Funções da Linguagem
Em um sistema de comunicação, reconhecemos os elementos básicos: o emissor, o receptor e a mensagem. Além desses elementos, temos o código pelo qual a mensagem é decodificada e o canal, que é o suporte físico que sustenta a comunicação. O ar, por exemplo, é o canal mais comum. O último elemento desse sistema de comunicação é o contexto ou referente.
Quando se dá uma comunicação, damos ênfase a um desses elementos, o que determina uma função a essa linguagem. Segundo um modelo proposto pelo linguista Roman Jakobson, são seis as funções da linguagem:
A FUNÇÃO EMOTIVA
Quando a intenção do produtor do texto é posicionar-se em relação ao que está abordando, é expressar seus sentimentos e emoções e o texto resultante é subjetivo, temos a função emotiva. Uma autobiografia, um diário são exemplos desses textos. Veja outros exemplos:
Velha infância
Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito
Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo é o meu
amor
[…]
Ainda que de gêneros diferentes, os dois textos – a tira de Quino e a música dos Tribalistas – apresentam uma linguagem centrada na 1ª pessoa, dando ênfase à expressividade, à subjetividade do emissor.
A FUNÇÃO APELATIVA
Quando a intenção do produtor da mensagem é influenciar, envolver, persuadir o destinatário; quando a mensagem se organiza em forma de ordem, chamamento, apelo ou súplica, temos a função conativa ou apelativa da linguagem. A linguagem publicitária utiliza essencialmente essa função da linguagem:
Veja que o anúncio se constrói a partir de um apelo ao leitor para que experimente a tinta da HP. Repare, também, nos verbos no Imperativo [ouse, invente]. O foco da mensagem está centrada no receptor. O uso do imperativo é representativo dessa função da linguagem
A FUNÇÃO REFERENCIAL
A função referencial centra-se na informação. Quando a intenção é transmitir ao interlocutor dados da realidade de uma forma direta e objetiva, sem ambiguidades, com palavras empregadas em seu sentido denotativo. Portanto, essa é a função que predomina em textos técnicos, institucionais, jornalísticos – informativos por excelência.
Veja um exemplo:
China quer investir na produção de soja no país
A China, maior importador mundial de soja, está promovendo uma ofensiva em várias frentes e em vários Estados no Brasil visando aumentar a sua presença na cadeia produtiva da cultura no país, informam Fabiano Maisonnave e Estelita Hass Carazzai. A estratégia será concretizada por meio de acordos de exportação com os agricultores, investimentos em indústrias e compra de terras.
(www.folhauol.com.br)
A FUNÇÃO POÉTICA
Quando a intenção do produtor do texto está voltada para a própria mensagem, mas não com a informação somente, e sim com a construção dessa mensagem, com uma melhor arrumação das palavras, quer na escolha, quer na combinação delas, temos a função poética. Assim, a função poética abarca elementos fundamentais expressivos como a sonoridade, o ritmo, o belo e o inusitado das imagens, valores conotativos, figuras de palavras. Esse belo poema de Manuel Bandeira dispensa comentários maiores. Apenas absorva a beleza de sua linguagem e de suas imagens poéticas:
Belo belo I
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis: Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.
A linguagem publicitária frequentemente utiliza a função poética em seus anúncios. Repare a imagem poética gerada pela palavra “princípio” em uma campanha veiculada na década de 90:
Ética: uma questão de princípio
A FUNÇÃO METALINGUÍSTICA
Quando a preocupação do emissor está voltada para o próprio código utilizado, ou seja, o código é o tema da mensagem ou é utilizado para explicar o próprio código, temos a função metalinguística.
Veja os exemplos:
Gosto da palavra fornida. É uma palavra que diz tudo o quer dizer. Se você lê que uma mulher é bem fornida, sabe exatamente como ela é. Não gorda, mas cheia, roliça, carnuda. E quente. Talvez seja a semelhança com forno. Talvez seja apenas o tipo de mente que eu tenho.
(Luis Fernando Verissimo)
Fornido [part. De fornir.] Adj.
1. Abastecido, provido.
2. Robusto, carnudo, nutrido, alentado.
HOLLANDA, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio Eletrônico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.)
Repare que nos dois exemplos temos uma metalinguagem. O cronista escreve um texto em que utiliza o código da língua portuguesa exatamente para falar da língua portuguesa; já o verbete do dicionário é o exemplo típico, uma vez que as palavras se organizam para explicar as próprias palavras.
A FUNÇÃO FÁTICA
A preocupação do emissor em manter o contato com o interlocutor, prolongando uma comunicação ou então testando o canal com frases do tipo “Veja bem…” ou “Olha…” ou “Entende?” caracteriza a função fática. Assim, o início, a retomada e final de uma conversação centram-se numa função fática. Veja um trecho da canção Sinal Fechado, de Paulinho da Viola, que caracteriza essa função:
– Olá, como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem, eu vou indo correndo pegar meu lugar no futuro
e você?
– Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranquilo, quem
sabe…
– Quanto tempo.
– Pois é. Quanto tempo.
[…]