Estados Unidos e América Anglo-Saxônica
Maior potência econômica e militar do planeta, os Estados Unidos da América (EUA) possuem o quarto território mais extenso do mundo, banhado pelos oceanos Atlântico e Pacífico.
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
A costa leste, região das 13 colônias que deram origem à nação, é a mais populosa e industrializada, enquanto na planície central está a maior área agrícola. Os recursos naturais e as possibilidades econômicas dos EUA atraíram milhões de imigrantes nos séculos XIX e XX que ajudaram a construir a identidade nacional.
Ainda hoje, o país se destaca como o principal polo de imigração internacional. Sua cultura e estilo de vida têm grande influência global por meio do cinema, da literatura, da música e da TV. A luta pela independência, no século XVIII, é um marco de afirmação da república e da democracia no mundo moderno. No entanto, os EUA têm uma história de extermínio dos povos indígenas e de discriminação racial, em especial contra negros e hispânicos de origem latino-americana – comunidade que mais cresceu no país na década de 90.
Após o término da Guerra Fria, os EUA consolidam sua hegemonia no cenário mundial, atuando em vários conflitos. O maior atentado da história, ocorrido em 11 de setembro em Nova York e Washington, coloca a nação diante de um novo adversário: o terrorismo. Em retaliação ao ataque, atribuído a extremistas islâmicos abrigados no Afeganistão, os EUA lançam em outubro a ofensiva militar contra esse país, em parceria com o Reino Unido. Ademais, para compreender a realidade estadunidense atual, é preciso entender quais as razões histórico-geográficas que o levaram a se diferenciar dos seus vizinhos no continente americano.
FORMAÇÃO TERRITORIAL E A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS
Entre 1607 e 1733, nas costas orientais da América do Norte, os ingleses fundaram treze colônias. Cada uma delas, politicamente, dispunha de liberdades limitadas, sendo governadas por ingleses nomeados pelo rei da Inglaterra. Sob o aspecto econômico, as colônias submetiam-se, teoricamente, ao regime de exclusividade comercial: só podiam comercializar com a metrópole. No norte se destacava a pequena propriedade, predominando a agricultura, o comércio e a pesca, para consumo local. No sul predominavam as plantações de tabaco e algodão para exportação, cultivadas por escravos negros explorados pelos aristocratas.
A figura acima representa a imagem das Treze Colônias.
Não só os ingleses haviam se interessado pelas terras norte-americanas. Os franceses também se fixaram em algumas regiões importantes, porém, entre 1756 e 1763, na Guerra dos Sete Anos, foram derrotados pelos ingleses, que então se tornaram os donos da América do Norte. A Inglaterra logo passou a exigir dos colonos uma contribuição para o pagamento das dívidas causadas pela guerra. O Parlamento inglês decretou a Lei do Açúcar, que impôs novos direitos alfandegários a uma grande quantidade de produtos estrangeiros, entre eles o melaço. Mais tarde estabeleceu a Lei do Selo, que taxou os documentos legais, os produtos comerciais e as publicações periódicas.
Em 1773, para auxiliar a Companhia das Índias Orientais a escoar seus estoques de chá, o Parlamento autorizou-a a vender seus produtos diretamente na América, fazendo com que o preço do chá se tornasse muito mais barato nas colônias, o que prejudicava os comerciantes americanos. Estes ainda perderam o transporte e a revenda do chá inglês na América. A partir daí, várias manifestações revoltosas das colônias se desencadearam. Em dezembro de 1773, jovens de Boston disfarçados de índios lançaram ao mar a carga de chá de três navios ingleses. Esse episódio ficou conhecido como Tea Party (Festa do chá). A Inglaterra reagiu e enviou tropas repressoras, fechando o porto de Boston, obrigando a cidade a pagar uma grande indenização e ordenando a deportação dos rebeldes.
O general britânico fora informado de que os colonos estavam armazenando munições em Concord. Ordenou então o confisco desse material por um destacamento militar, em abril de 1775. Porém, quando os ingleses chegaram, na manhã seguinte foram emboscados por um bando de colonos patriotas, causando 8 mortes. Mais tarde foram novamente surpreendidos pelos americanos, com um saldo de dezenas de mortos e feridos.
Em 4 de julho de 1776 as treze colônias americanas se declararam unidas, livres e independentes. A guerra continuou com a vitória dos americanos em Saratoga, em 1777, e em 1783 foi assinada a paz em Versalhes, pela qual os ingleses reconheceram a independência dos Estados Unidos, cujo primeiro presidente foi George Washington.
Após conquistar sua independência, que serviu de modelo e inspiração para as outras colônias Americanas, os Estados Unidos viram-se diante de uma árdua tarefa: organizar sua política interna de maneira a conciliar os interesses das antigas treze colônias. Como já vimos, a forma de colonização implantada na América do Norte favoreceu a formação de diferentes regiões. Em cada uma delas, as ideias a respeito do novo governo eram tão diferentes quanto às atividades econômicas que desenvolviam.
Assim, uma corrente defendia a organização de um forte governo central e a adoção de tarifas protecionistas que incentivassem o desenvolvimento industrial. A outra corrente, vinculada aos produtores escravistas do sul, defendia uma política livre-cambista, que garantia o escoamento de suas matérias-primas, principalmente o algodão, em troca de produtos industrializados europeus.
Diante dessas duas forças, ficou difícil ao governo definir um único rumo para o país, pois a Constituição americana assumiu um caráter bastante genérico, facultando a cada estado a definição de suas próprias leis, desde que estas não entrassem em conflito com a orientação da União.
Somente com a eleição de Andrew Jackson em 1829 delinearam-se mais claramente as tendências democráticas na sociedade norte-americana. Para isso contribuiu principalmente a adoção do sufrágio universal.
A MARCHA PARA O OESTE
A Marcha para o Oeste foi a incorporação de territórios interioranos pelos colonos pioneiros e desbravadores, que faziam a fronteira mover-se sempre um passo além. Uma série de fatores motivaram e favoreceram esta expansão:
Pintura Progresso Americano de John Gast é uma representação alegórica do Destino Manifesto.
