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Língua e Linguagem

Língua e Linguagem

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Receita de acordar palavras

Palavras são como estrelas
Facas ou flores
Elas têm raízes pétalas espinhos
São lisas leves ou densas
Para acordá-las basta um sopro
Em sua alma
E como pássaros
Vão encontrar seu caminho.

(MURRAY, Roseana. Receitas de olhar, SP: FTD, 1997)

No poema, a autora define subjetivamente o que são palavras.

Para tanto, realiza comparações com elementos da natureza (“estrelas”, “flores”) e com instrumentos do cotidiano (“facas”) para, então, atribuir características (“lisas”, “leves”, “densas”). Pode-se dizer que a poetisa utilizou, por meio da língua, a “linguagem da poesia” para expressar um discurso. Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, “a distinção entre linguagem, língua e discurso, [é] indispensável do ponto de vista metodológico”, isto significa que é necessário que se realize a diferença entre esses conceitos para uma melhor compreensão do processo de comunicação humana.

Conforme a definição dos autores, LÍNGUA é um sistema gramatical que pertence a um grupo de indivíduos, cuja utilização expressa a consciência de uma coletividade e, por isso, está em constante evolução. Seria, assim, um conjunto de “leis” criado por uma sociedade por meio do qual é possível estabelecer um convívio, um entendimento entre as pessoas.

O conceito de LINGUAGEM é mais amplo e está relacionado à expressão da língua. Trata-se da representação do pensamento por meio de quaisquer sinais convencionados. Esses sinais organizam-se de duas formas essenciais: verbais — que apresentam como instrumento a palavra — ou não verbais — expressos por gestos, cores, movimentos, sons, imagens. Também podem agir em sinais mistos, confluindo as linguagens verbal e não verbal.

Esses sinais (ou signos) convencionados por uma comunidade para a transmissão das mensagens são chamados de códigos.

Na charge de Cícero, há um pensamento crítico em relação ao aquecimento global, grande preocupação no mundo hoje. Percebem-se elementos verbais e não verbais que contribuem para o entendimento da mensagem. O questionamento do filho sobre a existência de gelo e o próprio título aliados à imagem dos pinguins ilhados revelam a expectativa do emissor sobre o futuro do planeta.

O DISCURSO é a reprodução da língua por meio de uma linguagem executada por um indivíduo dentro de um convívio social. Por ser algo subjetivo, é a expressão de um interesse e de um pensamento. A maneira como será expresso a sociedade dependerá do estilo (“aspecto” da forma de expressão de um discurso) daquele que o cria e o transmite aos demais.

A partir da diferenciação entre língua, linguagem e discurso fica claro que o processo de comunicação implica a troca de conhecimentos e experiências entre os indivíduos envolvidos, ou seja, o ato da fala/escrita está relacionado a um ato social.

Veja o texto a seguir:

A AÇÃO DA COMUNICAÇÃO

Quando um enunciador comunica alguma coisa, tem em vista agir no mundo. Ao exercer seu fazer informativo, produz um sentido com a finalidade de influir sobre os outros. Deseja que o enunciatário creia no que lhe diz, faça alguma coisa, mude o comportamento ou de opinião etc. Ao comunicar, age no sentido de fazer-fazer. Entretanto, mesmo que não pretenda que o destinatário aja, ao fazê-lo saber alguma coisa, realiza uma ação, pois torna o outro detentor de um certo saber.

(Platão, F.S. & Fiorin, J, L. Lições do texto: Leitura e Redação. SP: Ática, 1996.)

Com base no texto do Professor Fiorin, é possível entender que a intenção de um enunciador, por exemplo, pode não ser a de fazer com que o seu interlocutor mudar de opinião ou de comportamento sobre um assunto, mas que reflita sobre o seu discurso. O pensamento do enunciador não precisa ser uma realidade absoluta, mas representa o pensamento de seu criador sobre sua realidade social, naquele momento. O objetivo da comunicação, neste caso, é levar o interlocutor à reflexão. Desta forma, pode-se dizer que o ato da comunicação foi realizado.

