Oriente Médio: conflitos árabe-israelenses
Os conflitos que hoje assolam o Oriente Médio têm diferentes motivos.

CONFLITOS NO ORIENTE MÉDIO
O principal deles diz respeito ao território: israelenses e palestinos lutam para assegurar terras sobre as quais, segundo eles, têm direito milenar. Outra questão diz respeito à cultura e à imposição de valores ocidentais às milenares tradições orientais. Pode-se ainda mencionar o fator econômico – talvez o preponderante: potências capitalistas desejam estabelecer um ponto estratégico na mais rica região petrolífera do planeta. E ainda existe a questão política.
O HISTÓRICO DE DISPUTA NA REGIÃO E O INÍCIO DO CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE
No século III, os judeus foram expulsos de sua terra pelos romanos, no processo conhecido como diáspora, que é a dispersão de uma comunidade pelo mundo. Desde então, os judeus buscam o retorno ao local. Em 1869, houve a abertura do Canal de Suez, interligando o Porto Said (porto egípcio no Mar Mediterrâneo) a Suez, no Mar Vermelho. Após se tornarem os acionistas majoritários do canal, os britânicos tomaram seu controle. Em 1897, é o movimento político e filosófico que se apresenta como proposta de autodeterminação do povo judeu. Seu objetivo central era a busca de um Estado nacional judaico independente e soberano no território que, para eles, pertenceu ao antigo reino israelense. Em algumas interpretações, é um nacionalismo judaico e historicamente propõe a erradicação da diáspora judaica. O movimento propagou o slogan: “a Palestina é uma terra sem povo para um povo sem terra.”
Até a Primeira Guerra Mundial, o Império Turco-Otomano era o detentor do território onde, atualmente, ocorrem os conflitos, foi a única potência muçulmana a desafiar o poderio dos países europeus entre o século XV e XIX. Seu fim foi, ao longo do século XIX com a derrota na Primeira Guerra Mundial, provocando, assim, a partilha do território. Após a derrota, os territórios foram divididos, sobretudo entre Reino Unido, que agregou Palestina, Transjordânia, Egito, Iraque e Pérsia (atual Irã), e a França (agregando Síria, Argélia e Líbano). É importante lembrar que os dois países árabes são imperialistas, o que deixa resquícios até os dias atuais.
Em 1917, houve o caso da declaração Balfour, relacionada a uma carta do então secretário britânico de assunto estrangeiros, Arthur James Balfour, para o líder da comunidade judaica do Reino Unido, com o intuito de transmitir à Federação Sionista da Grã-Bretanha. O objetivo principal da carta era facilitar a configuração de um “lar nacional” para os judeus na palestina. (Criação de um Estado-Nacional). A partir disso, reforçando a lógica Sionista, aproximadamente 600.000 judeus se estabeleceram nesse momento na região.
• Diáspora – Palavra que significa exílio, expulsão e dispersão que tem origem no hebraico. Define então a migração do povo judeu causada por expulsão. A primeira ocorre no ano 586 a.C, quando o imperador da Babilônia destrói o tempo de Jerusalém e deporta os judeus para a Mesopotâmia. A segunda diáspora ocorreu em 70 a.C., quando os romanos destruíram Jerusalém e os judeus foram em direção a Europa, Ásia e África.
• Sionismo – Movimento internacional judeu que resultou na formação do Estado de Israel em maio de 1948 e em seu posterior desenvolvimento.
Em 1945 foi criada a Liga Árabe, uma organização de estados árabes, cujo objetivo central é reforçar e coordenar aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais entre seus membros. Inicialmente, a liga era liderada pelo Egito (Nasser), que já havia constituído sua República (muito pelo enfraquecimento dos países europeus após a Segunda Guerra). Na assembleia geral da ONU de 1947, o brasileiro diplomata Oswaldo Aranha deu início ao Plano de Partilha da Palestina para substituir o mandato britânico, declarando a formação do Estado de Israel (Eretz Israel), um território independente do controle britânico. As nações árabes não concordaram com a partilha, ou seja, com a criação do Estado de Israel. Desde então, os dois povos travaram inúmeros conflitos. No decorrer deles, Israel ocupou os territórios da Cisjordânia, Península do Sinai, Faixa de Gaza e Colinas de Golã.
