CLASSICISMO: RENASCIMENTO
O final da Idade Média assiste à decadência do feudalismo, com o fortalecimento do comércio, ascensão da classe burguesa e a própria formação do capitalismo.

O mercantilismo abre as portas para uma visão mais antropocêntrica e liberal. A Igreja acaba por sofrer os reflexos dessa crise, levando ao rompimento das forças burguesas com o medievalismo católico, culminando no movimento da Reforma Protestante.
Desde meados do século XIV, em especial na Itália, havia um crescente afastamento de valores góticos e uma crescente humanização do pensamento, resultando em avanços em ideias que iam da economia à organização política, passando por descobertas científicas e, evidentemente, as artes.
A partir do século XV, as ideias florescidas na região da Toscana italiana começaram a expandir-se para outras regiões, em plena conjunção com o aparecimento do humanismo filosófico. Intensificam-se, portanto, estudos acerca da realidade e da própria representação artística. Entretanto, é no século XVI em que se dá um grande salto das técnicas e dos conhecimentos em diversas áreas do saber humano. Era a renascença de valores clássicos acompanhada de inovações artísticas e científicas jamais antes vistas na história da humanidade.
O desenvolvimento de novos conhecimentos tanto artísticos quanto científicos leva a inúmeras descobertas e a criações tecnológicas, como a imprensa. É neste século que, munidos pelo saber e empurrados pelos ideais mercantilistas, os europeus lançam-se ao mar e iniciam a era das navegações que culminou com o achamento das Américas, incluindo-se aí o Brasil.
ARTE RENASCENTISTA
A arte renascentista revigora os valores e ideais da antiguidade clássica, em uma busca incessante pela representação formal, imitativa e de tom mais realista possível. O racionalismo é a principal característica do fazer artístico, com o desenvolvimento de cálculos matemáticos para entendimento das representações, bem como de estudos aprofundados em várias áreas, significando o surgimento de um sem-número de técnicas de pintura e escultura que elevaram o conhecimento e a realização artísticas a níveis jamais antes vistos.
Em consonância com os valores clássicos, as obras buscam o equilíbrio e a simetria da representação e apresenta a principal inovação em termos de artes visuais: a perspectiva. O domínio desta técnica permitiu representações cada vez mais realistas, impressionando pela distribuição de luzes e sombras.
A temática renascentista ultrapassa os cânones cristãos, apesar de muitas obras retratarem histórias religiosas sob o ponto de vista católico, até por terem sido contratadas pela Igreja. É comum a representação de alegorias e de divindades mitológicas, como uma espécie de “tributo” temático aos valores da antiguidade.
A arquitetura renascentista preservou valores clássicos, suas ordens e proporções. Catedrais e basílicas foram erguidas como forma de demonstração de poder da Igreja Católica. A grandiosidade das construções era complementada por suas formas equilibradas e simétricas, gerando um resultado que impressiona os visitantes até os dias de hoje.
Um bom exemplo é a Basílica de São Pedro, construída com o financiamento da concessão de indulgências com a finalidade de ser o principal templo do catolicismo. Na imagem a seguir, podem-se perceber vários elementos da arquitetura clássica revisitada pelo Renascimento, como a cúpula em abóboda, o frontão triangular, as colunas de ordem clássica, os arcos de volta perfeita dos portais, além da distribuição equilibrada e simétrica dos elementos.
CLASSICISMO PORTUGUÊS
Pode-se dizer que o Classicismo corresponde à fase literária do Renascimento. Desde o período humanista, há a tendência de estabelecer-se algumas obras dentro dos limites do Renascimento. Esse é o caso, por exemplo de Dante Alighieri e sua Divina Comédia; Francesco Petrarca, poeta italiano inventor do soneto e Giovanni Boccacio com seu clássico Decamerão. O período estende-se, portanto, ao longo de vários séculos e abarca inúmeros gênios da humanidade como William Shakespeare, François Rabelais e Miguel de Cervantes.
Em Portugal, o movimento tem início em 1527 pelas mãos do poeta Francisco Sá de Miranda. Ao retornar de uma viagem à Itália, o poeta torna-se o grande renovador da arte literária lusitana ao trazer a chamada “nova e doce forma poética” para a língua portuguesa. Tratava-se do formato italiano de soneto, com dois quartetos e dois tercetos, geralmente composto em decassílabos, formato que se tornou o mais popular na língua portuguesa.
Entretanto, é com Luís Vaz de Camões que a literatura do período chega ao ápice. O escritor, expoente máximo da poesia lusitana, apresenta-se versátil e destaca-se tanto na produção de poesias líricas quanto na construção da maior epopeia em língua portuguesa, Os Lusíadas, um poema épico em que se narra a história de Portugal desde sua fundação mítica e em que se exalta o povo português, celebrando-se os grandes feitos da navegação e os heróis guerreiros da nação lusitana.
CANTO I
1.
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
(Camões, Os Lusíadas)
Em sua produção lírica, Camões utiliza-se tanto da chamada “medida velha” (redondilhas) quanto da “medida nova” (decassílabos) com extrema habilidade. Sua temática apresenta certo desconcerto com o mundo e uma dualidade que se dá entre o amor material e aquele idealizado. Entretanto, todas as antíteses e paradoxos são construídos de forma racional e passadas com uma mistura de lirismo e uma análise intelectual do sentimento amoroso.
Soneto
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?