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Prosa romântica: José de Alencar, Macedo e Almeida

Prosa romântica: José de Alencar, Macedo e Almeida

Aprenda sobre Prosa Romântica.

CONTEXTO DE INSERÇÃO DA PROSA NO BRASIL

Evidentemente, as condições históricas que permitiram a fixação dos princípios românticos no Brasil aplicam-se igualmente à poesia e à prosa. É claro que fatores como a urbanização da cidade do Rio de Janeiro, a “corte” do Império, além da formação de uma sociedade consumidora crescente que frequentava a cidade, influenciam decisivamente a procura por entretenimento – nesse caso, já influenciado pelo espírito nacionalista – com a “cor local”.

E foi assim que prosa romântica fez sucesso no Brasil, ganhando adeptos e formando um núcleo leitor, introduzida pelas histórias de autores europeus como Victor Hugo, Alexandre Dumas e Walter Scott, principalmente com a publicação desses escritores nos jornais, em folhetins diários, uma espécie de precursora das novelas televisivas dos dias atuais. Tal estratégia aumentou de forma expressiva a tiragem dos periódicos, devido ao entusiasmo declarado dos leitores, cativados pela nova narrativa, envolvente, de linguagem acessível, sem complicações intelectuais, de acontecimentos rápidos e de emoções fortes.

A estrutura folhetinesca buscava retratar pequenas desarmonias na ordem social burguesa vigente, com suas histórias apresentando conflitos que perturbavam a tranquilidade anterior, provocando a desordem e estabelecendo a crise nos valores burgueses; contudo, as dificuldades eram superadas e a felicidade era restabelecida com a reordenação da ordem burguesa, reafirmando-se os seus valores.

No Brasil, o público leitor desses folhetins era tipicamente urbano, apesar de ter suas raízes no mundo rural que lhes sustentavam: mulheres e estudantes que se estabeleceram na corte após a Independência, como parte da mudança da família em busca de ascensão econômica ou política – as esposas e filhas de tais famílias acompanhavam o traslado – ou filhos de senhores rurais mandados aos grandes centros para completar os estudos.

O sentimentalismo dos folhetins veio a modernizar uma sociedade que já se sentia incomodada com um conjunto de ideias intolerantes que refletiam a visão agrária e atrasada que não combinava com os valores urbanos que o pensamento burguês apregoava. Em 1844, com a publicação de A Moreninha de Joaquim Manoel de Macedo, a literatura brasileira avançava em busca da construção de uma identidade própria e abandonava as meras cópias e versões dos folhetins europeus, inaugurando a era do romance nacional.

ESTRUTURA DO FOLHETIM

Podem-se elencar algumas marcas bastante significativas do folhetim romântico do século XIX. O caráter conservador das narrativas nacionais fixava moralmente um modelo de sociedade que emergia pós-Independência. Características libertárias, luta por igualdade ou adaptações mais ligadas a determinados contextos europeus só aparecerão no romance brasileiro no final do movimento romântico. No geral, o folhetim estruturava-se em uma ordem mais ou menos definida:

1. Situação inicial de ordem burguesa.

2. Perturbação na ordem burguesa: alguma ruptura com preceitos familiares ou institucionais.

3. Crise nos valores burgueses, rejeição e desaprovação de ações dos protagonistas (via de regra jovens “contestadores”.

4. Busca pelo mérito e pela superação dos rejeitados.

5. Decadência ou equívoco do planejamento inicial imposto, normalmente com a descoberta de falhas morais que caracterizam o antagonista.

6. Superação das dificuldades.

7. Revelação de atitudes e personalidades com retratação e reaproximação.

8. A felicidade se restabelece com a reordenação da ordem burguesa, reafirmando os seus valores iniciais.

Assim, fatores como o sentimentalismo, o impasse amoroso e a idealização de sentimentos ou mesmo das questões nacionais surgem, em um primeiro momento, como as mais fortes características desses folhetins. As personagens eram normalmente planas – isto é, previsíveis em seu comportamento, sem grandes alterações no arco de sua própria história –, com utilização abusiva de modelos de heróis clássicos.

No plano da narrativa, apesar de que o foco narrativo pudesse variar bastante, são mais comuns as construções em terceira pessoa. Entretanto, uma característica constante é a ampla utilização de flash backs na narrativa. A linguagem busca uma afirmação nacional, afastando-se de modelos gramaticais lusitanos e, ainda que não reivindique a total oralidade popular, passa a representar a modalidade brasileira reconhecida pela aristocracia nacional.

