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Geração de 30: a poesia de Drummond, Cecília e Vinícius

Geração de 30: a poesia de Drummond, Cecília e Vinícius

O período que vai de 1930 a 1945 foi o mais conturbado de todo século XX.

MOMENTO HISTÓRICO

Ainda sob impacto da crise econômica advinda da quebra da bolsa de Nova Iorque, o mundo passa a viver os tempos da Grande Depressão, em que as fábricas paralisam suas produções, as relações comerciais se desfazem, bancos vão à falência, eleva-se assustadoramente o desemprego mundial, a fome e a miséria globalizam-se.

Os Estados intervêm desorganizadamente na economia, tentando soluções internas para uma crise que ultrapassa fronteiras. O inevitável agravamento das questões sociais cria um campo fértil ao avanço das ideias socialistas e comunistas, ampliando o clima conflituoso, contrapondo-se ideais marxistas às burguesias nacionais, defensoras do autoritarismo estatal, baseado nos pilares do conservadorismo, do nacionalismo e de uma militarização crescente. O sentimento anticomunista, antiparlamentar e antidemocrático leva à criação de um Estado fascista. A Itália de Mussolini, a Alemanha de Hitler, a Espanha de Franco e Portugal de Salazar são provas inequívocas do crescimento de tais conceitos.

Em um cenário como esse, não fica difícil entender como o nazifascismo ganha espaço e apoio de toda a população alemã. As ideias expansionistas de Hitler, somadas ao crescente militarismo e ao estímulo à produção bélica, faria da Alemanha uma sombra na Europa. As frustrações geradas pelas derrotas na I Guerra Mundial e a contestação do Tratado de Versalhes dão o componente de orgulho que faltava ao povo alemão para apoiar seu führerna (líder) na construção de um novo Reich (nação). Esse quadro levaria o mundo à II Grande Guerra (1939-1945), com centenas de milhões de vítimas, e apresentaria o mundo à Era Atômica com a detonação das bombas em Hiroshima e Nagasaki, no final da Grande Guerra.

O Brasil também não apresenta um cenário de tranquilidade. A década de 30 marca o fim da República Velha, ligada às velhas oligarquias do café e o início da revolução que levaria ao período da ditadura de Getúlio Vargas.

Enquanto a economia cafeeira sentia o duro golpe da crise mundial, o candidato das oligarquias para a sucessão de Washington Luís, Júlio Prestes, elegia-se presidente, cargo do qual jamais tomaria posse. Em outubro de 1930 estoura a revolução que leva Getúlio Vargas a um governo provisório. Os revoltosos eram apoiados pela burguesia industrial, pela classe média e pelo movimento tenentista da década anterior – a exceção foi Luís Carlos Prestes, que torna-se um dos maiores líderes comunistas brasileiros.

Em 1932, São Paulo busca a contrarrevolução como resposta à frustração das oligarquias cafeeiras paulistas com a nova ordem. Sentiam-se prejudicados pelas mudanças econômicas de Vargas, com incentivos à industrialização e à entrada de capital estadunidense.

Além disso, a burguesia paulistana temia as classes mais baixas e sua constante agitação; o fator decisivo foi a nomeação de um interventor pernambucano para São Paulo: explodia em nove de julho de 1932 a Revolução Constitucionalista. A revolução contou com o apoio de praticamente todos os setores da sociedade paulista: intelectuais, industriais, estudantes, segmentos das camadas médias, políticos ligados à República Velha ou ao Partido Democrático, todos foram para as ruas e pegaram em armas.

O isolamento da revolta – que contava com o “apoio” de Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, que não se envolveram militarmente no conflito – decidiu o seu fracasso. Vargas ainda enfrentou outras revoltas até tornar-se ditador, em 1937, dando origem ao período conhecido como Estado Novo, caracterizado pela perseguição aos comunistas, por ações antidemocráticas, pelo nacionalismo conservador e pela idolatria – quase fascista – do chefe de Estado: Getúlio Vargas.

AS INFLUÊNCIAS MODERNISTAS

A geração que sucede os vanguardistas de 22 recebe como herança suas conquistas formais e temáticas e amadureceas. Inserida em um contexto histórico conturbado, assiste-se à ampliação temática, incorporando as preocupações relativas à humanidade e ao “estar no mundo”. As pesquisas estéticas aprofundam-se e a poesia chocante e destruidora dá lugar à construção de um novo modelo de pensar o homem e o mundo.

Percebe-se a influência exercida por Oswald e Mário de Andrade sobre os poetas da nova geração. São comuns as dedicatórias dos novos poetas, como Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes, aos mestres da Semana de 22. Em termos formais, a estética modernista é aprofundada, com contínuo uso do verso livre e da poesia sintética.