• A escassez de terras na faixa atlântica;
• A possibilidade de as famílias de colonos tornarem-se proprietárias, o que também atraiu imigrantes europeus;
• A necessidade do Norte, em fase de industrialização, de conseguir matérias-primas e alimentos;
• A corrida do ouro;
• A conquista de áreas de pastagens para os rebanhos;
• A construção de ferrovias, que permitia a aplicação lucrativa de capitais e integrava os mercados, assegurando o comércio para a produção agrícola.
OBSERVAÇÃO
O DESTINO MANIFESTO
Expressão criada em 1845, durante a conquista dos estadunidenses da porção oeste do território, que simbolizava uma filosofia da crença do povo dos Estados Unidos de que foram eleitos por Deus para uma missão. Sendo assim, o expansionismo territorial e geopolítico seriam apenas uma expressão dessa vontade divina.
A figura acima é Representação da Marcha para o Oeste.
Na primeira metade do século XIX, os Estados Unidos adquiriram uma série de regiões importantes, através de compras e ataques. Com essas aquisições, o território norte-americano passou a ter 7.700.000 quilômetros quadrados. A ocupação das novas áreas foi disciplinada pelo governo americano através do Edito do Noroeste (1787), que definia a formação de novos Estados em três etapas:
• Primeira etapa: a área ficaria sob controle do governo federal, até que sua população atingisse 5.000 eleitores;
• Segunda etapa: ao atingir 5.000 eleitores, o território adquiria autogoverno;
• Terceira etapa: ao atingir 60.000 habitantes, o território era adquirido como Estado da União, com os mesmos direitos dos Estados mais antigos.
A figura acima representa o Território dos Estados Unidos após a expansão.
Dessa forma o governo visava impedir que as novas áreas fossem dominadas pelos Estados já existentes. Com a Marcha para o Oeste continuaram as divergências entre o Norte e o Sul. O problema maior surgiu com relação ao regime de propriedade e o tipo de mão de obra a ser empregado nos novos territórios. O Norte pretendia que se instalassem pequenas propriedades com mão de obra livre e assalariada, enquanto o Sul defendia a ampliação dos latifúndios escravistas. Esse antagonismo era determinado não somente por interesse econômico, mas também por interesse político. Temia-se que a inclusão de novos representantes no legislativo viesse a romper o equilíbrio, até então existente, entre os Estados abolicionistas e os Estados escravistas.
Para manter a estabilidade, firmou-se em 1820 o Compromisso do Missouri. Esse acordo delimitava, pelo paralelo 36°30’, os territórios escravistas e os territórios livres, regulamentando a criação dos novos membros da União. Porém a solicitação da Califórnia, em 1850, para fazer parte da União como Estado não escravocrata desencadeou uma grave crise, pois desobedecia ao Compromisso do Missouri. Utah e Novo México também pediam sua anexação à União como Estados neutros, ao mesmo tempo que crescia a campanha abolicionista nos Estados Unidos.
Com essas questões o Compromisso perdeu o sentido e em 1854 o Congresso aprovou a entrada de novos Estados, com o direito de decidirem sobre a escravidão em seus territórios. A tensão entre escravocratas e abolicionistas aumentou, culminando no confronto armado entre Norte e Sul conhecido como Guerra de Secessão.
A GUERRA DE SECESSÃO (1861-1865)
OBSERVAÇÃO
DOUTRINA MONROE
É considerada um conjunto de ideais da diplomacia estadunidense com relação aos interesses europeus nas nações do continente americano.
Em dezembro de 1823, o então presidente dos Estados Unidos, James Monroe (1817 – 1825) se utilizou de um pronunciamento realizado no congresso para exigir o distanciamento dos europeus, que de acordo com ele, pretendiam retomar o processo de colonização.
O presidente então declarou que: “em virtude da condição livre e independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser considerados, no futuro, como suscetíveis de colonização por nenhuma potência europeia”.
Com essa declaração na época, os Estados Unidos assumem simbolicamente o papel de liderança da América. Portanto, as declarações do presidente e essa política pan-americana estadunidense pode ser resumida pela famosa passagem “ América para os americanos”.
As diferenças de interesses existentes entre as elites do sul agrário e as do norte industrial foram as causas da guerra civil norte-americana. A burguesia industrial nortista, em ascensão, estava ansiosa por garantir para si os novos mercados que estavam se formando com aumento da imigração e com as altas taxas de natalidade. Contudo, dois empecilhos impossibilitavam seus planos expansionistas: a escravidão e a resistência sulista às tarifas protecionistas. Os nortistas eram francamente contrários à escravidão porque ela impossibilitava o crescimento do mercado interno. Já os sulistas defendiam a manutenção de seus privilégios aristocráticos. Acreditavam que, sem a escravidão, as suas bases econômicas desmoronariam. Após as eleições presidenciais de 1860, que escolheram o candidato apoiado pelo Norte, Abraham Lincoln, os Estados escravistas do Sul resolveram se separar da União; formando uma confederação. Apesar da flagrante inferioridade em número de homens, em recursos e armas, os Estados Confederados atacaram o Norte, em 1861, dando início a guerra civil. Além de contar com a ajuda do Oeste, o Norte utilizou a Marinha para bloquear o apoio da Europa, principalmente da Inglaterra, aos Estados sulistas, dos quais esse país importa o algodão para alimentar suas indústrias.
A figura acima representa a imagem da Batalha de Chickamauga que ocorrem em 1863, durante a Guerra de Secessão.
O Sul conseguiu algumas vitórias. No entanto, após a Batalha de Gettysburg em 1863, o Norte tomou a ofensiva, derrotando as tropas sulistas e arrasando completamente os Estados Confederados. A tomada da capital da Confederação, Richmond, na Virgínia, em 1865 selou o fim da guerra, com a rendição completa do Sul. Nesse mesmo ano o presidente Abraham Lincoln foi assassinado por um fanático sulista. A abolição da escravatura foi decretada por Lincoln em janeiro de 1865. Porém, não foi acompanhada de nenhum programa que possibilitasse a integração de negro liberto na sociedade americana. Essa situação de desvantagem social tendeu a se perpetuar, principalmente devido ao aparecimento de sociedades secretas racistas no Sul, como o Ku Klux Klan, que através de segregacionismo e intimidações frequentemente violentas impediam os ex-escravos a assumirem plenamente sua cidadania.