Na divisão inicial, Jerusalém era um “Corpus Separatum”, devido à importância religiosa (judaísmo, islamismo e catolicismo), ou seja, recebia um tratamento especial e separado do controle de qualquer Estado-Nação, ficando assim a controle da ONU. Ao dar início à Guerra, Israel invade o território e estabelece o domínio do lugar, o que foi considerado um insulto pelos palestinos. Outros territórios das fronteira da Cisjordânia também foram anexados. No mesmo ano, houve uma guerra civil na Palestina, motivada pela declaração dada pelos estados árabes, que haviam rejeitado o Plano da ONU de Partição da Palestina (que a dividiria com os judeus). O primeiro conflito surgiu no ano seguinte, tendo início após a declaração de independência de Israel, com fim em 1949, após acordos de cessar-fogo entre israelenses (Israel) e a Liga Árabe – Líbano [luta península de Sinai], Síria, Egito, Iraque e Transjordânia (pequena porção de terra do mandato britânico).
• Palestina – Região do Oriente Médio que se encontra entre o deserto da Síria, o Líbano e o Mediterrâneo.
• Estado de Israel – País do Oriente Médio situado na extremidade sudeste do Mar Mediterrâneo. É um república democrática parlamentar fundada em 14 de Maio de 1948.
A CRISE DE SUEZ E A GUERRA DOS SEIS DIAS
Durante o período de Guerra Fria, Israel é fortalecido pela ajuda militar dos Estados Unidos, pois sua vitória tinha uma grande importância estratégica, já que Israel é uma faixa de conexão entre Ásia e África. Portanto, sua “conquista” seria, para os Estados Unidos (EUA), uma forma de impedir o avanço soviético. Fica evidente no conflito o poderio militar israelense contra os países árabes, de certa forma, um país contra vários.
Em 1956 aconteceu a Crise de Suez, quando Israel, tendo apoio da França e do Reino Unido, (que usufruíam do canal para a troca comercial com a Ásia e África) declarou guerra contra o Egito, cujo presidente, Gamal Abdel Nasser, havia nacionalizado o canal do Suez com apoio dos militares da União Soviética (URSS). Em outras palavras, foi um golpe do Egito com apoio soviético a um território que estava, até então, sendo controlado pela Inglaterra. Entre as consequências da nacionalização feita pelo Egito, estava o bloqueio ao porto israelense (Eilat). Novamente, o vencedor é o povo de Israel, que não só toma o canal, como também invade as penínsulas de Sinai e a Faixa de Gaza.
Em 1964, foi criada a OLP – Organização para a Libertação da Palestina, uma organização política e paramilitar, vinculada à Liga Árabe (representante do povo palestino). Seu objetivo era a libertação da Palestina pela luta armada, buscando de certa forma motivar o ataque a cidadãos civis, sendo assim considerados terroristas. Destaque para o “Al Fatah”, organização política que apresentava como líder Yasser Arafat. Entre algumas características do “Al Fatah” estão: não aceitar a determinação do Estado de Israel, buscar o retorno das fronteiras no período domínio britânico, proibir todo tipo de atividade do sionismo e buscar a autodeterminação dos palestinos.
A Guerra dos Seis Dias viria mais tarde, de 5 a 10 de junho de 1967. O conflito era de Israel contra os Estados da Síria, Egito, Jordânia e Iraque. Com os ataques realizados pelo Estado de Israel, com objetivo de abrir o estreito de Tiran e também conter o exército egípcio no Sinai, a vitória israelense aconteceu e, ao mesmo tempo, houve a anexação de território ao redor de seu Estado. Israel que iniciou o conflito, no dia 5, com uma porção de terra de aproximadamente 20.300 km2, no dia 10, já possuía aproximadamente 102.400 km2. Esse acréscimo relaciona-se às anexações da Península de Sinai, Colinas de Golã, a Faixa de Gaza, porção da Cisjordânia (que entrou no conflito motivada por Nassar e acabou perdendo porção territorial) e Jerusalém. Mais de 18 mil árabes morreram no conflito. Com mais força militar, apenas 766 israelenses morreram, aproximadamente. No entanto, o número de refugiados é o maior: cerca de 350 mil.
