento às formas de produção e as relações que dela advém.

Para ele, os acontecimentos são determinados pelas condições materiais da sociedade e, ao fim e ao cabo, a história do mundo é a história da luta de classes – o conflito sempre existente entre exploradores e explorados. De seus postulados, surgem movimentos operários e a visão de um protagonismo do trabalhador, muito presente, em especial, nas obras naturalistas.

A ESTÉTICA DO PERÍODO

Influenciado pelo pensamento da época, o artista atua como um cientista e faz a representação da realidade como um estudo de fenômeno. O cientificismo leva ao abandono da visão subjetiva e a valorização do objeto, do cenário, das personagens, enfim de tudo aquilo que é observável.

Os aspectos descritivos são evidentes em uma arte minuciosa, quase documental, sempre com bastante sobriedade, sem idealizações ou exageros. Como verdadeiros estudiosos da realidade, era comum que artistas visitassem os lugares que retratavam, por vezes convivendo com as pessoas que descreviam e submetendo-se às mesmas condições que elas. Era fundamental experimentar: a beleza está na realidade como ela é, não cabendo ao artista melhorar a natureza.

A figura acima representa CAILLEBOTTE, Gustave. Rua de Paris em dia chuvoso, 1877.

A arte politiza-se fortemente e são comuns as obras de caráter de denúncia social e com protestos em favor dos oprimidos. Inspiradas nos contrastes sociais entre burguesia e trabalhadores, as pinturas e as histórias são retratos do cotidiano, das tragédias sociais e descrevem a rudeza, a feiura, a imoralidade e a vulgaridade das personagens, elevadas à categoria de heróis, com forte tipificação social desses retratados.

O REALISMO

Quando se fala em Realismo, não se está limitando sua definição à literatura, pelo contrário, o termo designa um conjunto de tendências artísticas contrárias à visão romântica de mundo que se desenvolve no final do século XIX. É uma visão artística que pretende “a reprodução exata e sincera do ambiente social” em que ocorre.

Aquele sentimento desagradável da realidade que era expresso de forma melancólica pelo Romantismo é agora a matéria-prima do olhar do artista, que busca compreendê-lo pelas teorias sociológicas, psicológicas e científicas em geral. Como um bom cientista, o artista mantém sua neutralidade diante do que é retratado, sem fornecer sua visão particular ou julgamentos. Assim, é comum que a literatura apresente histórias com o predomínio do foco narrativo em terceira pessoa.

Investigando objetivamente os indivíduos e suas classes, os artistas enveredam pela análise psicológica, com um estudo sobre o homem, seus conceitos, sua relação com a realidade de seu tempo, com o ambiente em que vive e com os elementos sociais e humanos que o cercam. Em verdade, cada personagem é uma representação do grupo do qual faz parte, em verdadeira tipificação social do indivíduo.

A análise adentra pelo psicológico, pelas crises internas, conflitos e comportamentos que a sociedade espera e tudo aquilo que o indivíduo pode oferecer. Toda essa forma de representar a realidade não deve se afastar dos princípios da verossimilhança, rejeitando todo artificialismo típico dos românticos.

A própria vida romântica, desmascarada, é tema realista. A crise dos valores burgueses é amplamente explorada e o Romantismo criticado. A arte volta-se para o presente, para a contemporaneidade, quando são expostas as contradições da sociedade e de suas instituições: o casamento, a religiosidade, a família e a série de conceitos firmemente estabelecidos a partir de uma visão romântica são atacados por toda a sorte de histórias que tematizam adultérios, traições, corrupções, torpezas e perversões diversas.

O NATURALISMO

O Naturalismo surge como uma variedade de Realismo. Entretanto, ambos os movimentos são concomitantes, isto é, ocorrem ao mesmo tempo ou em tempos muito próximos. Mesmo assim, há no Naturalismo vários dos princípios do Realismo, em especial aqueles que caracterizam a atitude artística, como a objetividade, a observação da natureza, a busca pela verossimilhança. A esses fatores, acrescenta-se um cientificismo exacerbado, uma busca de demonstração das diversas teorias da época.