Membros da Ku Klux Klan na Virgína em 1922.
OBSERVAÇÃO
Em agosto de 2017 em Charlottesville ocorreram manifestações de grupos supremacistas brancos e neonazistas após um projeto da prefeitura da cidade que determinava a retirada da estátua do general confederado Robert E. Lee, que é exaltado por diversos grupos radicais do sul dos Estados Unidos.
O general Robert E. Lee era filho de Henry Lee III que havia sido um herói na guerra pela independência dos Estados Unidos no século XVIII. Durante a Guerra de Secessão o general lutou pelos confederados (como eram chamados os Estados do Sul que lutavam para manter a escravidão) contra a União (como eram chamados os Estados do Norte, liderados por Abraham Lincoln e que eram favoráveis ao fim da escravidão).
A pequena cidade, localizada no estado da Virgínia, foi então o palco de confrontos entre os grupos de extrema direita (manifestantes portando símbolos confederados e nazistas e que estavam fortemente armados, sob o lema “unir a direita”) e os contra manifestantes (pessoas que combatem o fim da violência institucionalizada contra afro-americanos).
O resultado desses enfrentamentos foi a morte de uma mulher e o ferimento de diversas pessoas que levou o governo a decretar estado de emergência e deslocar unidades policiais especiais para a cidade.
O CAPITALISMO ESTADUNIDENSE E O INÍCIO DA HEGEMONIA
Com o fim da guerra de secessão e com a abolição da escravatura, o governo pôde se dedicar à organização e a exploração econômica das terras conquistadas no Oeste. Isso principalmente porque grandes áreas na costa do Pacífico haviam sido rapidamente povoadas, com a descoberta de ouro na Califórnia, por volta de 1848.
A mineração atraíra milhares de pessoas para o Oeste, incentivadas pela possibilidade de fácil enriquecimento. Mesmo com o esgotamento dos filões, áreas desconhecidas foram desbravadas, abrindo caminho para a posterior ocupação através da agropecuária.
Durante a guerra, para que a zona industrializada se empenhasse mais na produção bélica – industriais metalúrgica e siderúrgica -, o Congresso promulgou uma lei (Lei Homestead,1868) oferecendo no Oeste terras gratuitas aos colonos imigrantes. O objetivo dessa lei era aumentar os suprimentos agrícolas.
A integração entre as duas áreas (Leste e Oeste) deu-se com o desenvolvimento das ferrovias, que, à medida que foram sendo construídas, possibilitaram a ocupação do território. Isto se deu com grande rapidez. A construção de ferrovias precedeu o povoamento e forçou a tomada de terras indígenas, principalmente pelo extermínio de inúmeras tribos. As estradas de ferro uniram o Leste com o Pacífico e asseguraram o escoamento dos produtos no mercado interno, que agora assumia dimensões continentais.
Ao contrário da época de ocupação colonial, quando os colonos produziam para sua subsistência, nesta fase os pioneiros foram obrigados a se especializarem para atender a demanda crescente das áreas mais desenvolvidas. Muito embora a mão de obra fosse escassa, a produtividade aumentou graças à mecanização da produção agrícola e aos progressos técnicos alcançados nesse período. Alguns colonos, entretanto, ao hipotecarem suas terras para a compra de máquinas e insumos (matéria-prima, adubo, energia etc.), acabaram arruinados, perdendo suas propriedades para grandes grupos financeiros.
Foi justamente no período do pós-guerra que se deu a consolidação dos grandes grupos financeiros. Estes aumentaram seu patrimônio explorando a agricultura com a cobrança de juros exorbitantes e canalizando esses ganhos para investimentos nas indústrias concentradas no nordeste dos Estados Unidos. Além de submetida aos banqueiros, a agricultura também estava sujeita a outros tipos de exploração:
• As indústrias cobravam altos preços pelas máquinas agrícolas;
• Os comerciantes, por possuírem armazéns, compravam a produção a baixos preços ou cobravam pela estocagem dos produtos;
• As companhias ferroviárias cobravam elevados preços pelos fretes, diminuindo o lucro dos fazendeiros.
A inauguração de um novo processo de fabricação industrial (linha de montagem e produção em massa) implicou num amplo desenvolvimento técnico e no avanço da organização empresarial. Altas tarifas protecionistas contra a concorrência estrangeira beneficiaram esse processo. A industrialização foi, portanto, a consequência mais importante da guerra da secessão, colocando a nação americana na liderança do avanço capitalista. Para tanto muito contribuíram:
• A criação de um novo tipo de companhia – o truste monopolista;
• Novos inventos, como o processo Bessemer do aço;
• Novas fontes de energia (o vapor e a eletricidade), que, aplicadas à produção reduziam os custos.
Assim, desenvolvendo de maneira integrada todos os setores de produção, os Estados Unidos puderam, em fins do século XIX, concorrer em pé de igualdade com as grandes potências europeias na etapa avançada do desenvolvimento capitalista: o imperialismo.
OS ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XX
Big Stick: Em português “grande porrete”, esse termo faz referência ao estilo do presidente estadunidense Theodore Roosevelt (1901 – 1909) de resolver questões diplomáticas.
Em um discurso, no início de seu governo, o presidente utilizou se de um provérbio africano (“Fale com suavidade, e carregue um grande porrete, assim irás longe”) para declarar que “com fala macia e um grande porrete, você vai longe”.
Dessa forma, o presidente atuava de forma cordial nas negociações, mas ao mesmo tempo evidenciava a possibilidade do uso da força (militar) para se sobrepor aos seus opositores e atingir seus objetivos.
Esse posicionamento fica claro quando em 1904 o presidente Roosevelt cria uma emenda a Doutrina Monroe que prevê uma interferência direta dos Estados Unidos aos países sul-americanos ameaçados caso estes demonstrem uma impotência com relação a assuntos internacionais.
