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Poesia romântica brasileira: as fases do Romantismo

Poesia romântica brasileira: as fases do Romantismo

Aprenda sobre Romantismo.

A GERAÇÃO INDIANISTA – CARACTERÍSTICAS

MEIRELLES, Victor, Moema, 1865.

INDIANISMO

A concepção do bom selvagem, ideia apresentada por Rousseau, define um modelo de um herói indígena que deveria se tornar o passado e a tradição de um país como o Brasil, sem uma história gloriosa que pudesse ser cantada. O nativo – que nada guarda de sua cultura original – converte-se no herói europeu, forjado à imagem e semelhança de um cavaleiro medieval.

Valorização da natureza

O Romantismo assume a imagem exótica que as metrópoles europeias faziam dos trópicos, adaptando-a ao ufanismo, um orgulho idealizado e exagerado pelas coisas da terra. Sem o passado histórico para ser cantada e com um desenvolvimento urbano ainda acanhado frente às capitais europeias, restava cantar a natureza e o índio que, na sua condição de primitivo habitante, era o próprio símbolo da nacionalidade.

A terra é a imagem da própria pátria. Por isso, até mesmo os fenômenos naturais tornam-se representativos da grandeza do país. Essa natureza jovem, vital, exuberante, compensa a pobreza social ao mesmo tempo que aponta novas potencialidades para o Brasil.

Dessa forma, a natureza vai além de ser mero cenário, sendo tema e personagem principal dessa visão romântica, assumindo a posição uma nação rica diante do mundo. Além disso, a imagem positiva criada para o índio confere às elites o orgulho de uma ascendência nobre, fator importante na legitimação de seu próprio poder no Brasil em face à Independência. Assim, percebe-se claramente o interesse político em se assumir uma determinada postura estética.

Regionalismo

A consciência de um país novo e sua consequente euforia gera um sentimento regionalista de descoberta, que procura afirmar as particularidades e a identidade das regiões e da vida rural, na ânsia de tornar literário todo o Brasil. Contudo, esse registro do mundo não urbano é superficial, já que a trama romanesca é essencialmente citadina, atendendo os esquemas românticos do folhetim. Além disso, os autores usam sempre a linguagem culta e literária das cidades, jamais a fala particular da região retratada.

Uma linguagem brasileira

Os escritores românticos – principalmente o romancista José de Alencar – reivindicam uma língua brasileira. Não provocação revolucionária, mas baseado em dois fatores: um político e outro mercadológico. No campo político, a afirmação do Brasil como nação independente era fundamental, por isso não é difícil imaginar que a sintaxe lusitana passa a receber críticas; mercadologicamente, uma língua “brasileira” seria mais acessível ao novo público leitor que surgia, garantindo maior sucesso das produções artísticas.

A POESIA DA PRIMEIRA GERAÇÃO

Domingos José Gonçalves de Magalhães nasceu em Niterói em 1811 é considerado o poeta que iniciou o Romantismo no Brasil. Formado em medicina, viajou para a Europa, tomando contato com os ideais românticos. Foi um dos fundadores da revista Niterói, no mesmo ano em que publica “Suspiros Poéticos e Saudade”, o marco inicial do Romantismo brasileiro. Em 1837, volta ao Brasil e dez anos mais tarde ingressa na carreira diplomática. Exerceu essa função até seu falecimento, em Roma, no ano de 1882.

Sua poesia cultivava os valores fundamentais do Romantismo primitivo, com ênfase na religião e no patriotismo. Ele inicia a elaboração dos primeiros versos românticos brasileiros, lançando Suspiros poéticos e saudades, no qual busca a afirmação de uma literatura nacional, destruindo os artifícios neoclássicos, propondo em substituição a valorização da natureza, do índio e de uma religiosidade panteísta.

Sua poesia foi considerada fraca, recebendo muitas críticas, algumas muito contundentes, como as de José de Alencar, gerando uma grande polêmica, tendo em vista que essa inimizade tinha repercussão política, já que Magalhães era protegido de D. Pedro II e fez com que José de Alencar fosse preterido na indicação ao Senado pelo Imperador.