É na temática que ocorre a introdução de uma nova visão artística, na qual torna-se constante o questionamento da realidade, do indivíduo e do próprio poeta em sua “tentativa de explorar e de interpretar o estar no mundo”. Assim, essa “segunda fase” introduz uma produção literária mais comprometida com as percepções políticas e sociais, não se afastando das profundas transformações do período. O interessante é perceber que, em vista das mazelas, da guerra e da crise, surgem também poetas que voltam-se mais para dentro de si mesmos e buscam certa espiritualização, como forma de negar a realidade horrenda que se descortina. É o caso de Jorge de Lima, de determinada fase de Murilo Mendes e, principalmente, de Cecília Meirelles – que se apresenta praticamente como neossimbolista – e de Vinícius de Morais, um verdadeiro neorromântico.

A principal característica, no entanto, é a ampliação das relações entre o “eu” e o mundo, por muitas vezes com a fragilização desse “eu”. A preocupação do homem, do seu interior e de sua vida social é uma constante, consequência das guerras e revoluções que devastam nações, deixam milhares de mortos e criam uma ferida individual no poeta que sangra pela humanidade que representa. A consequência é a imagem da fragilidade diante do mundo, da impotência e da miséria humana. Contra tudo isso, resta a união e as ações coletivas.

PRINCIPAIS AUTORES

Carlos Drummond de Andrade

Nascido em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902, Carlos Drummond de Andrade provém de uma decadente família de fazendeiros. Seus estudos, com os jesuítas do Colégio Anchieta de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, renderam a insólita expulsão por “insubordinação mental”. Novamente em Belo Horizonte, começou sua carreira de escritor como colaborador de um jornal local que aglutinava os novos modernistas mineiros.

Formou-se (por insistência familiar) em farmácia no ano de 1925. Já no serviço público, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no Ministério da Educação, até o fim do Estado Novo. Trabalhou também no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional onde se aposentou em 1962. Contudo, manteve sempre suas atividades jornalísticas, como cronista no Correio da Manhã e, posteriormente, no Jornal do Brasil.

Em sua atuação nos jornais, teve enorme admiração, mantendo a serenidade como padrão de comportamento, envolvendo-se pouco em polêmicas e, não sendo unanimidade entre os intelectuais apenas pelas contundentes críticas que recebia de Nelson Rodrigues, mas com as quais geralmente não se importava (ou fingia que não se importava) e raramente as respondia. Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987, dias depois da morte de sua única filha, a também escritora e cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

Drummond mostra-se um poeta preocupado com sua individualidade, é poeta da ordem e da consolidação, embora essas mostrem-se invariavelmente contraditórias. Sua poesia denuncia o presente, um tempo assombrado pelo passado e assustado pelo futuro; tempo no qual o poeta coloca-se como testemunha de si mesmo e da história dos homens, de tal maneira cética que beira à melancolia. Não deixa, contudo, de fazer-se cronista e lançar seu sarcasmo, sua ironia, seu amargor e seu desencanto contra os costumes e contra a sociedade

Porém, é no cuidado e esmero com que constrói sua estética do modo de ser e estar que se encontra a tônica de Drummond. O tempo é sua matéria-prima, em sua passagem cotidiana e percepção subjetiva, com todo tom de crítica que pode conter o cronista-poeta. Encontra-se, assim, com seu próprio período histórico, no qual contempla a experiência coletiva, solidarizando-se com ela, atuando social e politicamente, descobrindo na luta coletiva a maneira de expressar sua preocupação íntima com a amplitude da vida. É aí que o poeta atinge sua maturidade e chega a um nível de produção poética sublime, o qual manterá até o fim da vida.

Quanto aos temas, sua obra apresenta-se extremamente diversificada, mas com destaque para a poesia social; as reflexões existenciais – nas quais contrapunha o eu e o mundo; a construção da própria poesia; o tempo passado; o amor; as crônicas poéticas do cotidiano; e a celebração dos amigos.

A linguagem de Drummond impressiona pela vitalidade, pela criatividade e pela capacidade de sugestão, combinando aspectos tradicionais, como a sublimação e o tom elevado, às experiências vanguardistas, como os coloquialismos e a linguagem prosaica. Explora o campo dos significados, desvenda as “infinitas faces das palavras”, expressando inúmeras possibilidades interpretativas pelas possibilidades polissêmicas com as quais brinca o autor.