Política do “Big Stick” proposta por Theodore Roosevelt
New Deal: Pressionado pelos conservadores, o Congresso aprova, em 1920, a emenda constitucional que proíbe fabricar e vender bebidas alcoólicas (Lei Seca). Isso fortalece o contrabando e o crime organizado. A prosperidade econômica do país é interrompida em 1929, quando a quebra da Bolsa de Nova York leva a economia mundial para a Grande Depressão. O democrata Franklin Delano Roosevelt assume a Presidência em 1933 e, durante quatro mandatos consecutivos, até sua morte, em 1945, implanta uma política de desenvolvimento baseada em investimentos estatais para estimular a recuperação econômica. Conhecida como New Deal, essa diretriz ganha impulso com a entrada do país na Segunda Guerra Mundial, depois do ataque japonês à base de Pearl Harbor, no Havaí, em 1941. Em 1945, em tese para apressar a rendição do Japão, o governo do presidente Harry Truman joga bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki. Os EUA se tornam a maior potência econômica do pós-guerra.
Guerra Fria: A divisão do mundo em esferas de influência dos Estados Unidos da América (EUA) e da União Soviética (URSS) recebe o nome de Guerra Fria e promove o fortalecimento militar das duas nações. O primeiro embate se dá em 1950, com o envio de tropas dos EUA à Coreia para conter a expansão comunista na Ásia. Internamente, o país é varrido pelo macarthismo, uma onda de intolerância contra intelectuais e artistas acusados de serem comunistas pelo senador Joseph McCarthy, responsável pelas subcomissões de investigação do Senado. Com a eleição do democrata John Kennedy em 1960, aumentam os gastos com a defesa e a preocupação com os direitos civis. O governo reforça sua posição contra a influência soviética em Cuba e envia os primeiros assessores militares ao Vietnã. Kennedy é assassinado em 1963, e seu sucessor, Lyndon Johnson, aprova leis contra discriminação aos negros. Em 1969, astronautas norte-americanos pousam na Lua, vencendo a corrida espacial entre EUA e URSS. Em 1962 começa a fracassada intervenção militar no Vietnã, que provoca conflitos internos nos EUA. Sua retirada da guerra vietnamita só ocorre em 1973, no governo do republicano Richard Nixon, derrubado pelo escândalo de Watergate, em 1974.
Os acordos para a limitação de armas nucleares em 1976 e 1979 marcam a política de distensão com a URSS. Entre 1977 e 1980, com o presidente democrata Jimmy Carter, aumentam a inflação, o desemprego e os impasses com o Irã sob o poder dos aiatolás. Os republicanos voltam ao poder em 1980 com Ronald Reagan, que corta gastos públicos e endurece relações com a URSS e regimes de esquerda. Em 1986 estoura o escândalo Irã-Contras, envolvendo assessores diretos de Reagan na venda ilegal de armas ao Irã com repasse do dinheiro aos Contras, guerrilheiros direitistas em luta contra o governo sandinista (de esquerda) da Nicarágua.
A reeleição de Reagan em 1984 coincide com a ascensão de Mikhail Gorbatchev ao governo soviético. Em 1987, Reagan e Gorbatchev assinam o primeiro acordo para a destruição de armas nucleares de médio alcance. O vice de Reagan, George Bush, eleito presidente em 1988, continua a política de reaproximação com a URSS até a dissolução do bloco soviético, em 1991. Bush organiza uma coalizão militar de cerca de 30 países que expulsa as tropas iraquianas do Kuwait, na Guerra do Golfo.
O GOVERNO BARACK OBAMA (2009-2016)
Barack Hussein Obama assumiu a presidência dos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2009 cercado de expectativas. Membro do Partido Democrata e primeiro negro a presidir a nação mais poderosa do planeta, Obama herdou de seu antecessor, o republicano George W. Bush, um país marcado pelas controversas ações militares no Oriente Médio e mergulhado na mais grave crise econômica desde a grande depressão de 1929. E foi assim, transitando entre importantes conquistas e decepcionantes frustrações que Obama chegou ao final de seu segundo mandato.
Pode-se dizer que Obama foi bem sucedido no combate à recessão e ao desemprego. A crise econômica mundial deixou os EUA oficialmente em recessão por 18 meses, entre dezembro de 2007 e junho de 2009. Durante o período, o desemprego aumentou e, em seu auge, ficou em quase 10%. A política econômica de Obama conseguiu recuperar o crescimento econômico, fechando 2015 com um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,4%, e combater o desemprego, que voltou a ficar abaixo de 5%.
Outra conquista de Obama está na reforma da saúde. Isso porque, historicamente, os EUA não possuem um sistema público universal de saúde. Com a aprovação da lei que reforma o sistema de saúde, em março de 2010, cerca de 32 milhões de pessoas (quase 10% da população) que não tinham cobertura médica passarão a tê-la até 2019. Com a nova lei, todos os cidadãos são obrigados a contratar um plano de saúde – o governo deve fornecer subsídios para as famílias mais pobres. Obama também promoveu uma medida de impacto quando, em junho de 2015, a Suprema Corte declarou que casais formados por pessoas do mesmo sexo têm o direito garantido pela Constituição de se casar em todo o país – até então, cada estado tinha autonomia para legislar sobre o tema. A decisão é uma vitória pessoal de Obama, que sempre apoiou a legalização, e representa uma das mais relevantes conquistas no campo dos direitos civis da história norte-americana.
No campo da geopolítica, destaca-se a aproximação com Cuba: após mais de cinco décadas de rompimento, EUA e Cuba retomaram as relações diplomáticas oficialmente em 20 de julho de 2015, com a reabertura das embaixadas em Havana e Washington. Apesar das divergências ainda persistentes, os dois países começam timidamente a reatar alguns laços comerciais. No entanto, o fim do embargo econômico, apoiado por Obama, depende da aprovação do Congresso norte-americano. A aposta na diplomacia em vez do confronto também obteve resultados importantes na negociação do acordo nuclear do Irã, no qual os EUA desempenharam papel decisivo. O pacto assinado em julho de 2015 estabelece limites à atividade nuclear do Irã, em troca do fim das penalidades às quais o país persa estava submetido. Espera-se que, o Irã possa gradualmente retomar as relações com os EUA. Contudo, outros aspectos de seu mandato deixaram a desejar.