Faltava a Magalhães autêntica emoção poética, os sentimentos apresentam-se em sua obra de maneira retórica, frequentemente “despoetizados” por imagens de mau gosto, como no trecho abaixo:

Nas veias o sangue já não me galopa,
em sacros furores nos lábios me fervem;
A lira canora do cisne beócio,
deixei sobre a trípode.

Apesar disso, Gonçalves de Magalhães foi considerado o maior poeta pátrio durante muito tempo. Transformou-se em símbolo oficial da literatura brasileira, merecendo inclusive grande apreço de D. Pedro II. Mas insistentemente denunciado por Alencar pelo artificialismo de sua composição, a obra de Magalhães passa a ser relegada a um plano secundário. O próprio Imperador tentou defendê-lo – usando um pseudônimo, claro – mas Alencar já detinha prestígio que lhe garantia a autoridade para seus argumentos. Coube a Magalhães o mérito histórico de ter introduzido o Romantismo no país.

Filho de um comerciante português e de uma mulata, Antônio de Gonçalves Dias nasceu em Caxias, no Maranhão, em 10 de agosto de 1823. Orgulhava-se de ter no sangue as três raças formadoras do povo brasileiro: branca, indígena e negra. Ainda contava com seis anos de idade, quando o pai casou-se com uma moça branca e proibiu o filho de visitar a mãe, com quem somente se reencontraria quinze anos depois. Em 1840, cursou Direito na Faculdade de Coimbra, encontrando ali os principais escritores da primeira fase do Romantismo português. Em 1843, escreveu “Canção do Exílio”, um dos maiores poemas brasileiros.

Graduado bacharel, volta ao Brasil e inicia uma fase de intensa produção literária. Muda-se para o Rio de Janeiro, torna-se professor de Latim no Colégio Pedro II e lança, com grande sucesso, os Primeiros cantos e os Segundos cantos. Ocupa diversos cargos de importância nas áreas de pesquisa escolar e de busca de documentos históricos, devido ao bom trânsito que consegue junto à corte imperial.

Em visita ao Maranhão, reencontra seu grande amor, Ana Amélia, e a pede em casamento, o que lhe é negado pela família, por sua origem bastarda e mulata. Transtornado com essa recusa, casa-se com Olímpia Coriolana, provavelmente a primeira mulher que encontrou após tal negativa e com a qual viveu um casamento infeliz.

A serviço, viajou muito pelas províncias do Norte e pela Europa. Contraiu tuberculose e buscou tratamento na França. Em 1864, durante a viagem de volta ao Brasil, o navio Ville de Boulogne naufragou na costa brasileira. Todos a bordo salvaram-se, à exceção do poeta que, por estar agonizando em seu leito, foi esquecido, tornando-se a única vítima fatal do desastre.

Gonçalves Dias é responsável pela consolidação do Romantismo no Brasil, desenvolvendo com maestria todas as características iniciais dessa primeira fase. Sua produção poética é de boa qualidade destacando-se entre os autores do período, conseguindo o equilíbrio entre os temas sentimentais, patrióticos e saudosistas. Dono de uma linguagem harmoniosa e de relativa simplicidade, evita os excessos verbais, foge da pompa declamatória bem como do popularesco.

Sua obra trata principalmente do índio, da natureza e do amor impossível. Demonstra grande conhecimento da vida dos índios, com dosagem certa de idealização, transformando o índio em verdadeiro herói. Seu poema Juca Pirama faz uma espécie de síntese do indianismo:

Meu canto de morte
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi

Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.

Gonçalves Dias, ao valorizar a natureza, canta o mar, o céu, os campos e as florestas. No entanto, a natureza não tem um valor universal, pois apenas a celebra sob o viés ufanista da nação. Apenas no espaço da pátria, os elementos naturais se manifestam em sua plena majestade. A celebração da natureza entrelaça-se com o sentimento saudosista trazendo de volta a infância, os amores idos e vividos e, seu sentimento “exilado” quando estava na Europa. Sua obra mais representativa, a Canção do exílio, sintetiza a identificação entre o país e sua natureza.

