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ARCADISMO – ARTE E CONTEXTO

ARCADISMO – ARTE E CONTEXTO

Na segunda metade do século XVIII, inicia-se uma forte reação contra o Barroco e o panorama ideológico que ele representava. A arte setecentista cultiva a graciosidade e a leveza, utilizando linhas suavemente curvadas e tons esbatidos. 

Na pintura, as cenas são sempre estilizadas em ambientes campestres, onde pastores e pastoras, ninfas e sátiros representam a superficialidade e a alegria maliciosa dos salões aristocráticos. Na literatura, podemos observas as seguintes tendências:

• Arcadismo – Em sentido amplo, é a produção poética ligada às arcádias*; em sentido mais específico, refere-se ao ideal de simplicidade e de naturalidade que se buscou nos temas bucólicos e pastoris convencionais, pela imitação de poetas latinos e renascentistas.

*Arcádias – desde a fundação da Arcádia Romana (1690), as agremiações literárias academias) passaram a receber estes nomes: Arcádia Lusitana e Nova Arcádia (Portugal), Arcádia Ultramarina (Brasil).

• Neoclassicismo – No geral, o termo é usado em referência ao conjunto da produção artística da segunda metade do século XVIII. Num sentido mais restrito, refere-se a uma tendência artísticas das últimas décadas do século XVIII e primeiras do XIX. A arte neoclássica caracteriza-se pelo retorno ao equilíbrio clássico e pela imitação dos autores greco-latinos e renascentistas. Valoriza a perfeição formal, cultua a grandiosidade, repudia a decoração supérflua e desenvolve temas mitológicos históricos.

• Pré-Romantismo – Concomitantemente ao florescimento do Neoclassicismo, o progressivo desgaste dos valores aristocráticos leva muitos artistas e escritores a abandonarem as convenções classicizantes, imprimindo em suas obras certas características que prenunciam o Romantismo do século XIX, como o emocionalismo e o pessimismo.

ARCADISMO: ARTE E LITERATURA EUROPEIA

O Século das Luzes, como ficou conhecido os anos de 1700 é um período de aprofundamento às críticas ao Antigo Regime, um período de transformação social, política e econômica. Um período em que convivem o capitalismo comercial, o absolutismo, o sistema colonial, a sociedade baseada em estamentos e o surgimento de um conjunto de pensadores que iriam mudar para sempre a história da humanidade.

Esses pensadores procuravam uma explicação racional para o mundo, com fortes críticas ao pensamento religioso representado pela Contrarreforma e introduziam ideias com a finalidade de promover melhorias das condições existenciais do homem. Era, sobretudo, uma crítica burguesa à sociedade, uma forma de afirmação de aquele modelo de organização social não era justo e que precisava ser suplantado. Esse conjunto de ideias ficou conhecido como Iluminismo. Os filósofos iluministas afirmavam que a razão guiaria o homem para a sabedoria, conduzindo-o à verdade. Assim, a razão era a fonte de todo o conhecimento.

A figura acima representa a Ilustração inicial da Enciclopédia de Diderot e D’Alambert.

A burguesia do século XVIII desenvolveu-se de maneira exponencial, em especial promovendo grandes revoluções tecnológicas que provocaram profundas mudanças na sociedade europeia e firmaram o capitalismo como sistema de produção dominante. A Revolução Industrial foi, sem dúvida, a mais importante dessas revoluções, sendo responsável por significativas mudanças na história da humanidade.

A evolução da tecnologia aplicada à produção de mercadorias serviu para atender a um emergente mercado consumidor, que se ampliou para uma revolução social, o que trouxe o surgimento das relações de trabalho assalariadas, a substituição da energia humana pela energia a vapor, a passagem de uma sociedade esta mental para uma sociedade de classes, dividida em burguesia capitalista – dona do capital e dos meios de produção – e o proletariado, dono exclusivamente de sua força de trabalho.

A influência da classe burguesa aumentava na sociedade, seu poder econômico já era dominante e a arte influenciava-se com suas ideias e propostas. Como “alternativa” social, a burguesia se afastava da nobreza, com sua opulência e luxo exagerados. Como contraponto, projetava uma vida simples e sem requintes, ainda que essa não fosse a realidade de suas vidas. Entretanto, essa imagem tornava-se um ideal agradável como mensagem, uma promessa de que havia um mundo diferente, racional, equilibrado e justo.

Contrariando a tendência do século XVII de ostentar igrejas e palácios imponentes, o século XVIII apresenta casas mais simples e belos jardins, anunciando um novo sentido de vida. Os materiais mais simples entram em cena, as cores fortes e o rebuscamento perdem seus lugares. O Arcadismo reflete a ideologia da classe aristocrática em decadência e da alta burguesia, insatisfeitas com o absolutismo real, e com as formas sociais de convivência rígidas, artificiais e complicadas.

As mudanças estéticas apoiam-se na revolução filosófica que representou o Iluminismo. Assim, o poder da razão suplanta o sentimentalismo ou irracionalismo barroco: a razão é sinônimo de verdade, em lugar das crenças religiosas passadas. As luzes do esclarecimento ajudam os homens a entender o mundo e a combater preconceitos. É por oposição ao pensamento anterior que surge a tendência simplificar a arte. O Neoclassicismo, como também é conhecido o período, é marcado pelo domínio da razão, pela imitação dos clássicos e pela aproximação com a natureza.