Apesar de recuperar o crescimento econômico e o nível de emprego, a política econômica falhou em resgatar o rendimento médio das famílias norte-americanas. Se antes da crise de 2008, a renda média anual era de 57,3 mil dólares, em 2014 o valor atingiu 53,7 mil dólares. O fato gera grande insatisfação na classe média norte-americana, que passa a duvidar das perspectivas de ascensão social. Por ser o primeiro presidente negro dos EUA, Obama assumiu com a expectativa de promover avanços em questões como igualdade racial e combate ao racismo. No entanto, em sua gestão, o país enfrentou os mais sérios confrontos raciais em duas décadas. Diversos casos de mortes de cidadãos negros desarmados por policiais desencadearam violentos protestos – os mais graves ocorreram em Ferguson (Missouri), em 2014, e em Charlote (Carolina do Norte), em 2016.
Obama editou um decreto que favorecia a regularização de mais de 4 milhões de imigrantes ilegais, dentre os 11 milhões que vivem no país. No entanto, com o apoio dos republicanos, um juiz federal do Texas concedeu liminar suspendendo o decreto, e a Suprema Corte endossou a decisão. Paradoxalmente, Obama também é o presidente que mais deportou imigrantes desde os anos 1950 – só em seu primeiro mandato foram 1,5 milhões de pessoas.
A revelação de que o Serviço de Inteligência dos EUA mantém um amplo programa de espionagem abalou a diplomacia norteamericana em 2013. Segundo a denúncia, os EUA espionam cidadãos comuns e governos de vários países, acessando informações confidenciais na rede e rastreando chamadas telefônicas. Obama admitiu o programa de vigilância e justificou sua existência como forma de prevenir ataques terroristas.
O fechamento da base militar norte-americana de Guantánamo – ilha situada em Cuba que está em poder dos EUA desde 1903 – foi uma promessa de campanha de Obama ainda não cumprida. A prisão abriga suspeitos de terrorismo, muitos deles sem qualquer acusação formal de crimes. A base é criticada por organizações de defesa dos direitos humanos, que também denunciam maustratos e tortura no local.
Algumas das maiores críticas a Obama estão no campo da política externa. Obama tratou de encerrar as operações militares iniciadas por Bush no Afeganistão (2001) e no Iraque (2003), retirando as tropas norte-americanas desses países – ainda permanece um efetivo de apoio às forças locais. A ofensiva de Obama na região pautou-se por operações de inteligência e pela ação dos drones. Porém, o uso dos aviões não tripulados é controverso por provocar milhares de vítimas civis.
A diretriz de Obama para a política externa adotou uma posição menos intrusiva no plano externo, evitando agir em situações que não ameaçassem diretamente os interesses norte-americanos. Nesse sentido, Obama evitou operações mais incisivas na Síria e contra o Estado Islâmico. No entanto, essa atitude é vista por seus críticos como uma omissão que facilitou a expansão de grupos como o próprio Estado Islâmico.
Quando a Rússia tomou a Crimeia da Ucrânia, em 2014, em meio a uma histeria geral clamando por uma intervenção militar norte-americana, Obama escolheu a via das sanções econômicas. Da mesma forma, o avanço econômico e bélico da China é tratado pela gestão Obama de forma cautelosa, procurando contrabalancear o poderio da China na Ásia sem prejudicar as relações bilaterais. Em ambos os casos, Obama é elogiado por sua ação diplomática e pragmática, mas criticado por reduzir o poder de influência dos EUA no mundo.
O GOVERNO DONALD TRUMP
A economia é o quesito no qual Trump recebe as notas mais altas da população. Durante a maior parte do início da gestão Trump, houve alta na criação de vagas de emprego, com um crescimento acima do esperado já no primeiro mês de seu governo. Em outubro, a taxa de desemprego nos EUA chegou a 4,1%, a menor dos últimos 17 anos.
Foi também em uma questão econômica que Trump obteve sua primeira grande vitória legislativa. Em dezembro, ele conseguiu aprovar sua proposta de reforma tributária, promessa de campanha que anunciou como “presente de aniversário” aos americanos. O texto destina-se principalmente a reduzir impostos sobre as empresas, diminuindo de 35% para 21% suas contribuições para o Tesouro, e as grandes rendas, com a criação de sete novos tipos de pagamento de impostos para indivíduos.
Essas e outras medidas fazem parte do que se considera o maior corte tributário desde o realizado pelo ex-presidente Ronald Reagan, em 1986. Embora tenham sido anunciadas por Trump como um presente a toda a população, especialistas afirmam que as medidas beneficiam especialmente os milionários e as grandes empresas.
Os baixos índices de popularidade não fizeram com que Trump mudasse seu estilo polêmico, que inclui provocações (a maior parte pelo Twitter), gafes diplomáticas e discursos em tom direto e, muitas vezes, agressivo. Um de seus alvos favoritos é a imprensa. O primeiro desentendimento ocorreu logo após a posse, quando o presidente acusou jornalistas de serem desonestos por rejeitarem sua afirmação de que a sua cerimônia havia recebido um público recorde, mesmo diante das fotos que mostravam claramente um número menor de pessoas do que na posse de Obama. Além disso, o presidente frequentemente ataca jornais e emissoras de TV: ele se refere ao “The New York Times” como “failing NY Times”, por exemplo, e acusa a CNN de veicular “fake news”. Trump chegou ao ponto de publicar no Twitter um vídeo com uma montagem que o mostrava derrubando e espancando um homem cujo rosto foi substituído pela logomarca da CNN.
Trump deixará um legado duradouro nos tribunais norte-americanos. Desde que assumiu, ele foi o presidente que mais nomeou juízes nos últimos 40 anos. Com cargos vitalícios, esses magistrados e suas decisões provocarão impactos por décadas no país. Até 3 de novembro de 2017, Trump já havia nomeado oito juízes para cortes federais e quatro para cortes distritais, com predominância absoluta de homens brancos, em muitos casos inexperientes e, em geral, com perfil fortemente conservador. Segundo a agência de notícias Associated Press, de todos os seus nomeados, 91% são brancos e 81% são homens. Entre as nomeações, a mais representativa foi a de Neil Gorsuch para a Suprema Corte. Com ele, o órgão voltou a ter uma maioria com tendência conservadora, o que teoricamente favorece Trump e sua agenda.
