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O Final do Século e o Parnasianismo

O Final do Século e o Parnasianismo

A partir da segunda metade do século XIX, a Europa assiste a uma série de gigantescas mudanças econômicas, científicas e sociais, com o surgimento de correntes de pensamento que se refletem na estética como uma crítica às posturas românticas.

VASO CHINÊS

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
(Alberto de Oliveira)

MOMENTO HISTÓRICO

O final do século XIX caracterizou-se por uma grande transformação nos meios de produção. O avanço da industrialização tornou possível um crescimento econômico jamais experimentado anteriormente; o uso da energia elétrica e do petróleo acelerou ainda mais o funcionamento e o desenvolvimento das fábricas. Assim, a burguesia consolidava seu poder, já que mantinha os meios de produção, aumentava seus lucros e fortalecia suas posições políticas. De outro lado, vítimas da crescente exploração capitalista, estava o proletariado: excluído do processo econômico e submetido a condições de trabalho desumanas em troca de salários baixíssimos.

Também foi uma época de grande desenvolvimento do pensamento humano, com reflexos expressivos nas ciências naturais e humanas. Movimentos filosóficos como o positivismo e o marxismo somaram-se aos científicos, como o darwinismo, para emprestar uma visão menos idealizada do mundo, portanto mais objetiva e distanciada do dogmatismo religioso.

O Brasil, por sua vez, não estava alheio às transformações do mundo. Aqui, os movimentos abolicionista e republicano ganhavam corpo e conquistavam importantes objetivos sociais e políticos: o fim da escravidão e a proclamação da República. Desta maneira, o país alinhava-se ao pensamento europeu, separando a Igreja do Estado, organizando o sistema judiciário do país e estabelecendo um regime de maior participação popular.

ESTÉTICA PARNASIANA

O Parnasianismo foi contemporâneo do Realismo e do Naturalismo, portanto influenciado pelos mesmos elementos históricos dos outros movimentos; contudo, a estética parnasiana diferencia-se ideologicamente por não se preocupar com a temática social ou mesmo com a reflexão sobre o homem e sua condição.

O racionalismo que dominava a época traduziu-se em objetivismo, em rejeição aos excessos românticos e em crítica ao sentimentalismo. A arte não era mais vista como um simples entretenimento, era necessária a busca da beleza, a arte pela arte. A poesia não mais serviria às emoções humanas, mas à própria Arte.

O poeta, alienado socialmente, inspira-se na Antiguidade Clássica, na mitologia greco-latina como uma forma de negar os princípios do Romantismo e garantir prestígio entre as camadas mais letradas do Brasil. O artificialismo é uma de suas principais características, visto ser uma poesia que valorizava excessivamente a forma (os sonetos, as rimas ricas, a métrica perfeita), ostentando um nível vocabular refinado e grande rigor gramatical.

O nome Parnasianismo tem origem na Grécia antiga: segundo a lenda, Parnaso é o nome de um monte da Fócida, consagrado a Apolo e às musas. É o monte onde nasceu Castália, a musa inspiradora dos poetas. Por consagrar a arte ao belo, o estilo torna-se impassível e impessoal. É uma arte excessivamente descritiva, cheia de adjetivos e imagens poéticas elaboradas. O objetivo maior é o culto à forma na busca de atingir a perfeição.

Os temas parnasianos resumem-se a alguns episódios históricos, fenômenos naturais e a descrição detalhada de objetos decorativos como vasos e enfeites em geral. A mulher no Parnasianismo é vista com objetividade, contrapondo-se às idealizações românticas. Desta forma, a sensualidade e o amor carnal eram cultivados pelos parnasianos. A deusa da beleza Vênus era o padrão feminino, revelando também a preferência pelas figuras pagãs da Antiguidade.

AUTORES PARNASIANOS

O Parnasianismo fez bastante sucesso em sua época, estendendo-se da década de 80 do século XIX até a Semana de Arte Moderna em 1922. Coube a Teófilo Dias, com a publicação de Fanfarras (1882), inaugurar o movimento, que teve como representantes poetas como Alberto de Oliveira, Francisca Júlia, Raimundo Correia, Olavo Bilac e Vicente de Carvalho.

Antônio Mariano Alberto de Oliveira foi farmacêutico, professor e poeta, nasceu em Palmital de Saquarema, RJ, em 28 de abril de 1857, e faleceu em Niterói, RJ, em 19 de janeiro de 1937. Cursou também a Faculdade de Medicina até o terceiro ano, onde foi colega de Olavo Bilac, com quem, desde logo, estabeleceu as melhores relações. Sua casa em Niterói ficou famosa por ser frequentada pelos mais ilustres escritores brasileiros, entre os quais Olavo Bilac, Raul Pompeia, Raimundo Correia, Aluísio e Artur Azevedo. Nessas reuniões, só se conversava sobre arte e literatura.

Alberto de Oliveira foi uma espécie de líder do Parnasianismo, até por ser o poeta que melhor encarnou as características do movimento. O estilo de Oliveira é frio e intelectualizado, com predileção pelo preciosismo formal e gramatical. Sua poesia é descritiva, preza pelo objetivismo e pelas cenas exteriores, o amor da natureza, o culto da forma, a pintura da paisagem, a linguagem castiça e a versificação rica.