Emerge, então, uma visão cientificista da existência, do homem e da sociedade, governada por leis que a ciência pode explicar. São essas leis que regem a vida e o comportamento das personagens. O positivismo torna-se uma referência obrigatória no entendimento dessas obras, que normalmente introduzem as questões biológicas para retratar e explicar uma realidade rude e incrivelmente conflituosa.

A hereditariedade biológica é um fator determinante nas ações das personagens, assim como o meio. O homem é produto do ambiente e estudar o ambiente é compreender o próprio homem. Não há saída para as personagens, que são completamente determinadas por sua origem biológica e pela relação com o meio em que vivem.

As histórias mostram a luta pela existência, uma sociedade em que o mais forte prevalece e que não há limites éticos para a busca de sua supremacia. Ao mesmo tempo, aqueles que não são fortes, sucumbem à raça ou à origem. É comum, portanto, que sejam apresentados inúmeros personagens débeis, doentes, anormais, degradantes. A patologia toma conta da arte e desfilam narrativas repletas de ébrios, delinquentes, homicidas, incestuosos, degenerados, corruptos, indecentes, prostitutas, homossexuais etc.

REALISMO E NATURALISMO BRASILEIRO

Tal qual o Romantismo, que encontrou uma conjuntura diferente, mas favorável ao estabelecimento da estética no país, o Realismo encontraria no Brasil um contexto em que seria possível o paralelo às estéticas e às críticas europeias. De fato, o Brasil não viveu à época sua industrialização, nem mesmo houve aqui os conflitos advindos dos novos modos de produção, entretanto, a situação também não era estabelecida pelos parâmetros liberais burgueses, mas pela consolidação da imagem nacional pelo Império.

E são as crises do Império que aproximam o sentimento brasileiro às críticas europeias. A Guerra do Paraguai (1864-1870) é um duro golpe para a monarquia brasileira, que passa a receber críticas e perder representatividade junto a estratos importantes da sociedade. Mesmo saindo vencedora do conflito, a coroa pôde retomar os rumos políticos do país. Oficiais do exército eram cooptados por ideias positivistas e a ideologia republicana começava a ganhar força nos círculos militares. O mero papel de perseguidores de escravos fujões não mais representava as aspirações de soldados, sargentos e tenentes.

A figura acima representa MEIRELLES, Victor. Combate Naval do Riachuelo, 1883

Diante do agravamento do quadro financeiro, setores mais jovens das áreas urbanas ampliam um sentimento oposicionista. Os setores médios sentem-se abandonados e engrossam as fileiras daqueles que se opõem ao regime. Um sentimento abolicionista faz-se crescer – mais por questões econômicas que por humanidade – colocando grandes escravocratas de um lado e uma emergente classe de novos produtores (sem acesso a escravos) de outro.

O Imperador, alheio às críticas que assolam o país, viaja pelo mundo em busca de ciência e artes. O sistema só se mantém graças a latifundiários conservadores que condicionam seu apoio à manutenção da escravatura. Entretanto, as pressões internacionais, econômicas e políticas são muitas e a abolição parecia inevitável. Em 1888, a abolição da escravidão marca também o fim de qualquer apoio dos escravistas senhores rurais e a República era mera questão de tempo. Um ano depois, pelas mãos do monarquista marechal Deodoro da Fonseca, os militares retiram D. Pedro II do trono, mandam-no ao exílio, tomam o poder e, assim, proclamam a República.

Mesmo tendo origem em um golpe de estado e, na verdade, não apresentasse nenhum caráter modernizante, ou qualquer proposta de reorganização da sociedade, a República goza de um grande apoio da população e, impelida por ideais positivistas, investirá no progresso do país, ainda que de forma bastante tímida, a partir da virada do século XX.