A busca da simplicidade é um ideal árcade, que considera o simples como verdadeiro, como racional. Não há diferença entre simplicidade, verdade e razão. Como a simplicidade é a essência do movimento, a imitação da natureza e dos padrões clássicos torna-se o caminho para a arte. Lembremos que, nesse caso, imitar significa seguir modelos e não copiar pura e simplesmente. Há um conjunto de características dos artistas do arcadismo, as quais ficaram conhecidas por seus nomes em latim.

AUREA MEDIOCRITAS

O Arcadismo propõe um retorno à ordem natural. Como na literatura clássica, a natureza adquire um sentido de simplicidade, harmonia e verdade. Cultua-se o “homem natural”, isto é, o homem que “imita” a natureza em sua ordem e equilíbrio; condenando-se, em contrário, toda ousadia, extravagância, exacerbação das emoções. A expressão latina traduz-se como o equilíbrio de ouro.

LOCUS AMENUS

A integração entre o indivíduo e a paisagem física torna-se um imperativo social, naquilo que se convencionou chamar de bucolismo. Esta aproximação com o natural dá-se por meio de uma literatura de caráter pastoril, representando a existência de pastores e pastoras na paz do campo, entre ovelhinhas, que significa exatamente um lugar ameno para os encontros amorosos. Contudo, vale ressaltar que esse conceito não surgir da vivência direta e real com natureza. A poesia campestre é meramente uma convenção, ou seja, uma espécie de modismo de época a que todo escritor deve se submeter.

FUGERE URBEM

O conceito de fuga da cidade representa o escape da própria organização social. É na cidade que está a influência da nobreza, da igreja, os impostos e tudo mais. O homem simples é o camponês, daí a adoção do campo como forma de negar e contrapor a vida luxosa e os desperdícios da nobreza, além das proibições comportamentais impostas pela igreja. Fugir da cidade representa tudo isso, ainda que, de fato, isso fosse apenas uma alegoria, não um modelo de vida adotado pelos árcades. Sendo assim, os campos, pastores e rebanhos são artificiais, são como meros cenários para que o poeta possa refletir sobre o sentido da natureza. A fuga da cidade representa um desejo, não uma condição real de vida dos autores da época.

INUTILIA TRUNCAT

O que é inútil atrapalha, diz o conceito árcade. O artista dessa época está preocupado em ser simples, racional, inteligível. E para atingir esses requisitos exige-se a imitação dos autores consagrados da Antiguidade, preferencialmente os pastoris. Só a imitação dos clássicos asseguraria a vitalidade, o racionalismo e a simplicidade da manifestação literária. Daí a contínua utilização da mitologia clássica como recurso poético, representando outra convenção, tornada obrigatória pelo prestígio dos modelos antigos.

A obrigatória utilização de imagens clássicas tradicionais acaba criando uma poesia despersonalizada. Essa renúncia à manifestação subjetiva leva o poeta ao universalismo, a expressar sentimentos comuns, genéricos, médios, reduzindo suas criações a fórmulas convencionais.

CARPE DIEM

Quando o poeta declara seu amor à pastora, faz de uma maneira elegante e discreta, exatamente porque as regras desse “jogo” exigem o respeito à etiqueta afetiva. Desta forma, o seu “amor” pode ser apenas um fingimento, um artifício de imagens repetitivas e banalizadas: é o convencionalismo amoroso que marca o período. Ainda assim, o convite ao gozo da vida é cercado de imediatismo, o carpe diem, expressão latina que significa “aproveite o dia”. Esse conceito também era marca do barroco, mas com outro sentido, a ideia de gozar o máximo dos prazeres pelo medo da morte. No Arcadismo revela-se de maneira positiva: aproveitar a vida por ser breve e o futuro incerto, mas sem o medo e o tormento barrocos.

A figura acima representa APPIANI, Andrea. Retrato de Josephine Bonaparte de Beauharnais.

Nas artes plásticas, percebe-se uma nítida retomada dos valores renascentistas, com o aproveitamento das técnicas desenvolvidas pelo estilo barroco. Assim, o equilíbrio, a harmonia e a simetria – valores clássicos – são combinados com técnicas de contraste e distribuição da luz.

As personagens retratadas, normalmente elementos da cultura greco-romana, não se apresentam como figuras atormentadas, mas em representações esculturais, como se posassem para a representação. Em outros casos, a influência das técnicas barrocas surge na representação dinâmica das cenas, sem, contudo, trazer a carga dramática e os contrastes exagerados do barroco.

A figura acima representa DAVID, Jacques-Louis. A morte de Sócrates.

OBSERVAÇÃO

No Brasil, o Arcadismo teve como marco inicial a publicação de “Obras Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa em 1768 e, ademais, a fundação da “Arcádia Ultramarina”, em Vila Rica. Vale lembrar que o nome dessa escola literária provém das Arcádias, ou seja, das sociedades literárias da época. Os principais escritores brasileiros desse período são: Cláudio Manuel da Costa, Santa Rita Durão, Basílio da Gama e Tomás Antônio Gonzaga.

• Os autores árcades portugueses que merecem destaque são: Manuel Maria Barbosa du Bocage, António Dinis da Cruz e Silva, Correia Garção, Marquesa de Alorna e Francisco José Freire.

• Outros escritores brasileiros que merecem destaque são: Inácio José de Alvarenga Peixoto (1744-1793) e Silva Alvarenga (1749-1814).

• Apesar de ser um poeta nascido em Portugal, a cidade de Marília, no estado de São Paulo, recebe esse nome em homenagem ao escritor Tomás Antônio Gonzaga.

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