Ao mesmo tempo em que fervilhava social e politicamente a vida na cidade, com as lutas abolicionistas e republicanas, Alberto de Oliveira dizia: “Eu hoje dou a tudo de ombros, pouco me importam paz ou guerra, e não leio jornais”. Fiel ao Parnasianismo até o fim da vida, manteve-se distante dos problemas sociais e pôs-se apenas a cultivar a arte pela arte.

VASO GREGO

Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois… Mas o lavor da taça admira,Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

(Sonetos e poemas, 1886.)
(Raimundo Correia)

colmada: coberta, cheia.

esvazada: esvaziada.

ignota: ignorada, desconhecida.

Olimpo: segundo a mitologia, amorada dos deuses.

poeta de Teos: referência a Anacreonte, poeta grego, nascido em Teos, famoso por suas canções de amor irônicas e melancólicas.

Nasceu a 13 de maio de 1859, em um navio ancorado em águas maranhenses. Estreou na poesia como romântico, influenciado por Casimiro de Abreu e Fagundes Varela. Sua segunda fase é a que mais nos interessa, pois é nela que se faz perfeitamente parnasiano.

É um dos autores mais sensíveis, influenciado pelo pessimismo do pensador alemão Arthur Schopenhauer – que defendia a ideia de que todas as dores e males do mundo provêm da vontade de viver –, produziu poemas cheios de sombras e luares, ainda que tenha adotado a perfeição formal como princípio. Apresenta temática tipicamente parnasiana, como a natureza, a perfeição dos objetos e a cultura clássica. Produziu também poesias filosóficas de meditação, na qual dialogava com o pessimismo e fazia reflexões de ordem moral e social.

A parte final de sua obra revela um processo de transição, a qual alguns chamam de terceira fase: seu pessimismo, em meio a cenas noturnas e sensações, busca refúgio na metafísica e na religião. Seu estilo oscila entre a descrição e a sugestão de imagens, com aspectos de musicalidade e sinestesia, demonstrando claramente a transição para o Simbolismo.

Uma polêmica norteou a produção poética de Raimundo Correia: a de que ele teria sido um plagiador. Não se discute a arte e a engenhosidade de Correia, sua originalidade deixa dúvidas a ponto de muitos de seus defensores admitirem seu caráter “recriador”. A influência, por muitas vezes exagerada, de autores europeus em sua obra é nítida em várias de suas obras, recriação das ideias de autores como Theòphile de Gautier e Metastásio. Nada que retire o brilho lírico deste renomado poeta brasileiro.

AS POMBAS

Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada…

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada…

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais…

(Sinfonias, 1883.)

abotoam: germinam.

céleres: velozes.

nortada: vento frio que sopra do norte.

ruflando: encrespando as asas (ou penas) para alçar voo.

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro a 16 de dezembro de 1865 e parecia destinado ao verso clássico, já que seu próprio nome é um verso alexandrino, com doze sílabas métricas. Seu pai o queria médico, mas Olavo abandonou a faculdade de Medicina e foi estudar Direito em São Paulo, curso também que não concluiu. Trabalhou como inspetor escolar e jornalista.

Ao contrário de outros poetas parnasianos, Olavo mostrava-se envolvido com ideais Republicanos e nacionalistas. Patriota e nacionalista, defendeu a instrução primária, da educação física e do serviço militar obrigatório; escreveu também o Hino à Bandeira e dedicou-se a alguns temas de caráter histórico-nacionalista. Foi nessa mesma época que escreveu outro hino: “Profissão de fé”, o poema definitivo dos poetas parnasianos, em que compara o ofício do poeta ao de um ourives, o profissional que fabrica, desenha e entalha joias e pedras preciosas.

Com o título de Príncipe dos Poetas, fez enorme sucesso junto aos jovens e gozava de imenso respeito das camadas mais letradas da sociedade. Sua obra é marcada pela busca da perfeição formal: escrevia versos alexandrinos e buscava concluir seus poemas com “chaves de ouro”. Exibia uma linguagem elaborada, com inversões de estruturas gramaticais.

Bilac foi sempre fiel aos princípios do Parnasianismo, não permitindo que os acontecimentos políticos e sociais de sua época – inclua-se aí seu exílio em Ouro preto por opor-se ao governo de Floriano Peixoto – não influenciassem sua poesia. Mesmo assim, Bilac escreveu também livros escolares, crônicas e poesias satíricas.

Sua obra possui uma diversidade grande de temas e abordagens, evidenciando a diversidade do poeta. Em Panóplias, exalta a Antiguidade Clássica; em Via láctea, sua poesia torna-se intimista e subjetiva, carregada de lirismo – responsável pela popularidade do poeta; em Sarças de fogo, acrescenta ao lirismo a sensualidade e a objetividade; em Alma inquieta e Viagens, trata de temas filosóficos; em O caçador de esmeraldas revela sua preocupação histórica e nacionalista, assim como em Tarde. O que mais chama atenção, no entanto, em Tarde é a percepção da iminência da morte: o crepúsculo do poeta.

Profissão de Fé
(Fragmento)

Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,
Por tão subtil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.

E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.

Porque o escrever – tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal… nem há notícia
De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!

(Poesias, 1888)

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