A figura acima representa CALIXTO, Benedito. Proclamação da República, 1892.

AUTORES

RAUL POMPEIA

Raul D’Ávila Pompeia nasceu em 1863 na cidade de Angra dos Reis, RJ, mas foi criado e estudou na cidade do Rio de Janeiro. Aluno do Colégio Pedro II, publicou seu primeiro livro, “Uma tragédia no Amazonas”. Estudante de Direito, passou por São Paulo, Recife até voltar ao Rio de Janeiro, onde se dedicou ao jornalismo e jamais exerceu a advocacia.

Escreveu crônicas, artigos e contos até publicar, em forma de folhetim, sua principal obra: O Ateneu. Romance de caráter autobiográfico, conta as memórias do narrador-personagem Sérgio sobre seu tempo de estudante no internato Ateneu. Separado de sua mãe aos onze anos, é levado pelo pai ao colégio interno Ateneu, cujo dono, Aristarco, agia como o imperador do colégio, mais preocupado com o lucro do que com a questão pedagógica. Em um mundo de moral rebaixada, o garoto Sérgio tem contato com várias personagens, dentre elas, pederastas, aproveitadores que se passavam por protetores; e várias atitudes, como a ganância e a prepotência. Assassinato, amizades por interesse em uma sucessão de críticas ao comportamento humano. O colégio termina incendiado e assim se dá o fim do Ateneu.

O livro apresenta uma linguagem forte, de sonoridade e plástica bastante ricas. Aparenta viés naturalista – ao apresentar a degradação das personagens e o determinismo do meio no comportamento humano –, apesar de que as análises psicológicas das figuras da história situem-no mais próximo ao realismo. Entretanto, dado o caráter memorial e da forte carga emocional, calcada nas sensações do próprio autor, muitos preferem classificar o romance como impressionista.

Raul Pompeia teve uma vida boêmia e tornou-se, talvez por conta disso, um dos maiores caricaturistas sociais da literatura nacional. Forte defensor republicano e florianista, colecionou desafetos dentro dos círculos militares, especialmente após a morte de Floriano Peixoto. Sentindo-se humilhado e rejeitado, acabou por suicidar-se na noite de natal do ano de 1895.

ALUÍSIO AZEVEDO

Aluísio Tancredo Gonçalves Azevedo nasceu em São Luís, MA, em 1857. Após os primeiros estudos na capital maranhense, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Academia Belas Artes. Rapidamente adaptou-se à vida na capital, respirando a política local, tornou-se um abolicionista convicto e passou a trabalhar como chargista em alguns jornais.

Após a morte de seu pai, retornou a São Luís, onde, já ligado ao jornalismo, entrou na literatura por conta de dificuldades financeiras, publicando seu primeiro romance, ainda no estilo romântico. Porém, foi em 1881, com a publicação de “O mulato”, que escandalizou a população maranhense. Era o primeiro romance naturalista da literatura brasileira e que abordava a questão do preconceito racial. Praticamente expulso da cidade, recebeu a alcunha de “Satanás de São Luís” e retorna ao Rio de Janeiro.

Na capital buscou sobreviver de seus escritos – o que justifica sua produção irregular, com muitos romances de qualidade duvidosa, feitos por encomenda –, porém acabou por largar a literatura e entrar na seara da diplomacia. Seguiu a carreira diplomática representando o Brasil em vários países. E foi na Argentina, mais precisamente na cidade de Buenos Aires, em 1903, que veio a falecer.

Seu estilo dinâmico e ágil retrata ambientes e realidades no melhor estilo das teorias naturalistas. Predominam em suas obras as descrições objetivas e fortes, criando imagens sensoriais marcantes, fazendo largo uso das sinestesias e metáforas em suas narrativas.

Aumente sua nota em matemática no ENEM

Reunimos uma análise detalhada dos assuntos
mais recorrentes e relevantes de matemática no ENEM