A GUERRA DE YOM KIPPUR
Um dos grandes massacres da história, a guerra começou no dia 6 de outubro e terminou no dia 26 do mesmo mês. Novamente, o Estado de Israel enfrentou uma coalizão de países árabes liderados pelo Egito e Síria, que iniciam o conflito com um ataque “surpresa”, em pleno feriado do perdão judaico. Esses países cruzaram os limites do cessar-fogo nas colinas de Sina e também nas Colinas de Golã, ao mesmo tempo, buscando retomar os territórios perdidos em 1967, durante a Guerra do Seis Dias.
Após duas semanas, o Estado de Israel consegue estabelecer o equilíbrio e retira o exército do Egito e Síria sobre os territórios anexados. Além desse ataque surpresa sobre os territórios, há também o econômico, que ocasiona a Crise do Petróleo de 1973.
Essa ofensiva na economia refere-se ao boicote da OPEP – Organização dos Produtores e Exportadores de Petróleo, onde seus membros são de maioria árabe, provocando o desligamento na exportação e tendo como consequência o aumento do preço do petróleo.
ProÁlcool – Programa realizado pelo governo brasileiro que visava à substituição do combustível derivado do petróleo, sobretudo a gasolina, motivado pela crise do petróleo em 1973. Após esse programa, o Brasil acelerou na produção de cana-de-açúcar e, atualmente, já é o principal exportador de Etanol para o mundo.
OS ACORDOS DE PAZ E AS INTIFADAS
Em 1978 foi assinado o Acordo de Paz com o presidente Anwar Sadat, do Egito, e o primeiro ministro de Israel, sendo o presidente dos Estado Unidos, Jimmy Carter, anfitrião e participante ativo das negociações de paz para a região.
Esse tratado de paz israel-egípcio que apresentava como objetivos o reconhecimento mútuo, da desocupação da península de Sinai por Israel, limitações na fronteiras comum, solução pacífica de controvérsias, extinções de boicotes, busca de um acordo de mobilidade na região, entre outros aspectos ligados a questões problemáticas entre as nações.
Na década de 1980, as negociações sobre o futuro do Oriente Médio não avançaram. Os árabes iniciam a Intifada (Guerra das Pedras), rebelião popular em Gaza, cujo estopim foi o atropelamento e morte de quatro palestinos por um caminhão do exército israelense, em 1987. Adolescentes, munidos de paus e pedras, enfrentaram, nas ruas, os soldados de Israel e o levante se alastrou. A repressão israelense foi brutal e demonstrou a desigualdade de forças entre palestinos e israelenses. Desde então, os choques entre palestinos e colonos nas áreas de ocupação israelense têm sido frequentes.
A imagem acima representa a Intifada.
Em 1992, porém, a eleição de Itzhak Rabin, membro do Partido Trabalhista, para Primeiro Ministro de Israel, favoreceu a retomada das conversações de paz entre árabes e israelenses. Simultaneamente, Arafat, enfraquecido pelas dissidências internas a OLP, já adotava uma postura menos belicista e mais conciliadora.
A disposição de ambos levou-os, em 1993, a um encontro em Oslo, onde ficou decidido que, de forma gradual, Israel devolveria a Faixa de Gaza (área pobre onde se espremem 800 mil palestinos) e de Jericó, na Jordânia, para a administração direta e autônoma dos palestinos, apesar dos cerca de 100 mil colonos judeus ali instalados permanecerem protegidos pelo exército israelense.
Ao acordo, opuseram-se as facções palestinas hostis a Arafat, alegando que as concessões de Israel eram pequenas frente aos desejos dos palestinos, e os israelenses que habitam as regiões a serem devolvidas. Em 4 de novembro de 1995, durante um comício pela paz na Praça dos Reis, em Tel Aviv, um estudante judeu de 27 anos, membro de uma organização paramilitar de extrema direita, assassinou Itzhak Rabin.
