Relações Culturais
Aprenda sobre Relações Culturais.
O QUE É CULTURA?
A origem da cultura está depositada no momento em que o homem abandona o seu estado de natureza. Esse é o estado de diferenciação do homem e dos outros primatas. Esse é o homem que deixa o ambiente natural a partir de suas ações por instintos e passa a ser guiado por regras, e comportamentos que caracteziram o estado de cultura. Esse estado de cultura é composto por padrões consolidados e organizados pelos grupos humanos.
Cultura pode ser entendida como tudo aquilo que é produzido pelo ser humano. Seria tudo aquilo que compromete o agir, o sentir e o pensar das pessoas. São os costumes, a linguagem, os valores morais, o comportamento, a religiosidade elementos materiais e imateriais e todos os símbolos que constituem uma rede de significados criada pela sociedade para que os indivíduos possam interagir entre si.
O antropólogo Clifford Geertz (1926-2006) entendia a cultura como um conjunto de símbolos com significado próprio. Para ele, a cultura entrelaça o indivíduo em sociedade a uma teia repleta de símbolos e representações que ele mesmo criou, sendo assim, há uma busca constante pelo entendimento dos significados desses elementos.
OS SÍMBOLOS PODEM SER MATERIAIS OU IMATERIAIS:
A cultura é dinâmica, é algo que sofre a ação do tempo, está inserida em um contexto histórico-social específico. Por isso, a cultura é transmitida historicamente, incorporada em símbolos e materializada em comportamentos. Assim, a cultura é dotada de símbolos, mitos e, segundo Geertz, emblemas e sinais que a identificam e criam uma relação direta entre os indivíduos que partilham desses elementos.
As diversidades culturais não são explicadas através de aspectos geográficos ou biológicos. O ambiente físico também não explica a diversidade cultural, já que as diversas maneiras de se comportar estão inseridas em um tempo histórico específico e acabam por influenciar as diversas formas de organização da sociedade (e não é o território onde elas se encontram que determina o seu comportamento).
• Temos como símbolos materiais a alimentação e as formas de se vestir, por exemplo.
• Já como símbolos imateriais encontramos a linguagem, os ritos religiosos, os valores morais, entre outros.
Pensemos em uma criança nascida no Brasil que é adotada por uma família no Japão. Ora, toda a sua maneira de se comportar será de uma menina japonesa, seu modo de se vestir, de se comportar diante das questões sociais, sua alimentação e valores morais serão de acordo com o que aprendeu ao longo da vida, e isso não foi determinado pelo lugar onde nasceu. Muito menos pelo aspecto biológico. A genética não determina “comportamento social”, não determina e nem torna um sujeito mais ou menos pré-disposto para determinado hábito que se dá através da apreensão.
A cultura seria uma forma de se expressar diante do mundo. Cada organização social tem a sua forma de se mostrar para os outros, e, criando uma linguagem própria acaba, também, por criar uma teia que agrega todos aqueles que fazem parte dela. A área que se ocupa do estudo dos diferentes comportamentos e os entende a partir das diferenças, das particularidades dentro de uma lógica social e histórica, é a Antropologia Cultural.
Já a Antropologia Biológica estuda as características físicas das ditas etnias e, em outros momentos, as chamadas “raças”, dentro de uma perspectiva evolucionista. Assim, utilizam estudo dos fósseis e arqueologia dos povos. O grande questionamento que se faz é acerca da interferência genética ao comportamento social. Um indivíduo que nasce e cresce numa dada cultura apreende símbolos que são seus referenciais de Identidade Cultural. Seus comportamentos dentro dessa sociedade estarão disponíveis de acordo com o que absorveu durante todo o seu processo de aprendizado. E quando entramos em contato com outras culturas? Sabemos que as relações sociais e o contato com outras culturas levam a trocas culturais. A diversidade, quando observada sob esse olhar, nos leva a crer que mudanças de valores, comportamentos e de símbolos em geral, podem ocorrer.
No momento em que culturas diversas interagem, a troca é mútua e as mudanças ocorrem para todas elas, porém não da mesma forma e não rapidamente. O longo processo de transformação cultural leva um tempo para se concretizar e não se cristaliza rapidamente, já que as culturas estão em constante contato e, portanto, em constante transformação.