Desde a concepção, tornou-se o poema mais conhecido do Brasil, o mais imitado e o mais parodiado. Apesar do estilo laudatório, o poema exalta as maravilhas naturais do Brasil sem fazer uso de nem um adjetivo sequer. É a própria essência do ufanismo romântico: minha pátria é a melhor, a única terra em que se pode ser feliz, sem defeitos, um verdadeiro paraíso.

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.”

Por fim, cabe ressaltar sua lírica amorosa, marcada pelo sofrimento. Nela, o amor raramente se concretiza, ganhando ares de uma ilusão perdida. Apaixonar-se significa predispor-se à angústia e à solidão. A resposta da amada às súplicas poéticas simplesmente não existe, levando o poeta ao desespero. As sementes do ultrarromantismo já brotam na lírica amorosa de Gonçalves Dias.

A CRISE DO PENSAMENTO BURGUÊS

A metade do século XIX marca uma importante mudança no pensamento artístico nacional: o modelo de sociedade burguesa já não atende mais aos anseios da juventude, que se desinteressa pela vida político-social. Apesar do crescente desenvolvimento urbano, a jovem vida acadêmica dos grandes centros afastase dos princípios burgueses consagrados pelo romantismo. Dessa forma, o nacionalismo e o indianismo entram em declínio e o descontentamento com a vida burguesa torna-se evidente, gerando uma atitude pessimista, entediada, à espera da morte.

O protesto contra o mundo burguês e suas relações sociais, dão origem a uma lírica voltada para a subjetividade, para o individualismo, baseada na confissão e no transbordamento dos sentimentos interiores. Essa nova geração, influenciada pelo inglês Byron e pelo francês Musset, prega a rebeldia moral, a recusa do entediante cotidiano burguês e a busca de novas formas sentimentais.

O país vivia um período de estabilidade no chamado Segundo Reinado, repleto de barganhas políticas entre liberais e conservadores que partilhavam o poder sob arbítrio do Poder Moderador de D. Pedro II. A economia apresentava um bom desempenho, baseada no crescimento da produção cafeeira, com a consequente consolidação desta aristocracia rural no poder. As rebeliões escasseavam, pacificando internamente o país.

Um fato curioso sobre o ultrarromantismo é que a maior parte de seus representantes morreu na faixa dos vinte anos; vidas curtas, porém carregadas de complexidade. Apesar de que sua produção sugira o cultivo de ideias suicidas, não se pode dizer que as mortes prematuras tenham sido intencionais, já que todos foram vitimados por doenças incuráveis na época, especialmente a tuberculose. O estilo de vida boêmio de muitos desses poetas pode ter contribuído com suas mortes, contudo, não se pode afirmar que havia qualquer intencionalidade nesses atos, diante do horror que demonstraram diante da morte.

POETAS DO MAL DO SÉCULO

Os poetas dessa geração demonstraram uma inadequação à realidade em que viveram, reproduzindo em suas vidas um comportamento desregrado, levando uma vida entre os estudos acadêmicos, o ócio e a boêmia. O ultrarromantismo brasileiro foi amplamente influenciado por Lord Byron, poeta inglês que escandalizava a sociedade com seu estilo de vida dedicado aos vícios e às relações extraconjugais. Somado a isso, foi ainda acusado de manter relações incestuosas com a irmã e também de pederastia.

O mal do século caracteriza-se pela atração pelo sombrio e pela morte, acrescida, por muitas vezes, de temas macabros e satânicos. O sentimentalismo, o egocentrismo e a idealização são exagerados, criando uma visão do amor bastante particular, com a mistura de atração e medo, desejo e culpa. Desta forma, cria-se a figura do amor impossível, da mulher inatingível e idealizada: virgem e incorpórea. Diante das negativas e do medo que traz o amor, surge a evasão, já que a própria realidade não o acolhia, nem os sonhos tornavam-se possíveis. Daí ser comum a apresentação de lugares exóticos, as lembranças da infância e, sobretudo, o culto à morte.