Mas nem todos os juízes deram alegrias ao presidente. Cortes derrubaram sua proposta de banir transgêneros nas forças armadas e também sua tentativa de cortar recursos de ‘cidades santuário’ – que protegem imigrantes ilegais. Os tribunais também têm imposto uma série de dificuldades ao plano de Trump de barrar viajantes de diversos países, a maior parte de maioria muçulmana. O presidente sofreu derrotas parciais em fevereiro, março e outubro. Em dezembro, a Suprema Corte até liberou temporariamente seu veto migratório, mas a decisão final ainda depende do andamento de processos em cortes inferiores.
Uma das prioridades assumidas pelo novo presidente foi reverter políticas de seu antecessor nos mais diversos setores. Logo em janeiro de 2017, Trump retirou os EUA do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP, na sigla em inglês), assinado em 2015. Mais tarde, também deixou o Acordo de Paris e anunciou o cancelamento do acordo de reaproximação com Cuba. As relações com Cuba voltaram a ficar abaladas.
Ainda na América Latina, Trump se indispôs com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao chamá-lo de ditador e afirmar que considerava uma “opção militar” na Venezuela, declaração que provocou protestos do Mercosul mesmo com as rixas internas entre o bloco e Maduro. O próprio Maduro respondeu Trump, ordenando exercícios militares em seu país e afirmando que Trump é “o novo Hitler” da política internacional. A briga foi além, com o presidente americano assinando decretos impondo sanções à Venezuela e ao próprio Maduro, e incluindo altos funcionários venezuelanos na lista de cidadãos proibidos de ingressar nos EUA.
Outro alvo constante de Trump foi o Irã. Insatisfeito com o acordo nuclear assinado por Obama, o presidente não economizou nas ameaças de deixar o tratado, embora nunca tenha conseguido provas concretas de que alguma regra tenha sido quebrada, o que o deixaria livre para agir. Em outubro, porém, Trump não certificou o pacto – embora este tenha sido mantido – e repetiu que o Irã “violou o espírito” do acordo. O presidente da França, Emmanuel Macron, outro signatário do pacto, tem sido um dos mais empenhados em mediar a situação e convencer o americano a permanecer.
Mas o inimigo favorito de Trump, sem sombra de dúvida, tem sido o líder norte-coreano Kim Jong-un. As trocas de ameaças e ofensas são uma constante há meses e se intensificaram após os testes com mísseis de Pyongyang. Enquanto Kim apela para ataques pessoais e chama Trump de “doente mental senil”, “mentalmente perturbado” e coisas do tipo, o presidente americano diz que o “tempo da força” chegou e que a Coreia do Norte irá enfrentar “fogo e fúria jamais vistos”. Trump também declarou na ONU que vai “destruir” o país do “rocket man” (homem-foguete). Porém, surpreendentemente, no dia 11 de junho de 2018 Trump e Jong-Un realizaram um encontro histórico, no que pode significar a diminuição da tensão entre os dois países.
No final do ano, Trump atraiu críticas – e a ira – de uma parcela considerável da comunidade internacional ao anunciar que os EUA reconhecem Jerusalém como capital de Israel e que irão transferir para lá sua embaixada, atualmente instalada em Tel Aviv. Em resposta, o Hamas convocou “três dias de fúria”, e uma série de protestos violentos se espalharam por diversos países do oriente médio, com mortes, feridos e danos materiais. Dezenas de países emitiram comunicados condenando a decisão americana, e a Assembleia Geral da ONU adotou por ampla maioria uma resolução que condena o reconhecimento. Emmanuel Macron, presidente da França, apesar das boas relações com Trump, foi um dos mais duros críticos ao reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelos EUA.
Dos 193 países-membros, 128 votaram a favor dessa resolução, incluindo o Brasil. Outros 35 países se abstiveram e 21 não se apresentaram para a votação. Apenas 9 países apoiaram a medida de Trump: Guatemala, Honduras, Ilhas Marshall, Micronésia, Nauru, Palau, Togo, Israel e os próprios Estados Unidos.
Se Trump quer fazer um governo totalmente oposto ao de Obama, o meio ambiente é uma das áreas em que ele mais se empenhou para isso. Em março, o novo presidente assinou um decreto revogando uma série de regulações contra as mudanças climáticas. Ele suspendeu medidas do Plano de Energia Limpa – o principal legado ambiental de Obama – e fortaleceu o uso de combustíveis fósseis. Em 1º de junho, após meses de ameaças, Trump anunciou formalmente que os EUA deixariam o Acordo de Paris contra as mudanças climáticas, assinado em 2015 por 195 países e no qual foi assumido o compromisso de que os países devem trabalhar para que o aquecimento global fique muito abaixo de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais. A decisão deixou os Estados Unidos isolados na questão de combate às mudanças climáticas, pois todos os outros países aderiram ao tratado.
Perto do final de seu primeiro ano de mandato, Trump anunciou mais duas medidas contestadas por ambientalistas. A primeira, em dezembro, foi a maior redução de reservas ambientais da história dos EUA. O Monumento Nacional Bear Ears, criado em 2016 por Obama, teve sua área reduzida em 20%, e o Monumento Nacional Grand Staircase-Escalante, designado por Bill Clinton em 1996, perdeu quase metade de sua área atual. Já em 2018, Trump voltou a ser criticado por ambientalistas ao propor abrir quase todas as águas no mar dos Estados Unidos para perfuração de petróleo e gás, revertendo proteções nos oceanos Ártico, Atlântico e Pacífico.
Existe, no entanto, uma política de Obama que Trump (ainda) não conseguiu derrubar, embora tenha sido uma das grandes promessas de sua campanha. E trata-se justamente de um projeto cujo apelido carrega o nome do seu antecessor. Apesar das diversas tentativas e de ter maioria na Câmara e no Senado, o Partido Republicano simplesmente não conseguiu “repelir e substituir” o Obamacare como Trump prometeu. É certo que algumas medidas foram tomadas para enfraquecer a política de saúde implementada pelo ex-presidente democrata, mas os fundamentos permanecem em vigor. O Congresso chegou a tentar um acordo bipartidário para resolver o assunto, com o qual Trump pareceu concordar a princípio, mas seu apoio durou menos de um dia até que mudasse de ideia.