Veja esta tira de Luis Fernando Verissimo:

A tira é construída em três cenas. Nelas, se verifica uma situação de conversação entre os personagens envolvidos. A filha é quem representa papel de locutor, isto é, a pessoa que fala, na primeira cena. Os pais são os interlocutores, isto é, as pessoas com quem se fala. Essa tira retrata uma situação de comunicação, pois as pessoas interagem pela linguagem, de tal forma que modificam o comportamento do outro. Assim, o que uma pessoa transmite à outra na forma de linguagem chama-se mensagem. A comunicação ocorre quando, ao emitirmos uma mensagem, nos fazemos compreender por uma pessoa.

Em um ato de comunicação não estão em jogo somente palavras, mas também gestos e movimentos. Quando empregamos esses elementos com a intenção de estabelecer uma comunicação, estamos usando diferentes linguagens. Essa linguagem, por conceito, é a representação do pensamento por meio de sinais que permitem a comunicação e a interação entre as pessoas.

Tais sinais que permitem o ato de comunicação são os chamados signos linguísticos. Segundo o escritor e linguista Umberto Eco, define-se como signo aquilo que “à base de uma convenção social previamente aceita, possa ser entendido como algo que está no lugar de outra coisa”. Por exemplo, quando se diz que alguém é uma raposa, por uma convenção, estabelece-se que se trata de alguém esperto, por uma analogia com o animal, o vocábulo “raposa” está em lugar de “esperto” no contexto.

A partir desses conceitos, percebe-se que, na tira, houve uma falha na comunicação entre o pai e namorado da filha. O rapaz não entendeu a mensagem porque a palavra “Shakespeare” não representa um signo para ele, não comunica nada: o nome do escritor inglês é interpretado como algo para beber.

Os signos podem ser verbais (as palavras) ou não verbais (gestos, símbolos, cores, até o tom de voz). Repare que em um anúncio de sorvetes, por exemplo, há, normalmente, sol e uma luz alaranjada, signos que representam o calor. Da mesma maneira, propagandas que querem sugerir uma certa intelectualidade costumam usar atores com óculos, signo de uma possível bagagem cultural. Tais signos, juntos, ajudam o interlocutor a perceber a intenção da mensagem que se quer passar.

São signos os sinais verbais ou não verbais, que apresentam dois eixos de significação: uma parte perceptível (sons, letras) e uma parte inteligível (conceito). Assim, no campo das palavras, entende-se por signo linguístico a unidade constituída de expressão e de conteúdo, de significante e de significado, respectivamente.

significante → coroa

significado → 1. arranjo de flores; 2. ornamento de reis, rainhas; 3. idoso.

Veja que a propaganda acima explora os recursos do significado do signo “coroa”. Por se tratar de uma propaganda de empresa funerária, a palavra está ligada ao arranjo de flores presente em funerais; no entanto, a figura do senhor em destaque também faz alusão à gíria usada para idosos, ou seja, arranjar uma companheira.

Leia este anúncio da LPCE (Liga portuguesa contra epilepsia):

A intenção do anunciante é divulgar a ideia do voluntariado para ajudar à associação. Os questionamentos dirigidos ao público (“Sente necessidade de ser útil? Necessidade de dar apoio e suporte?”) se juntam à conclusão simples, porém fundamental: “com pequenos gestos podemos melhorar a vida de outras pessoas… seja voluntário”.

Repare que o anúncio mostra várias mãos juntas como num “cabo de guerra”. Tal procedimento dá ao público uma imagem de que a associação precisa de sua colaboração nesse “jogo”. Ora, essa imagem nos remete à ideia de que quanto mais pessoas estiverem ajudando, a tarefa a ser cumprida será menos árdua. A imagem das mãos no “cabo de guerra” é, portanto, um sinal que ajuda a perceber a intenção da mensagem do anúncio. É um signo não verbal.