TIPOS DE ROMANCES ROMÂNTICOS

Pode-se dividir os romances brasileiros em quatro “classes”, segundo a temática desenvolvida:

a) Regionalista

• Visão romântica e idealizada do país sobre sobre si mesmo.
• Valorização da diversidade étnica, linguística, social e cultural.
• Experiência nova na literatura nacional, fez os escritores observarem a realidade nacional.
• Afirmação da identidade nacional.

b) Indianista

• Exaltação do índio e da natureza nacional.
• Celebra a pureza do índio e a formação mestiça da raça brasileira.
• Idealização de personagens e relações.

c) Histórico

• Busca o passado “glorioso” do país
• Visão ufanista e exagerada.

d) Urbano

• Comunicação direta com o público burguês.
• Retrata as relações cotidianas.
• Personagens comuns e de fácil identificação.
• Idealização amorosa.
• Retrato dos valores e ideais burgueses.

ALGUNS ROMANCISTAS

Joaquim Manuel de Macedo

Nasceu em Itaboraí, no Rio de Janeiro, em 24 de junho de 1820, filho de uma família relativamente abastada. Formou-se em Medicina, ciência que não colocaria em prática, pois já se decidira pelas carreiras literária, docente e política. Destacou-se em todas elas, ensinando os filhos da princesa Isabel, lecionando História no colégio Pedro II e tornando-se deputado em várias legislaturas, além apresentar inúmeras contribuições ao jornalismo. Como escritor, foi o primeiro a conhecer a fama, sendo o pioneiro na prosa romântica nacional e grande produtor de romances, deixando mais de quarenta obras publicadas.

Nos últimos anos de vida, Joaquim Manuel de Macedo sofreu com a decadência de suas faculdades mentais, junto à superação de sua fama por outros escritores e pela perda de sua situação financeira. Esquecido pelo público, morre no Rio de Janeiro em 11 de abril de 1882.

Sua importância é resultado da visão de “mercado” que possuía: Macedo percebeu que o público nacional aceitaria de bom grado um romance adaptado aos cenários brasileiros, desde que fosse conservado o estilo das narrativas inglesas e francesas com o qual os leitores estavam acostumados por culpa dos folhetins publicados nos jornais.

Sua obra reflete os ideais do romantismo europeu somados aos valores morais da sociedade patriarcal brasileira. Com sua escrita simples e descritiva, de histórias sem grandes surpresas, focava principalmente na identificação dos leitores com os locais reais da cidade que eram descritos. Sua obra não possui grande valor artístico, não apresenta novidades estilísticas nem mergulha em quaisquer análises psicológicas ou sociológicas. Cabe-lhe o destaque pelo pioneirismo do romance nacional.

Em lugar das grandes paixões, namoros respeitáveis que seguem o padrão da sociedade, com a sequência de noivado e casamento. O afeto era apresentado pelos olhos do decoro, sem revoltas ou tragédias. Enfim, como se convencionou classificar a obra de Macedo: mais açúcar do que sangue, retratando o cotidiano da burguesia e, por que não dizer, a mediocridade de seus valores.

José de Alencar

José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana, no interior do Ceará, em 1º de maio de 1829, filho de uma das mais tradicionais famílias da elite cearense. Seu pai chegou a participar da Confederação do Equador e também foi senador do Império. Aos nove anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde estudou, completando seus estudos em São Paulo, onde se formou em Direito.

De volta ao Rio, trabalhou como advogado e aproveitou para contribuir na imprensa. Polemista, fez duras críticas ao trabalho de Gonçalves de Magalhães, apadrinhado do Imperador, que comprou a polêmica. Começa a publicar seus livros em 1857, lançando Cinco Minutos em livro e o Guarani como folhetim, obtendo uma repercussão jamais antes vista no país.

José de Alencar foi político, orador parlamentar e consultor do Ministério da Justiça, chegando a Ministro de Estado; só não foi Senador – cargo a que se candidatou – porque D. Pedro II vetou-lhe a nomeação. Casou-se aos trinta e cinco anos com Georgina Cochrane, uma jovem de 18 anos, sobrinha do Almirante Cochrane, herói da Independência. José conheceu a jovem na Tijuca, em um de seus retiros para cuidar de sua tuberculose.

Em 12 de dezembro de 1877, depois de uma séria piora em seu estado de saúde, José de Alencar sucumbe à tuberculose e morre no Rio de Janeiro.