Trump falou tanto no assunto – e o tema é tão complexo – que muitos americanos parecem crer que ele conseguiu mais do que de fato realizou. Uma pesquisa da “The Economist” divulgada em 27 de dezembro de 2017 revelou que 31% dos entrevistados acreditavam que o presidente manteve sua promessa de derrubar o Obamacare e 21% estavam incertos. Apenas 44% sabiam que ele não havia cumprido o prometido.
Outra importante promessa de campanha a se transformar em uma grande novela foi o muro na fronteira com o México. A ordem executiva para iniciar sua construção foi assinada cinco dias após a posse, mas, um ano depois, nem um metro está de pé. Não por falta de tentativa. Trump continua afirmando que enviará a conta da construção ao México, que por sua vez continuou respondendo que não pagaria (o que levou o presidente americano a pedir ao colega Enrique Peña Neto para parar de falar no assunto). Ele também tentou incluir a verba para começar a construção do muro no orçamento enviado ao Congresso, dizendo que depois enviaria a conta ao país vizinho, mas a estratégia não funcionou. Trump chegou a propor instalar painéis solares na obra, como forma de gerar energia para ajudar no financiamento. E nada. Por fim, ofereceu um plano para proteger jovens imigrantes que entraram ilegalmente nos EUA durante a infância em troca da aprovação do Congresso à liberação de verba. Mas a tática, considerada chantagem pelos congressistas democratas, foi recusada. Sem se dar por vencido, o presidente chegou a pedir que empresas erguessem protótipos do muro em San Diego, e oito delas foram selecionadas. Mas isso foi o mais próximo que ele conseguiu chegar de um muro de verdade, pelo menos por enquanto.
A ação mais comentada e polêmica em termos de imigração foi o fim da recepção a refugiados e o banimento da entrada de viajantes de diversos países, a maior parte deles com população de maioria muçulmana – a lista variou de acordo com os decretos. Trump foi derrotado em disputas judiciais e insistiu, até que finalmente conseguiu que a Suprema Corte liberasse de forma provisória um desses decretos. Hoje, cidadãos do Irã, Líbia, Síria, Iêmen, Somália, Chade, Coreia do Norte e alguns funcionários da Venezuela não podem entrar nos EUA.
Sob seu comando, o governo também endureceu a fiscalização aos imigrantes ilegais e aumentou o número de prisões. O presidente tentou ainda forçar as chamadas “cidades santuário” a diminuírem a proteção a essas pessoas, mas não conseguiu levar adiante sua ameaça de cortar verbas destinadas a elas. Programas de proteção temporária que acolhiam 50 mil haitianos e 250 mil salvadorenhos tiveram seu fim anunciado. Esses cidadãos foram recebidas nos EUA após terremotos que devastaram seus países de origem. Trump também já afirmou que pretende extinguir um programa de loteria de vistos, especialmente após um ataque em Nova York cometido por um uzbeque que vivia legalmente no país graças a um sorteio do tipo.
Ainda pendente está a situação de ao menos 800 mil jovens imigrantes protegidos pelo DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals), criado em 2012 por Obama e cujo encerramento foi anunciado em agosto do ano passado. Trump deu fim o programa, mas concedeu prazo até 8 de março para que o Congresso apresente uma alternativa contemplando os “dreamers”, imigrantes que foram para os EUA ilegalmente ainda crianças e que deixarão de ser protegidos contra a deportação.
ESTADOS UNIDOS: POTÊNCIA ECONÔMICA
Atualmente, o país está entre os maiores produtores e consumidores mundiais de mercadorias e serviço. Em 2014, o país apresentava um PIB de 17,4 trilhões de dólares de acordo com o Banco Mundial.
Fatores como esse colocam os Estados Unidos como uma potência mundial.
Observe abaixo a distribuição da População Economicamente Ativa (PEA) dos Estados Unidos por setores da produção em 2012.
AGROPECUÁRIA
Os Estados Unidos se configuram no cenário mundial como o maior produtor e exportador mundial de alimentos. O destaque fica para produtos como o milho, a soja, frango, carne e algodão. Atualmente cerca de 1% da População Economicamente Ativa (PEA) do país encontra-se empregado nessa atividade.
A área ocupada no território dos Estados Unidos pelas lavouras (agricultura) e para a pastagem (pecuária) corresponde a cerca de 40% da extensão total do pais.
A elevada tecnologia usada na agricultura dos Estados Unidos garante uma elevada produtividade agrícola que possibilita grandes rendimentos por parte das empresas rurais.
O espaço agrícola é organizado em cinturões (chamados de “belts”), que são extensas zonas em que predomina o cultivo de um produto principal, aliado do uso de técnicas modernas e com uma produção voltada para o comércio. Os cinturões agrícolas são:
• Cotton Belt (cinturão do algodão) – localizado em áreas de climas quentes.
• Dairy Belt (cinturão do leite) – localizado próximo as grandes cidades.
• Wheat Belt (cinturão do trigo) – localizado nas planícies centrais.
• Corn Belt (cinturão do milho) – localizado nas planícies centrais.
• Ranching Belt (cinturão da pecuária) – localizado na porção oeste.
• Fruit Belt (cinturão da fruticultura) – localizado na Califórnia e Flórida.
• Cinturão da policultura -localizado na porção sudeste.
O ESPAÇO INDUSTRIAL
Manufacturing Belt (cinturão industrial)
Localizada no nordestes do território, ao sul da região dos Grandes Lagos, encontra-se a região de maior e mais antiga industrialização do país. É conhecida também como Snow Belt (cinturão da neve) devido ao clima dessa região que é marcado por invernos rigorosos.
Acima a representação da Manufacturing Belt.
Sun Belt (cinturão do sol)
Cinco regiões encontradas em uma extensa porção ao sul do território em que predominam climas mais quentes. Podemos dividir em dois grupos: sul e sudeste e costa oeste.
Acima a representação da Sun Belt.
