GLOBALIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E SOCIOLOGIA
Aprenda sobre a Globalização.
O MUNDO EM FLUXO
A Globalização é um fenômeno que não é possível ser explicado através de apenas uma perspectiva. Falar de globalização é falar de transformações nas relações econômicas e culturais, na arte, nos meios de comunicação, em dinâmicas sociais e relações de poder e nas mudanças no espaço.
Sim, a globalização é um fenômeno que promoveu integração e fluxo em escala global de pessoas, informações, capital e mercadorias. Reduziu distâncias – reais e virtuais – entre indivíduos, países e povos, provocou um intenso avanço tecnológico, com destaque para as novas formas de comunicação digital, ou seja, transformou de maneira significativa o modo como vivemos, entendemos e explicamos o mundo.
Porém, como dito, a globalização é um processo com dimensões e perspectivas variadas. Por esse motivo, muitos autores, de diferentes áreas do conhecimento, dedicaram esforços para entender e explicar esse fenômeno tão complexo do mundo contemporâneo.
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A GLOBALIZAÇÃO: TEORIAS E PRÁTICAS
Bauman e a Modernidade Líquida
Para iniciarmos o estudo de algumas teorias que se debruçaram sobre o tema Globalização, falaremos a respeito de Zygmunt Bauman (1925 – 2017), autor polonês que construiu uma vasta obra que o coloca entres os pensadores sociais mais lidos e influentes da virada do século XX para o século XXI. Autor de Modernidade Líquida e Globalização: Consequências Humanas, entre outras obras, seu pensamento se situa como central nos debates sobre consumo, trabalho e identidades na contemporaneidade.
Antes de falarmos sobre as transformações, é necessário apontar os antecedentes do chamado mundo pós-moderno e, para isso, é importante falar sobre o que Bauman entende como a modernidade sólida. Esse cenário trata de todo um plano material e simbólico no qual as relações sociais são marcadas pela estabilidade e solidez. De modo mais objetivo, as relações no plano familiar, por exemplo, eram mais duradouras e rígidas, as tradições, saberes e costumes transmitidos dos membros mais velhos para os mais novos tinham um lugar decisivo na vida dos indivíduos.
Podemos falar ainda de outro plano da estabilidade da modernidade sólida, segundo Bauman: a centralidade do Estado-nação e a própria ideia de nação como critério para construção de identidades. A rigidez da estrutura do estado e a estabilidade identitária a uma nação fortemente construída também marcam essa solidez.
Entretanto, Bauman vai afirmar que, após as guerras mundiais, o mundo e, em especial, essa relações, sofrerão transformações decisivas. De um cenário marcado pela solidez e estabilidade, teríamos agora a liquidez como principal característica, dessa forma, vivemos o momento da modernidade líquida. A modernidade líquida é marcada pela instabilidade e volatilidade. As relações sociais, antes sólidas, agora são efêmeras, fluídas e breves.
A Globalização intensifica esse processo. A evolução tecnológica dos meios de comunicação trouxe uma velocidade na produção e circulação de informação e conteúdo nunca antes vista. Nesse sentido, Bauman observa que estamos constantemente sendo expostos a uma quantidade tão significativa de informações que, por vezes, não conseguimos dar conta de termos um entendimento preciso sobre esses elementos.
Ainda no plano das transformações, o pensador afirma que a modernidade líquida põe em xeque padrões universais. Como dissemos, na modernidade sólida a identidade estava fortemente vinculada à ideia de nação, mas no cenário de liquidez e globalização, as identidades ficam fragmentadas e multifacetadas. A construção das identidades individuais e coletivas passa a levar em conta fatores culturais-midiáticos e padrões de consumo, e esses fatores estão em constante e rápida transformação.
Em resumo, Bauman fez um estudo complexo e relevante dessas mudanças. Com seu olhar crítico, por um lado, deu conta de mostrar que a modernidade líquida levou os indivíduos a terem uma capacidade de adaptação frente à rapidez das transformações, por outro, promoveu um cenário de instabilidade e incerteza frente à fluidez das relações no mundo contemporâneo.
Castells e a Sociedade em Rede
O sociólogo espanhol Manuel Castells (1942 –) é certamente um dos mais relevantes estudiosos do tema globalização, em especial sobre como as tecnologias e a comunicação afetam as relações sociais.