Nascido em São Paulo em 12 de setembro de 1831, Manuel Antônio Álvares de Azevedo descendia de família ilustre no cenário político. O pai exercera, entre outros cargos, o de juiz de direito, chefe de polícia e deputado geral. Em razão disso, teve sua formação básica e secundária na capital do Império. Sua volta a São Paulo dá-se para cursar a Faculdade de Direito, onde participa ativamente da vida acadêmica e literária. Apesar de ser um aluno excelente e de ser bastante querido entre os colegas, sentia-se incapaz de estabelecer um relacionamento amoroso concreto, principal razão de sua infelicidade.

A mediocridade da vida em São Paulo, quando comparada às intensas experiências dos europeus, atormentava sua alma, fazendo-o mergulhar na leitura dos ultrarromânticos europeus. Por conta da saudade de sua mãe e de sua irmã, o sentimento de solidão e o desejo insatisfeito levaram-no a um pensamento depressivo, aproximando-o de inclinações mórbidas. No início de 1852, descobre-se com tuberculose e desespera-se ante a visão da morte. Buscou tratamento na fazenda do tio, onde deu efetivos sinais de melhora, mas uma queda de cavalo afetou-lhe a região ilíaca. Sem outra coisa a fazer, os médicos resolveram operá-lo, o que, na época, significava uma intervenção sem anestesia. Apesar de ter suportado heroicamente as dores, a tuberculose já o deixara muito debilitado. Dias depois, ao leito de morte, diz a seu pai: “Que fatalidade!”. E, sendo essas suas últimas palavras, morre em 25 de abril de 1852, no ano de sua formatura, sem que completasse vinte e um anos de idade.

Nem mesmo seu corpo descansou em paz com sua morte. O cemitério em que foi enterrado foi vítima de uma ressaca marinha e seu corpo teve de ser exumado. Seu túmulo havia sido destruído e seus ossos encontrados por seu cão e só então transferidos, inaugurando o cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.

Não publicou nenhum de seus escritos em vida e, como afirmara em um de seus poemas, a “glória que pressinto em meu futuro” veio efetivamente após sua morte. Sua obra é bastante autobiográfica e, como não poderia ser diferente, representa uma vida adolescente de tal modo dilacerada e conflituosa que acaba por se tornar experiência mais aguda do Romantismo brasileiro, considerando-se aspectos pessoais e poéticos.

Em muitos poemas, expressa um cinismo típico de quem – por incansáveis leituras – detém a experiência do saber, mas não experimenta a própria vida. Sua poesia, que começa como imitação dos ultrarromânticos europeus, carregada de fantasias delirantes, evolui significativamente, superando o artificialismo byroniano característico dos demais poetas da geração. Suas obras falam de amor, da morte, do tédio, mas revelam também certo humor e cinismo.

Quando trata de amor, usa os modelos byronianos, tornando sua lírica pouco convincente. As orgias e vícios que descreve como sua maldição moral são artificiais, tendo em vista que tais experiências não tenham ocorrido e, mais ainda, porque carecem de certa persuasão, não traduzindo nenhuma inquietação. No entanto, essa máscara acaba por revelar o que havia por detrás das aparências: o devasso e o cínico, na verdade, revelam profundo medo das relações amorosas, traduzindo-se pela não concretização das vontades sexuais, criando uma imagem feminina carregada de imagens eróticas, cuja volúpia jamais é saciada, por ser ela intocável e inatingível, fruto da própria timidez do poeta.

Já na temática da morte, a genialidade expressiva de Álvares de Azevedo se manifesta. Tema recorrente em sua produção, poeta profetiza sua própria morte, diz não poder esquecê-la; entrega-se a ela de peito aberto. Mas não é por isso que essa entrega será desprovida de desespero e angústia. As perdas dos afetos, das pessoas e do futuro, levam-no às lamentações. Ao mesmo tempo, em uma atitude escapista, a morte representa a solução para suas dores.