Um dos aspectos mais incomuns da personalidade do escritor é sua autodefinição como gauche (esquerdo, em francês), com o qual representa a si mesmo como anti-herói, torto, desajeitado, errado, aquele que está em desacerto com o mundo, para quem nada dá certo. Aliado a isso, um humor sutil, até certo ponto sarcástico, lança um olhar gauche sobre a própria realidade, buscando uma reflexão sobre o sentido das coisas, as mais banais que sejam, donde se extraem – de maneira ácida – a crítica ao próprio mundo.

Enfim, Drummond é o poeta existencial por excelência, reflete, com absoluta precisão, a angústia da alma humana frente às incertezas do destino. A solidão, o silêncio, o mistério do existir, o tempo, a trajetória do homem e a busca de uma redenção para o indivíduo.

Suas obras ganharam versões em inúmeras línguas, publicadas em um sem-número de países, o que atesta a grandiosidade de Drummond, fazendo-o o poeta mais influente da literatura brasileira durante longo tempo. Além de tudo, atuou como tradutor, vertendo para o português obras de Balzac, Marcel Proust, García Lorca, François Mauriac e Molière.

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros]
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.]

Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.]
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.]

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.]
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.]
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.]

não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.]
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,]
a vida presente.

Cota Zero

Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?

Disponível em: http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/m.osdadas.htm

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta
meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Disponível em: http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond01.htm

Cecília Meireles

Filha de um funcionário do Banco do Brasil e de uma professora municipal, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Seu pai não chegou a conhecê-la, falecendo pouco antes de seu nascimento, e sua mãe teve pouco convívio, já que morreu antes de Cecília completar três anos. Dos quatro filhos do casal, foi a única que sobreviveu, sendo criada pela avó.

Destacou-se em seus primeiros anos na escola, chegando a receber uma medalha das mãos de Olavo Bilac, então Inspetor Escolar do Rio de Janeiro. Após concluir o curso normal do Instituto de Educação, passou a exercer a profissão de professora primária.

Pouco tempo depois, logo após publicar seu primeiro livro de poesias, casou-se com o pintor português Fernando Correia Dias, com quem tem três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda, que lhe darão cinco netos. Após o suicídio de seu marido, casou-se mais uma vez, agora com o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo.

Cecília atuou com jornalista, organizou a primeira biblioteca infantil da cidade, proferiu conferências sobre literatura brasileira em Portugal, além de lecionar a mesma matéria na Universidade do Distrito Federal (atual UFRJ), chegando a dar aulas na Universidade do Texas. Publicou vários livros no Brasil e em Portugal e foi amplamente reconhecida através prêmios e honrarias.

No dia 9 de novembro de 1964, vem a falecer, causando grande comoção e alvo de inúmeras homenagens públicas. Recebe, no ano de sua morte, o Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro “Solombra”, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Cecília Meireles foi amplamente homenageada no Brasil e no exterior. Dá nome a um salão de concertos e conferências no Rio de Janeiro; é nome de rua, de escola municipal e biblioteca em São Paulo; já foi efígie de cédula em 1989. No Chile, deu nome à biblioteca do Centro Cultural Brasil-Chile, em Santiago; a uma rua em São Domingos de Benfica, em Lisboa; em Ponta Delgada, capital do arquipélago dos Açores, há uma avenida com o nome da escritora, neta de açorianos.

Sua poesia, presa ao lirismo tradicional, revela fortes traços simbolistas expressando os diversos estados de espírito por que passa, de maneira vaga e quase sempre imaterial. As imagens naturais como o mar, a areia, a espuma ou a lua ganham destacado valor sugestivo, até mesmo pela repetição com que surgem. A perda amorosa e a solidão criam a atmosfera da dor existencial que explora e intensifica quando combinada às diversas alusões ao tempo.

No aspecto mais estilístico, Cecília faz uso de uma linguagem sublimada, com pouca presença de marcas coloquiais, fazendo de sua criação poética um exercício estético tradicional. Sua inclusão em uma “geração” modernista deve-se mais ao fator cronológico que ao estético, pois coaduna pouco com as conquistas – temáticas ou formais – da geração de 22.

Talvez, seu maior ponto de contato com as propostas vanguardistas foi na revisitação crítica do passado histórico, quando publica O romanceiro da Inconfidência, um conjunto de poemas narrativos em que reconstroem liricamente a sociedade mineira do século XVIII, suas principais personagens e, evidentemente, a própria conspiração pela liberdade. Tomada como metáfora ao momento vivido pela poetisa, pode-se achar uma dimensão “estar no mundo” para sua poesia, na qual se contempla a humanidade em sua ação coletiva.

Pássaro

Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.
Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.
Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.
Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.

Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/ceci34.htm

Vinicius de Moraes

Marcus Vinicius da Cruz e Mello Moraes nasceu em 19 de outubro de 1913, no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro. Aos nove anos vai com sua irmã a um cartório para alterar seu nome, adotando aquele com o qual seria eternizado, Vinicius de Moraes. Oriundo de uma família com elevada veia artística – sua mãe era pianista e seu pai poeta – não surpreende que, desde cedo, o pequeno Vinicius demonstrasse sua inclinação para a poesia.

Morando em vários bairros do Rio de Janeiro, o poeta desenvolve uma visão bastante ampla sobre a cidade, o que o torna mais apaixonado por ela. Falando em paixões, o jovem Vinicius era galanteador, namorando praticamente todas as amigas colegiais de sua irmã – graças à banda que montou com os amigos e que animava as festinhas da turma.

Formado em Direito, um tanto a contragosto, e oficial da reserva, Vinicius atua no Ministério da Educação, onde conhece e torna-se amigo de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. É nessa época que começa a publicar seus livros. Bolsista em uma universidade da Inglaterra, segue publicando poemas, apurando o estilo e tornando-se o que ele mesmo classificou como um “poeta do cotidiano”.

Foi colaborador literário no jornal A manhã e, a partir desse momento, conhece um sem-número de intelectuais dos quais torna-se amigo, como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Cecília Meireles, Hélio Pelegrino, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, entre outros. Colabora com vários jornais e revistas, fazendo suplementos literários, como crítico de cinema ou como cronista.

Alguns anos depois de ingressar, por concurso, na carreira diplomática, assume seu primeiro posto diplomático: vice-cônsul do Brasil em Los Angeles, Califórnia (USA), onde permanece por meia década.

Após o nascimento de sua filha Georgiana, fruto de seu segundo casamento, volta às origens musicais, compondo seu primeiro samba, música e letra, Quando tu passas por mim. Escreve também sua primeira peça, Orfeu da Conceição, que é adaptada para o cinema, com grande sucesso. Após o nascimento de sua segunda filha, começa uma das parcerias de maior sucesso na música brasileira, devido à montagem de sua peça no Teatro Municipal, que teve a trilha sonora composta por Antônio Carlos Jobim. Tal parceria renderia inúmeros frutos, dando início ao movimento da música popular brasileira conhecido por bossa-nova.

Vinicius sofria de insônia e compunha a maior parte de sua obra na banheira de sua casa, apoiado em uma tábua que lhe servia de mesa. Casou-se mais duas vezes e compôs inúmeros sucessos, com destaque para Garota de Ipanema, uma das músicas mais executadas no mundo.

Após uma operação para a instalação de um dreno cerebral, Vinícius apresenta algumas complicações e morre em sua casa na Gávea em 09 de julho de 1980, vítima de edema pulmonar. Tinha a companhia do inseparável amigo Toquinho e de sua última esposa.
Vinicius pode ser considerado um neorromântico, mas figura entre os modernistas por sua visão pouco ortodoxa do amor. Se, por um lado, mostra-se lírico e até certo ponto idealizado, por outro, mostra-se cotidiano e irônico, considerando a paixão algo passageiro, “eterno” apenas enquanto era aproveitado.

A primeira parte de sua obra é influenciada pelo simbolismo, apresentando conotações místicas, contrapondo as necessidades da alma às do corpo. Essa fase ainda não demonstra o poeta maduro, mas uma busca pelo lirismo que iria consagrá-lo.

Sua poesia torna-se mais viril, aproximando-se do mundo material, repelindo o idealismo que se mostrava presente na fase anterior. O amor, seu tema principal, é tratado de forma sensual, o que o distingue dos românticos, apesar de o tratamento lírico que confere ao sentimento.

O sentimentalismo na sua obra compreende a saudade, a carência, o desejo e a paixão. Contudo, tudo apresentado sob uma nova concepção, mais concreta, livre de preconceitos, e com grande atenção às mulheres – não idealizando-as, mas tornando-o centro sensual de seus próprios desejos.

Em sua fase bossa-nova, compromete-se com o cotidiano, buscando até mesmo os dramas sociais da época, como os operários e o horror da bomba atômica. Essa tendência o aproxima dos princípios do modernismo e os leva à música popular brasileira.

Sua linguagem é extremamente lírica e tende ao verbalismo. Constrói seus poemas de forma clássica com a predileção explícita pelo soneto. É, sem dúvida, um dos maiores sonetistas brasileiros de todos os tempos. As formas mais rígidas do soneto e da métrica musical ajudavam a conter os excessos verbais que normalmente afluíam de sua lírica.

Soneto da fidelidade

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Disponível em: http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/soneto-de-fidelidade

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