As grandes transformações e evoluções tecnológicas resultantes da revolução digital alteraram de modo decisivo como vivemos em sociedade. Mídias digitais, internet, redes sociais, smartphones, ou seja, todo esse vasto conjunto de instrumentos e técnicas de comunicação tem grande impacto nas sociedades contemporâneas. Mas que impactos são esses?
O cenário que temos, segundo Castells, é o de sociedade da informação. Nesse contexto, há toda uma nova forma de organização da vida baseada na capacidade de comunicação e de informação. São mudanças na dinâmica de poder, nas relações políticas, sociais, econômicas e culturais. Novos modelos de comportamento, padrões estéticos e de consumo que são reconfigurados, e até a própria lógica da educação (dentro ou fora da escola) sofre mudanças.
Entretanto, esse processo não é igual para todos. Castells afirma que estamos vivendo a era do capitalismo informacional e há um cenário de desigualdade pois nessa era do capitalismo, a produção de riqueza depende da capacidade de indivíduos e organizações se articularem dentro desse universo informacional. A rede de comunicação é vasta, mas as conexões são limitadas. Para gerar riqueza nesse contexto, é necessário entender e saber como se estruturar dentro dos códigos de comunicação existentes.
Em outras palavras, as tecnologias não estão desassociadas dos processos sociais e culturais, como um ente independente, mas estão sujeitas às disputas econômicas e de poder. Logo, dentro do capitalismo informacional, alguns conteúdos terão valor e outros, não. Algumas informações e linguagens terão (ou poderão ter) valor e outras, não. Ou seja, as dinâmicas de disputas econômicas e por poder estão mantidas dentro da sociedade contemporânea.
Milton Santos e uma outra Globalização
Por tempos, o debate em torno da globalização foi pautado por uma perspectiva romântica, isto é, uma crença de que esse fenômeno de fato estaria promovendo um cenário de aldeia global, um mundo completamente interligado, com trocas e fluxos irrestritos de informação, pessoas e conteúdos.
Entretanto, algumas visões críticas sobre esse quadro foram construídas ao longo do fim do século XX e início do século XXI. Um dos mais pujantes contrapontos foi desenvolvido pelo geógrafo brasileiro Milton Santos (1926 – 2001), um clássico que ganhou relevância para além de sua disciplina, sendo fundamental para diversas áreas do conhecimento.
Milton Santos entende que essa imagem romântica da globalização e seus efeitos são, na verdade, uma fábula, uma criação fantasiosa sobre os aspectos essencialmente positivos do fenômeno, mas que de fato suas consequências mostram uma realidade distinta daquilo que foi amplamente propagado.
Para Milton Santos, o contexto da globalização é de uma perversidade, um processo de submissão cultural no qual as grandes potências e grupos econômicos transnacionais impõem padrões de consumo, estéticos, culturais e midiáticos sobre países e povos na periferia desse fenômeno global. Além dessa forma perversa de submissão, há outra vertente problemática: dentro desse espaço – físico e virtual – proporcionado pelas novas tecnologias de comunicação, o acesso é desigual. Em outras palavras, para aqueles que têm poder e capacidade de consumo, de fato, há um intenso fluxo e trocas de informação, conhecimento, produções culturais e artísticas e experiências, mas para aqueles que não possuem acesso ou ele é extremamente restrito, restam a desigualdade e a exclusão digital em suas diferentes formas.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/46/Milton_Santos_%28TV_Brasil%29.jpg
No entanto, Milton Santos também propôs alternativas a esse cenário perverso. Em sua obra Por uma outra Globalização, o autor apontou caminhos para que esse cenário de desenvolvimento tecnológico e contato global entre povos pudesse promover um mundo baseado em ideais de igualdade e fraternidade entre as nações.
Na visão de Santos, apesar do acesso aos meios tecnológicos ser desigual, dentro das possibilidades, seria viável construir novas formas de economia, de desenvolvimento e comunicação. Por exemplo, os meios virtuais de comunicação possibilitam o intenso contato entre povos, culturas e costumes distintos e, a partir dessa troca, a construção de uma nova filosofia, uma nova forma de conhecer e explicar o mundo, diferente dos padrões hegemônicos impostos pelas grandes potências.