TIPOLOGIA TEXTUAL II – NARRAÇÃO, DESCRIÇÃO E DISSERTAÇÃO
Os textos são classificados, de acordo com suas características, em determinados tipos, que variam conforme a predominância da existência de figuras ou de ideias abstratas.
Com isso, temos dois tipos de texto e seus decorrentes discursos de base, conforme o exposto na tabela abaixo.
Diz-se que os textos são concretos quando apresentam palavras ou expressões que correspondem a algo existente (o que se imagina como tal) no mundo natural ou social (figuras). Os textos abstratos são aqueles que apresentam ideias que organizam e ordenam a realidade percebida pelos sentidos. Já com relação aos discursos de base, os textos mais concretos apresentam-se como narrações ou descrições. Já aqueles mais abstratos, como exposições ou argumentações.
Em contextos escolares, o discurso expositivo, quando fundido ao argumentativo, gera o modelo dissertativo-argumentativo, típico das provas de vestibular.
NARRAÇÃO
Falar de texto narrativo é observar que a matéria da narração é o fato. O relato de um episódio real ou de ficção implica outros elementos (quem os vivencia, o fato em si e as circunstâncias), ou seja: o quê, quem, como, quando, onde, porquê, por isso.
Esses elementos não estão, necessariamente, presentes em todas as narrativas. No entanto, são imprescindíveis os elementos quem e o quê para que possa haver narração.
São cinco as categorias da narrativa, também chamadas de elementos da narrativa: o enredo, o narrador, os personagens, o tempo e o espaço (ambiente).
O enredo engloba a estrutura da narrativa. Mais do que entender a sequência de fatos constituintes da história, o enredo atua na compreensão do conflito; é a trama que envolve personagens que se opõem, diante de um complicador que leva a história para a frente.
Um enredo desenvolve-se nos seguintes estágios:
• Exposição
O narrador apresenta as circunstâncias da história, situando em época e ambiente determinados, introduzindo algumas personagens.
• Complicação
Ao se iniciar o conflito, há o choque de interesses entre personagens.
• Clímax
O ápice da história, o ponto de maior tensão. No clímax, o conflito de interesses entre as personagens chega ao ponto em que não há como adiar o desfecho.
• Desfecho ou desenlace
O material do enredo é o tema, resultante do tratamento dado ao assunto pelo autor, ou seja, o ponto de vista ou enfoque dado.
Além da sequência temporal que observamos no texto narrativo, temos como característica a apresentação de personagens que vivem fatos em determinado lugar (espaço) e tempo. Os fatos são narrados por um narrador. É importante observar que o narrador é uma entidade literária, sem existência real; logo, não pode ser confundido com o autor do texto. É ele quem conta a história, apresenta as personagens e, ao fazer isso, constrói um determinado foco narrativo. O foco narrativo é, então, a perspectiva a partir da qual uma história é contada.
O narrador em 1ª pessoa pode assumir duas posições diante do que narra:
NARRADOR-PROTAGONISTA OU PERSONAGEM PRINCIPAL
Não tem acesso aos sentimentos, pensamentos e intenções dos outros personagens, mas narra suas percepções, sentimentos e pensamentos. Por meio desse foco, é possível ao leitor traçar o perfil do protagonista.
NARRADOR-TESTEMUNHA OU PERSONAGEM SECUNDÁRIO
Embora narre de dentro da trama os acontecimentos, não consegue saber os sentimentos das outras personagens, limitando-se a inferências e hipóteses. Pode ou não tecer comentários.
O narrador em 3ª pessoa, por sua vez, pode assumir duas posições diante do que narra:
NARRADOR-ONISCIENTE
Tem conhecimento de tudo, até dos pensamentos e sentimentos dos personagens. Está acima de tudo, por isso, pode antecipar ações e fatos futuros.
NARRADOR-INTRUSO
Simula um diálogo com o leitor, julga, comenta e analisa o comportamento e atitudes narradas.
DESCRIÇÃO
É o tipo de texto que mostra de forma verbal um objeto, ser, coisa, paisagem ou mesmo um sentimento, sempre por meio da apresentação de seus elementos mais característicos, de suas particularidades e a forma e a ordem de sua organização.
A finalidade básica de uma descrição é estimular os sentidos provocados pela coisa observada, como se pudesse dar ao leitor as mesmas impressões que se tem ao estar diante daquilo que é descrito.
Para isso, é importante atentar para o ponto de vista, seja ele a posição física em que se encontra o observador, seja a orientação afetiva que apresenta diante daquilo que é descrito.
Daí decorrem dois tipos de descrição. A descrição objetiva e a descrição subjetiva. Na primeira, a coisa descrita é mostrada de forma concreta, com foco em seus aspectos intrínsecos, sem revelar as impressões do observador; assim, o foco são características como forma, tamanho, volume, coloração, espessura etc.
Na descrição subjetiva atenta-se para a percepção do observador em relação ao que é descrito. Neste tipo de descrição, existe a parcialidade do observador que demonstra suas emoções e impressões individuais acerca daquilo que descreve.
É também particularmente importante em uma descrição a ordem dos elementos apresentados ao longo do texto. Essa progressividade auxilia o leitor a combinar os detalhes descritos em uma imagem unificada.
DISSERTAÇÃO
A dissertação se caracteriza pela defesa de uma ideia, de um ponto de vista, ou pelo questionamento acerca de um determinado assunto. Para a fundamentação desse ponto de vista, o texto dissertativo utiliza-se de uma estrutura argumentativa, pois é a partir desses argumentos que se justificará a ideia central da dissertação.
Em geral, para se obter maior clareza na exposição de um ponto de vista, costuma-se distribuir o texto dissertativo em três partes:
• Introdução: em que se apresenta a ideia ou o ponto de vista a ser defendido.
• Desenvolvimento ou argumentação: em que se desenvolve o ponto de vista para tentar convencer o leitor, usando uma sólida argumentação, com exemplos, citações, ou fornecimento de dados.
• Conclusão: em que se dá um fecho ao texto, coerente com o desenvolvimento e com os argumentos apresentados.
Em um texto dissertativo não há, de forma alguma, a marca de interlocução. Argumenta-se para convencer um leitor hipotético, chamado de interlocutor universal. Portanto, em uma estrutura dissertativa, a presença da 2ª pessoa ou de vocativos implica uma inadequação ao tipo de texto.
Como a elaboração de uma dissertação não está centrada na função poética da linguagem, mas na exposição e defesa de ideias, não se justifica o uso exagerado de figuras de linguagem, pois os subtextos que a linguagem figurada cria podem, de alguma forma, esvaziar o poder argumentativo do texto.