O tédio, sentimento que levou o nome para a geração “mal do século”, traduzia-se em uma espécie de cinismo e enfado por ter vivido todas as experiências possíveis: sexo, bebidas, ópio, transgressões. Paradoxalmente, o tédio de Álvares de Azevedo era resultado da falta de tais experiências a que estava condenado vivendo em São Paulo. Lembremo-nos que a maior cidade do Brasil hoje era, na época, uma cidadezinha provinciana, sem vida noturna, sem grandes horizontes para as ambições e sonhos dos jovens.

Esse sentimento, causa dos excessos ultrarromânticos, é atenuado pela exposição de sua subjetividade, revelando um jovem tímido, inexperiente e ansioso por amor. Suas poesias são confissões de um adolescente solitário e impotente diante de sua existência; um poeta conflituoso, entre o tédio de sua realidade e os sonhos que alimentavam sua alma, possibilitando que vivesse no descompasso de seu mundo.

Apesar de tudo, surpreende em sua poesia a ironia, resultante do riso das coisas cotidianas. Despido do sentimentalismo, o poeta lança seu olha em torno de si e traça observações que vão do leve humor ao sarcasmo cínico.

Fora da poesia, merece destaque Noites na taverna, uma reunião de contos que revela o espírito transgressor ultrarromântico, ambientando sete rapazes que bebem, fumam e gritam em uma taverna, narrando histórias exageradas de suas vidas orgíacas e criminosas. É a expressão adolescente de rebeldia contra o mundo e de comportamento social, apresentando cenas de necrofilia, incesto, canibalismo, assassinato e violação de todos os códigos morais da época (e da nossa também!). Nesses escritos propõe-se a criação de um mundo de sombras, povoado por indivíduos de impulsos imorais e que praticam toda sorte de ações que mostram o lado cruel de suas almas.

Como exemplo de sua poesia, a presença constante da morte e a certeza do poeta diante da proximidade dela fazem de “Lembrança de morrer”, um dos mais belos exemplos de sua sensibilidade, mesmo quando se trata das instruções sobre o seu túmulo e sua lápide:

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento. (…)

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela
– Foi poeta, sonhou e amou na vida.

Casimiro José Marques de Abreu nasceu em 4 de janeiro de 1839, em Barra de São João, no estado do Rio de Janeiro. Filho de um imigrante português, enriquecido pelo comércio, Casimiro passou a infância numa fazenda. Enviado à capital do Império para exercer as atividades de seu pai, não demonstrou tino para a área. Ainda assim, seu pai não desistiu e enviou-o para Lisboa com a mesma intenção. Após quatro anos em Portugal, já com dezoito anos, retornou ao Brasil conciliando a vida boêmia e as atividades comerciais.

Foi em Lisboa que tomou contato com o Romantismo, estabelecendo ligação com o meio intelectual português. Chegou a escrever para alguns jornais, trabalho que o fez conhecer Machado de Assis. Primaveras é sua única obra e obteve enorme êxito, sendo aclamado pelo público da época. Contudo, não desfrutou muito de sua fama, pois logo se descobriu com tuberculose, falecendo em pouquíssimo tempo, no dia 18 de outubro de 1860, com vinte dois anos incompletos.

Poeta de linguagem simples e espontânea, expõe um lirismo singelo com rimas fáceis e atmosfera musical, beirando a superficialidade, mas que encantou o público, tornando-se um dos poetas mais populares do romantismo. Sua temática também revela o mal do século, com ênfase na tristeza da vida e certo grau de pessimismo, apesar de não abandonar o sentimento saudosista-nacionalista da primeira geração. Seu lirismo amoroso revela a melancolia que se traduz na atitude de evasão do poeta: não para a morte, mas para a infância.

De visão extremamente subjetiva, Casimiro de Abreu substitui a dor adolescente por uma visão inocente e deslumbrada dos tempos juvenis. Canta a mocidade como um tempo idealizado, “a primavera da vida”. Longe do sombrio, prefere as manhãs, as brincadeiras infantis, as paisagens da fazenda de sua infância e os salões de baile onde se compartilha a dança e os namoros.