O ser humano utiliza diferentes tipos de linguagem, como a da música, da dança, da pintura, da fotografia. Essas várias linguagens se organizam em dois grupos: a linguagem verbal, que tem por unidade os signos verbais, as palavras; e as linguagens não verbais, que têm como unidade signos não verbais, como o gesto, a imagem, o movimento, como analisado acima. Há, ainda, as linguagens mistas, como a das histórias em quadrinhos, o cinema, a televisão, que utilizam a palavra e a imagem.

Numa situação de comunicação, se empregamos palavras, gestos, movimentos, estamos empregando um código. Código é um conjunto de sinais convencionados socialmente para a transmissão da mensagem.

Não só as palavras, gestos, são códigos, mas também os sinais de trânsito, os símbolos, o código morse, as buzinas de automóveis. É importante notar que só haverá comunicação utilizando um código se os interlocutores tiverem essa convenção internalizada. Determinados gestos podem representar sentidos diferentes dependendo das comunidades em que se vive.

Na nossa comunidade, usamos a língua portuguesa como principal código. Língua é um tipo de código formado por palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si. Em cada sistema linguístico, há regras de diversas naturezas, sejam lexicais, sejam sintáticas. Quando escutamos palavras como Love ou Sun, percebemos que estamos diante do código empregado na língua inglesa, pois se trata de palavras do vocabulário desse idioma.

Porém, dominar bem uma língua não significa apenas saber seu vocabulário; é preciso também ter domínio de suas leis combinatórias, de suas ordens internas, de sua sintaxe. Saber, por exemplo, que no código da língua inglesa o adjetivo vem sempre anteposto ao substantivo, enquanto que, na língua portuguesa, a anteposição do adjetivo pode, inclusive, alterar o sentido da palavra.

Outro traço fundamental em jogo nesse sistema linguístico é o aspecto fonético. Quantas vezes ouvimos nas resenhas internacionais sobre jogos da seleção brasileira a pronúncia “errada” do meio-campo Falcão, hoje comentarista de futebol? Invariavelmente ouvíamos “Falcao”, sem o til. Essa nasalização, característica da língua, causa dificuldades em falantes não nativos. Da mesma maneira, nós, falantes de língua portuguesa, apresentamos grandes dificuldades para a realização de certos fonemas de outros códigos linguísticos, como a pronúncia do inglês the (com a língua entre os dentes, inclusive), ou ainda o ich alemão.

Além disso, um conhecedor da língua é, presumivelmente, um conhecedor das nuances que regem essa língua. Um estrangeiro poderá ter dificuldades ao receber como resposta um “pois não”. Entrar na “lista negra” não significará uma cor dessa tal lista. Quando se fala em saber usar a língua, percebe-se que a intenção do falante é o que realmente importa, ele é o sujeito dessa ação e é fundamental dominá-la, até mesmo para jogar com suas possibilidades, com suas ambiguidades, seus duplos sentidos. Em outras palavras, em uma situação de conversação, será sempre o falante o sujeito da ação de escolher os enunciados que melhor se ajustem às suas intenções. Toma-se um exemplo recolhido da fala do professor Agostinho Dias Carneiro, em uma palestra para professores de Língua Portuguesa no Colégio Pedro II:

A menina, adolescente, chega a casa altas horas da noite. O pai, sisudo, esperando por ela:

– A senhora sabe que horas são?

– O pneu do carro do Rodrigo furou.

– Que isso nunca mais se repita.

Repare que a menina não respondeu ao que o pai perguntou. Ela jogou com a língua da maneira mais conveniente para ela. E o pai, ao lançar a fala final, definitiva, sabe que, na maioria dos casos, aquilo se repete, sim.

Um usuário da língua deverá entender a nuance que regeu esse diálogo, no qual não vale o que se está dizendo, mas o que está subentendido. Dessa forma, como afirma o linguista russo Mikhail Bakhtin, a verdadeira substância da língua não está num sistema abstrato de formas linguísticas, mas no fenômeno social da interação verbal, realizado através da enunciação. Diz ele: “A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua”.

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