As negociações de paz não avançaram depois da eleição de Benjamin Netanyahu, do Likud, partido de direita israelense, para o cargo de primeiro ministro. Netanyahu não estava disposto a fazer concessões aos palestinos. Todavia, em 1999, realizaram-se eleições gerais em Israel e o Partido Trabalhista, representado agora por Ehud Barak, foi reconduzido ao poder, reabrindo as negociações de paz para a região. O grande obstáculo nesse momento é decidir sobre a situação de Jerusalém, cidade sagrada tanto para judeus quanto para muçulmanos.
Todavia, em setembro de 2000, um episódio marcaria o acirramento das tensões entre palestinos e israelenses, quando Ariel Sharon, líder do Partido Conservador e principal expoente do conservadorismo judeu, “visitou” a Esplanada das Mesquitas em Jerusalém. O ato pareceu uma forte provocação aos árabes e deu início à “nova intifada”. Ataques terroristas e confrontos diretos entre palestinos e israelenses tornaram-se cada vez mais frequentes, ameaçando perigosamente as conversações de paz.
A situação, porém, tornou-se mais violenta quando, no início de 2001, o mesmo Ariel Sharon foi eleito Primeiro Ministro de Israel, revelando o sentimento dominante entre os israelenses de não retomar as negociações para a criação do Estado Palestino enquanto durar a intifada.
Diante da violência dos atentados terroristas promovidos pelo Hamas e pelo Hezbollah, as ações do exército israelense também tem sido cada vez mais cruéis, atingindo, inclusive, a população civil das regiões dominadas.
• Hamas – Organização política islâmica palestina que venceu as eleições legislatias palestinas de 2006. É classificada como organização terrorista por Estados Unidos (EUA) e União Europeia (UE).
• Hezbollah – Grupo xiita formado em 1982 e baseado no Líbano, com um ramo civil e outro militar. É considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos.
SITUAÇÃO ATUAL
Os conflitos entre Israel e a Faixa de Gaza se intensificaram de tempos em tempos, e julho de 2014 foi um desses momentos. Os dois territórios apresentam instabilidade política há anos, ou seja, existe todo um processo histórico conturbado e, com a passar do tempo, as divergências no Oriente Médio vem provocando inúmeros confrontos, resultando em morte e destruição.
Esse aumento da violência apresenta motivações diferentes entre os dois lados. Para Israel, os principais motivos são: o Hamas é o responsável pelo sequestro e assassinato de três adolescentes; pelo ataque feito pelo Hamas com foguetes e, ao mesmo tempo, a melhoria de seu arsenal de guerra de forma geral. Os israelenses acusam o Hamas de serem um grupo terrorista que não reconhece a existência do Estado de Israel e que não aceita a rendição e o desarmamento.
Já para os Palestinos, os principais motivos da guerra são: um adolescente sequestrado e assassinado em Jerusalém (o jovem foi queimado vivo). Tal ocorrência levou à prisão de seis extremistas pelo assassinato do garoto, sendo que três dos detidos confessaram o crime. Grande parte da população palestina reivindica o controle israelense sobre o território da Faixa de Gaza, afirmando ser abusivo e completamente desrespeitoso aos direitos humanos. Isso ocasiona problemas como a fome (embora a Faixa de Gaza tenha acesso ao mar, não é permitida a pesca), pobreza e desemprego (intervenções contra o “comércio” palestino), além da dependência de recursos básicos como eletricidade, água e meios de comunicação.
Com a força militar do exército de Israel, o número de mortos palestinos é bem maior do que o de israelenses. Outro motivo para a ira palestina se dar pelo fato de Israel ter detido inúmeros militantes do Hamas em sua busca aos adolescentes sequestrados. Com cerca de 2 milhões de habitantes em aproximadamente 365 quilômetros quadrados, a Faixa de Gaza é um lugar de altíssima densidade demográfica, ou seja, é extremamente concentrado e povoado. Intensifica, com isso, a possibilidade de maior número de mortos com os bombardeios.
Em dezembro de 2017, ignorando alertas de líderes internacionais, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel e ordenou a transferência da embaixada americana para Jerusalém. A medida rompe com a convenção internacional e, segundo especialistas, dificulta ainda mais o processo de paz no Oriente Médio e a estabilidade da região.