Influenciado por Gonçalves Dias, inunda seus poemas de sentimento nostálgico, refletindo o “exílio” de seu precursor. Se a saudade da nação não enriquece sua lírica, descobre na nostalgia sua consagração. As saudades são misturadas ao subjetivo, trazendo as lembranças da família, da casa e da própria infância. Canta a “aurora da vida”, o tempo de meninice, as emoções que ficaram na memória. Com suas poesias melodiosas, sem abstrações, nas quais empresta sentimento e delicadeza à evasão romântica, garante a imortalidade de sua visão, em um dos poemas mais famosos da literatura nacional:

Meus oito anos

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Merecem destaque no período poetas como Junqueira Freire e Fagundes Varela que, apesar de ultrarromânticos, já demonstram algumas das características da geração seguinte. Podem ser assim chamados de “poetas de transição”.

O CAMINHO DA TRANSIÇÃO

A partir da segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira passa por significativas mudanças em termos políticos, sociais e econômicos. A constante pressão britânica pelo fim do comércio de escravos fez com que o Brasil abolisse o tráfico negreiro da África, o que representou o surgimento de um pensamento abolicionista nacional.

Por outro lado, há uma forte reação contra esses movimentos, especialmente dos grandes cafeicultores e isso aumenta as pressões internas sofridas pelo Império. No plano econômico, o país inaugura suas primeiras fábricas de produtos simples, como tecidos, bebidas e artigos como sabão e outros produtos que antes eram importados. Além disso, as cidades começam a crescer, inauguram‑se estradas de ferro, empresas de gás, mineração e até mesmo o transporte urbano começa a desenvolver-se, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo.

Em meio a este início de desenvolvimento econômico, rompeu-se a Guerra do Paraguai, que arrastou-se ao longo de seis anos e causou diversas reações sociais, criando inúmeros problemas a serem resolvidos pelo governo imperial. Ainda que o Brasil tenha vencido a guerra, a coroa acumulou enormes prejuízos com o confronto, o que criou um rombo nas finanças imperiais e acarretou em inúmeras dívidas pela tomada de empréstimos estrangeiros.

Aos poucos a monarquia brasileira ia perdendo apoio de diversos setores que criticavam a condução econômica, a organização social, os favorecimentos políticos, entre outros aspectos. Esses grupos pressionavam o governo, que não conseguia atender às demandas de todos os campos, gerando um descontentamento generalizado.

Por exemplo, o Império buscava leis que terminassem com a escravidão de maneira progressiva, como a lei do ventre livre e a lei dos sexagenários; por um lado, os abolicionistas criticavam as medidas, pois as consideravam tímidas e queriam o fim da escravidão imediato; por outro, grandes escravocratas afirmavam que tais medidas representavam uma ameaça a seus interesses. Não por acaso, ao tentar equilibrar-se entre as diversas posições, o governo não resistiu e, um ano após a assinatura da lei áurea, a monarquia caiu ante ao golpe militar que instituiu a República.

A TERCEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA

Conhecida como Geração Condoreira, a terceira geração foi marcada por um forte posicionamento político abolicionista e pela incessante defesa da liberdade, tomando como metáfora o condor, ave andina que voa alto, livre e domina os céus.

A busca pela identidade nacional é ainda tema das obras, porém ultrapassa os valores do indianismo e enxerga a sociedade de maneira diversificada, incluindo conflitos oriundos da escravidão para a composição do cenário brasileiro.

Mantendo a idealização típica do romantismo, há um retorno às ideias iniciais do lema francês da “liberdade, igualdade e fraternidade”, em que se defende uma sociedade construída em outros moldes, ainda que não sejam defesas consistentes e aprofundadas.

Por outro lado, a visão do amor e da mulher afasta-se do paradigma da segunda geração e ganha contornos mais materiais, em que a mulher – ainda que idealizada em sua figura – apresenta-se de forma tangível e sensual, em uma relação amorosa que ultrapassa as linhas do imaginário.