TEORIAS
EVOLUCIONISMO SOCIAL
Com forte inspiração no Darwinismo Social, de maneira geral, pode ser definido na crença de que as sociedades mudariam e evoluiriam em sentido sendo que tais transformações apresentavam a transposição de um nível menos elevado para um estágio superior. De maneira análoga ao desenvolvimento do homem, as sociedades também estariam sujeitas à Lei da Seleção Natural. Dentro de um determinado contexto, prevaleceriam as sociedades mais aptas e capazes sendo as outras extintas, seja pela luta com as mais “desenvolvidas”, seja pela dificuldade de superar obstáculos naturais. Edward Tylor, Lewis Morgan e Herbert Spencer e James Frazer são seus teóricos mais influentes. O entendimento evolucionista proposto por Tylor pode ser representado por uma linha do tempo de avanço em estágios:
O Evolucionismo e o próprio Darwinismo Social foram utilizados como justificativa para muitas dominações ao longo da História. Como exemplo clássico desse processo, temos o Imperialismo no século XIX. Países como Inglaterra, França, Portugal e outros, em nome da conquista de novos mercados, deslocamento de capital excessivo e procura de mão de obra barata, buscaram, dominaram e influenciaram de forma arbitrária e, muitas vezes, unilateral, áreas consideradas por eles menos evoluídas e carentes de civilização e cultura. Esse processo acabou por hierarquizar as culturas e favorecer aqueles que tinham poder bélico econômico e, por esse motivo, acabam por destruir todas as organizações culturais existentes em países da África e da Ásia, por exemplo.
PARTICULARISMO HISTÓRICO
O antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942) entende que cada povo possui e está inserido em um tempo histórico: a composição cultural desses povos deveria ser compreendida de acordo com seus processos históricos, sem juízos de valor.
FUNCIONALISMO
Bronislaw Malinowski (1884-1942) no século XX, desenvolveu uma perspectiva funcionalista da Antropologia, e investigava as mudanças e as diferenças, entendendo que algumas características não tinham razões para permanecerem. Percebemos uma visão eurocêntrica em seus estudos.
ESTRUTURALISMO
Claude Lévi-Strauss (1908- 2009), através de estudos etnológicos no Brasil, teve a percepção de que o homem sai do seu estado natural e se incorpora ao seu estado cultural quando aprende a cozinhar, aprende uma linguagem, e um conjunto de símbolos.
Nessa medida, a identidade cultural é uma só, mesmo a brasileira que, composta por tantas diferenças em si mesma, é rica em diversidade e pluralidade. Reconhecido como um dos mais importantes antropólogos do século XX, Lévi-Strauss afirma que há elementos universais, ou seja, categorias culturais presentes em toda sociedade humana. Esses elementos são as estruturas sociais. É fundamental ressaltar que, apesar de universais, as estruturas apresentam diferenças e particularidades dentro de cada cultura.
CULTURA E DIVERSIDADE
ETNOCENTRISMO
Vendo a partir da cultura e sua diversidade, assim como da pluralidade dos processos de formação de identidades aos quais os indivíduos se vinculam, percebe-se que há equivalência nos procedimentos ao nos diferenciarmos uns dos outros. A ideia de cultura coloca em pé de igualdade todas as suas diferentes manifestações, em outras palavras: cada cultura é equivalente a qualquer outra cultura. A dificuldade de aceitar a diversidade de culturas e identidades, ainda mais que estas são equivalentes, é o que se chama de etnocentrismo.
O termo etnocentrismo não é novo, foi cunhado em 1906 pelo sociólogo William G. Summer, que definiu como a “visão de mundo na qual o centro de tudo é o próprio grupo a que o indivíduo pertence; todas as coisas e todos os outros grupos são medidos e avaliados em relação a ele. ” A definição de Summer aponta que cada “cada grupo pensa que seus próprios costumes são os únicos válidos e se ele observa que outros grupos têm outros costumes, encara-os com desdém. ”
Exemplos de etnocentrismo estão em nosso cotidiano, como a intolerância religiosa que manifesta a dificuldade de aceitação da pluralidade de crenças existentes no Brasil e no mundo. Outros exemplos de etnocentrismo são: o preconceito de nacionalidades (xenofobia) entre nativos de um país e migrantes que por ali passam ou permanecem; o preconceito étnico que estigmatiza uma cultura ou etnia, como a expansão europeia na América chamava os povos ameríndios de “selvagens”, “bárbaros” e hoje se fala de “atrasados”, “subdesenvolvidos”; e o racismo que estabelece preconceituosamente uma hierarquias de “raças”, discriminando povos e considerando que um grupo seja superior ao outro com base em características físicas, de traços, de línguas, de comportamento e etc.
RELATIVISMO CULTURAL
Concomitantemente, a visão das ciências sociais baseada nos estudos, pesquisas, experiências e métodos científicos que prosperam para um alargamento do horizonte da visão que sujeitos tem do mundo é o relativismo cultural, que designa a igualdade e a equivalência entre as culturas e identidades sociais.
A constatação que todos pertencemos a uma cultura, que todas as culturas são equivalentes, e a busca por compreender particularidades e a diversidade, é o que chamamos de relatividade cultural.