A importância de José de Alencar para a literatura nacional é enorme, chegando a ser considerado como seu patriarca. Buscou fazer em suas obras um painel do país, mostrando a diversidade de aspectos geográficos, sociais e étnicos do Brasil.

Em sua ideia de construção do romance brasileiro encontra-se um projeto abrangente, buscando histórias gloriosas e idealizando mitos dos fundadores da raça.

Inovador quanto à linguagem, decidiu que, se o romance deveria ser o retrato do país, não bastava somente a temática brasileira, mas uma linguagem nacional. Assim, rompe com o estilo literário lusitano, usando períodos curtos e sintéticos, valendo-se de comparações e metáforas, buscando analogias na natureza para descrever as expressões do índio, do qual se utiliza da linguagem, usando por muitas vezes vocábulos indígenas.

Alencar representa em suas obras a idealização da realidade humana e social do país, passando, assim, ao largo dos problemas sociais como a escravidão, por exemplo. Suas personagens são exemplares positivos e que devem ser imitados, correspondendo às necessidades das classes elitizadas do país na formação de uma boa imagem da nação.

Seus romances urbanos idealizam a própria sociedade, dando-lhe um caráter inverossímil ao tentar retratar os conflitos entre a realidade e o universo sublimado. Isso mostra uma transição, já com alguma influência de percepções pré-realistas. Apesar de extremamente folhetinesco, Alencar introduz novidades temáticas em sua trilogia de “perfis femininos”, nas quais apresenta análises psicológicas mais desenvolvidas e mistura as questões financeiras aos relacionamentos amorosos.

O drama das personagens liga-se às questões da organização social. Em Lucíola, a prostituta que se apaixona – um amor impossível frente à diferença dos grupos sociais; Senhora apresenta o casamento por interesse; e Diva, um retrato do mundo fútil das elites, transformando o relacionamento em um jogo de interesses, desprezo e humilhações, explorando os limites dos sentimentos humanos.

Seus romances indianistas também figuram entre os mais importantes da literatura nacional. É nítida a idealização do índio e sua colocação como herói nacional, alçando-o como um dos pilares – junto ao europeu – de formação do povo brasileiro, ignorando por completo o papel do negro na gênese brasileira. Tais romances ocorrem em um passado distante, chegando mesmo, em Ubirajara, a ocorrer antes do descobrimento. O índio em Alencar é inspirado no cavaleiro medieval europeu, possuindo características épicas de um herói clássico.

Alencar também apresenta uma gama de romances históricos, ambientados no passado colonial, buscando representar a formação da nação como povo. Contudo, não há fidelidade nos relatos históricos, deixando os fatos em segundo plano, servindo como pano de fundo para as mais idealizadas e inverossímeis aventuras.

Por fim, José de Alencar dá início aos romances regionalistas na literatura brasileira. Nascidas da nostalgia do autor e de uma evasão para a infância, é de nítida intenção ideológica a produção de tais obras. Retratam a condição do país da forma mais pura, localizando-as no mundo rural, buscando revelar o país em sua extensão geográfica, demonstrando os típicos brasileiros da região, com a finalidade de integrá-los a um projeto de unidade, como desejo das elites imperiais e que encontra em Alencar seu porta-voz. Em O Sertanejo, faz uma belíssima descrição, demonstrando claramente ter os conhecimentos para a realização de tal obra, fato que se revela insuficiente em O Gaúcho, já que o autor jamais conhecera a região, traçando um perfil superficial e estereotipado dos habitantes do sul.

José de Alencar foi o mais nacionalista de nossos autores, considerou sua arte uma missão patriótica a ser cumprida, registrando a marca da autonomia literária de nossa arte e de nossa linguagem. Percebeu o país em sua extensão e buscou analisar o Brasil em todas as suas vertentes: urbana, rural, geográfica, étnica e histórica. Não se pode acusar Alencar de não ter se posicionado frente às mazelas sociais, visto que o escritor possuía um posicionamento político claro, defendendo os interesses da monarquia e das elites do Império da qual fazia parte; sua escrita ideológica representa coerentemente seu pensamento e seu discurso de classe.

OUTROS AUTORES

Há inúmeros outros romancistas do período que são importantes e que valem a pena ser conhecidos e pesquisados.
Nomes como Bernardo Guimarães, Manuel Antônio de Almeida, Visconde de Taunay, Franklin Távora e Martins Pena merecem uma boa leitura.

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