É, em verdade, um momento de transição do Romantismo para o movimento Realista que já começa a se manifestar em alguns autores.

O POETA DOS ESCRAVOS

Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em uma fazenda no município de Muritiba, na Bahia em 14 de março de 1847, no seio de uma das mais tradicionais e poderosas famílias do interior baiano. Ainda criança mudou-se para Salvador, onde fez seus estudos. A morte de sua mãe, quando ele tinha apenas nove anos, deixou-o bastante abalado, ainda mais por ver o desespero de seu irmão mais velho que se suicida alguns anos depois, ainda inconformado pela perda da mãe.

Em 1862, já em Recife e preparando-se para a faculdade de Direito, Castro Alves torna-se amante de uma famosa atriz portuguesa e entrega-se à boêmia e aos ideais abolicionistas. Assim, passa grande parte de seu tempo em reuniões e agitações políticas que em salas de aula. Foi reprovado diversas vezes em várias matérias diferentes, algumas porque nem sequer as frequentava, estando naqueles horários nos bares a produzir ou recitar versos. Castro Alves percebeu de imediato seu talento, pois sua produção tinha grande impacto, repercutindo entre os colegas e dando a Castro um status de fama.

Castro Alves ainda produziu um drama para que Eugênia Câmara – a atriz portuguesa – pudesse encená-la. E ambos foram a Salvador para montar a peça, que recebeu espetacular consagração, deixando Castro Alves radiante. O agora casal viajou rumo a São Paulo, onde Castro prometeu retomar e concluir o curso de Direito.

Em uma breve parada no Rio de Janeiro, Castro foi recebido por José de Alencar e Machado de Assis: Castro tornara-se uma lenda, fosse por sua qualidade de poeta, fosse como declamador de sua própria obra. Seus poemas faziam enorme sucesso e eram declamados nas faculdades, tornando-se a voz dos estudantes abolicionistas.

Contudo, sua vida amorosa não ia bem. A fama lhe trouxe glória e também mulheres, às quais não conseguiu negar os favores amorosos, o que deixava a orgulhosa Eugênia com os nervos à flor da pele. A atriz portuguesa o abandonou, sumindo-se para sempre da vida de Castro Alves, que se mostrou muito abalado pela separação.

Para tentar esquecer as dores de amor, passou a dedicar-se à caça e foi em uma caçada em São Paulo que o fim do poeta se aproximou. Ao caminhar segurando a espingarda, acidentalmente feriu-se no pé, mais precisamente no calcanhar, que infeccionou. Levado ao Rio de Janeiro para tratamento, não teve grande sorte. Como a infecção não cedia e piorava, foi submetido a uma amputação sem anestesia. Transferido para Salvador, viveu por mais um ano aproximadamente, até que sobreviesse a tuberculose que lhe mataria. Em 6 de julho de 1871, Castro Alves nos deixava, antes de completar vinte e quatro anos de idade.

Sua poesia refletia os ideais abolicionistas que abraçava, mais que um intelectual, Castro era um homem de ação, participando ativamente dos movimentos abolicionista e republicano. Seu engajamento político é tão forte que chega a prejudicar sua arte literária, vista, por muitas vezes como mais denúncia e ação que propriamente estética. Consciente da importância dos estudos, valorizou o papel da educação na sociedade, da imprensa e do livro.

Engajado em uma série de lutas sociais, usou sua poesia para combater toda e qualquer injustiça, cantando a liberdade e a igualdade em uma pregação que atingia todos os setores sociais. Mas, sem dúvida, o que mais de marcante lhe restou foram seus poemas abolicionistas. Sua retórica é eloquente, sua poesia grandiosa, feita para declamações públicas, com inúmeras apóstrofes e imagens espetaculares.

Seu lirismo amoroso distancia-se dos padrões anteriores: não apresenta o amor inatingível, impossível e, por isso, idealizado; não esconde a sensualidade nem a perverte. O amor em Castro Alves é viril, sensual e caloroso, explorando o erotismo sem qualquer vestígio de culpa, de plena realização sexual, refletindo, na poesia, o comportamento do poeta.

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