• Sul e Sudeste: No sul, em Houston (Texas) encontra-se um importante centro da NASA e diversos laboratórios seus além de indústrias mecânicas, que assim como em Dallas (Texas) a atividade petrolífera (pelas imensas reservas de petróleo e gás nas proximidades do Golfo do México), estimulou a criação de um conjunto de indústrias eletrônicas. No estado da Flórida existe uma importante base espacial em que foguetes da NASA são lançados. Em Atlanta estão presentes grandes empresas do setor elétrico e eletrônico.
• Costa Oeste: O crescimento da atividade industrial nessa parte do território tem uma relação com a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) e o Período da Guerra Fria (1945 – 1991) que estimularam o desenvolvimento de indústrias armamentistas no litoral do Pacífico. Apesar disso, não podemos afirmar que a produção industrial é limitada a essa produção. Nestes espaços destaca-se também a produção de tecidos, alimentos e aparelhos eletrônicos. Vale destacar que é nessa região, onde encontram-se cidades como Los Angeles e San Francisco (Califórnia), que encontra-se o Vale do Silício (Silicon Valley). Essa região formada ao redor da Baía de São Francisco se estende por vários núcleos urbanos menores como Palo Alto, San José e Santa Clara e é marcada pela presença de milionárias indústrias de alta tecnologia especializada em microeletrônica e informática, que contam com mão de obra qualificada formada pelas universidades da região como: Universidade Estadual da Califórnia (Berkeley) e a Universidade de Stantford (Palo Alto).
Acima a representação do Vale do Silício (Localização).
OBSERVAÇÃO
MAQUILADORAS
Também chamadas de Maquiadoras, correspondem a um conjunto de indústrias que se instalaram em território mexicano próximo a fronteira a partir da década de 1960.
A diferenciação salarial entre Estados Unidos e México é tão grande, que levou muitas empresas estadunidenses a deslocarem para o outro lado da fronteira segmentos do processo de produção mais intensivo, como a montagem de peças (os custos de transporte são menores devido a uma grande proximidade geográfi ca.
Essas indústrias conhecidas como maquiladoras, que se utilizam principalmente da mão de obra feminina, recebem incentivos fiscais e encontram legislações ambientais e trabalhistas mais flexíveis em cidades como Tijuana e Ciudad Juárez. Fatos como estes justificam a escolha dessas localidades para trabalhos mais repetitivos e perigosos como na montagem de eletrônicos, por exemplo.
ESPAÇO URBANO
Existem nos Estados Unidos diversas aglomerações urbanas com mais de 1 milhão de habitantes. Esse intenso processo de urbanização ocorreu junto ao processo de industrialização do país que originou diversas metrópoles e a formação de megalópoles.
OBSERVAÇÃO
METRÓPOLE E MEGALÓPOLE
Metrópoles – Cidades que apresentam o nível máximo de polarização em uma Rede Urbana.
Megalópoles – Conurbação de duas ou mais metrópoles e suas áreas conurbadas e integradas.
• Chipitts (a megalópole dos Grandes Lagos) – formada por cidades como Chicago, Detroit, Cleveland e Pittsburgh.
• Sansan (a megalópole da Costa Oeste) – formada por cidades como San Francisco, Sacramento, Los Angeles e San Diego.
ESTADOS UNIDOS: POPULAÇÃO
A enorme população dos Estados Unidos tem a sua formação relacionada a uma grande chegada de imigrantes ao longo de sua história.
OBSERVAÇÃO
A IMIGRAÇÃO ILEGAL NOS ESTADOS UNIDOS
Nos Estados Unidos em 2014 cerca de 500 mil imigrantes eram ilegais, valor esse que representava quase que a metade da quantidade de imigrantes legais desse mesmo ano.
Medidas de controle da imigração para dificultar a imigração ilegal cresceram principalmente após os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001. Além da construção de um muro equipado com câmeras de vigilância junto ao México, as forças polícias, na fronteira e dentro do país, intensificaram o combate a chegada principalmente de grupos latino-americanos.
Acima a representação do Mapa da Fronteira entre México e Estados Unidos.
Acima a representação da Fronteira entre Estados Unidos e México com vigilância e o muro.
AS MINORIAS POPULACIONAIS
A participação das minorias na população estadunidense tem aumentado nas últimas décadas, mas vale destacar que sua distribuição não é homogênea.
De acordo com o Censo nos Estados Unidos, os hispânicos são assim considerados de acordo com a sua origem. São todos aqueles que tem herança cultural ou descendem de populações da América Latina e da Espanha (o termo hispânico é sinônimo de latino).
O RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO, A SEGREGAÇÃO E A POBREZA
A história estadunidense foi marcada por um longo período de conflitos entre brancos e negros. Mesmo com a abolição da escravidão em 1865, os plenos direitos aos negros não foram garantidos, fazendo com que estes se mantivessem por muito tempo à margem da sociedade. Esse cenário somente passou por uma mudança quando em 1965 foi proclamada a Lei do Direitos Civis que levou para todos os cidadãos nascidos nos Estados Unidos os direitos democráticos. Uma pessoa que teve uma grande importância nessa busca por direitos foi Martin Luther King (1929 – 1968) que elevou a luta dos negros a uma questão nacional.
A imagem acima representa Martin Luther King em 28 de Agosto de 1963 durante a Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade.
OBSERVAÇÃO
O pastor Martin Luther King, ganhador do Prêmio Nobel da Paz (1964), foi um dos principais líderes dos movimentos por direitos civis e que defendia a resistência sem violência por parte da população negra à opressão racial.
Sua história teve um triste fim em 1968 quando foi alvejado na sacada de seu aposento em um motel em Memphis (Tennessee).
Nas cidades dos Estados Unidos a segregação sócioespacial entre os diferentes grupos populacionais é percebida através da existência dos chamados guetos. Nas áreas centrais encontram-se os centros comerciais e os escritórios empresariais, ou seja, são basicamente zonas de negócios. Ao redor desses espaços encontramos as zonas industriais e os bairros ocupados pelas minorias (hispânicos, negros e asiáticos) e pelas classes sociais
menos favorecidas (esses espaços são conhecidos como os guetos). Mais distantes encontram-se os subúrbios residenciais, que são ocupados pelas classes sociais média e alta.