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FILOSOFIA MEDIEVAL: SANTO AGOSTINHO

FILOSOFIA MEDIEVAL: SANTO AGOSTINHO

Aprenda sobre Santo Agostinho.

A RELAÇÃO ENTRE A FILOSOFIA E O CRISTIANISMO

O Cristianismo estabeleceu contato com a Filosofia por volta do Século II d.C. Cabe destacar que, apesar de ser possível encontrar traços de uma lógica filosófica em fragmentos de textos sagrados, a religião cristã e a Filosofia se mantiveram em posições opostas. A dicotomia se assentava em o cristianismo ser entendido como religião, portanto, baseado na crença e fé para professar dogmas e apresentar salvação para o indivíduo. Por outro lado, a Filosofia era pautada em uma lógica essencialmente contrária sob um ponto de vista do questionamento, da dúvida permanente e da argumentação como método para entender e explicar o mundo.

Entretanto, com a transição da Antiguidade para a Idade Média, a Filosofia e o Cristianismo se encontraram e esse encontro deu origem ao que os estudiosos chamam de Filosofia Medieval.

Desse modo, a Filosofia Medieval é marcada por um processo de junção entre instrumentos da fé e da razão, visões que, como vimos, sempre foram entendidas como completamente dicotômicas, mas que foram moldadas em um período que conhecemos como Idade Média. Importante lembrar que a Idade Média se refere a um período de forte influência da Igreja, com entendimento teocêntrico do mundo. Toda e qualquer relação social era moldada e formada pela instituição católica, sendo assim, era viável uma compreensão religiosa da economia, da política, da sociedade e da vida cotidiana.

Em resumo, a Filosofia Medieval é o uso por parte da Igreja Católica de instrumentos filosóficos como fundamentos para a fé cristã. Foram utilizados instrumentos racionais para tentar explicar tanto dogmas do cristianismo, como uma tentativa de comprovação da existência de Deus, através de argumentações filosóficas. Essa filosofia vai apresentar escolas e correntes de pensamento distintos ao longo da história. A primeira que estudaremos será a chamada Patrística.

PATRÍSTICA

Chama-se literatura patrística, em sentido lato, ao conjunto das obras cristãs que datam da idade dos padres da Igreja; mas nem todas têm como autores os padres, e esse título mesmo não é rigorosamente preciso.

Num primeiro sentido, ele designa todos os escritores eclesiásticos antigos, mortos na fé cristã e na comunhão da Igreja; em sentido estrito, um padre (ou pai) da Igreja deve apresentar quatro características: ortodoxia doutrinal, santidade de vida, aprovação da Igreja, relativa à antiguidade (até fins do século III aproximadamente). Outra marca importante do período é a forte influência do pensamento platônico.

SANTO AGOSTINHO

Um dos principais representantes da Patrística é Agostinho de Hipona (354 – 430). Nascido em Hipona, no norte da África, filho de pai pagão e mãe cristã, estudou várias correntes filosóficas de seu tempo, como o neoplatonismo e o maniqueísmo.

Sua obra contém elementos da filosofia helênica, como a argumentação racional sobre conceitos, o uso de noções platônicas e aristotélicas, a busca pela verdade sobre a realidade para melhor guiar as ações individuais. Porém, sua filosofia também possui elementos do cristianismo, como a centralidade da ideia de Deus, a busca pela compreensão de conceitos cristãos como a Trindade, a problematização da relação entre a fé e a razão.

Sua filosofia influenciou profundamente não apenas o pensamento teórico posterior, mas toda a cristandade e, por consequência, toda a Europa. Por ter estudado várias filosofias gregas, Agostinho utilizou a argumentação filosófica para defender as ideias cristãs.

Agostinho possui uma preocupação em tentar argumentar os dogmas do cristianismo, não baseando-se somente na fé, mas se adequando aos argumentos racionais. Buscando explicar a origem do mal, Agostinho aponta Deus como ser benevolente e criador de todo o universo, criando um embate em ter sido o criador do mal. Argumenta que o mal nada mais é do que a ausência de bem, não sendo uma criação de Deus. O mal nasce do livre-arbítrio do homem que escolhe ir contra a vontade de Deus. A argumentação de Agostinho é uma demonstração clara dos interesses da filosofia cristã, comprovar dogmas e visões da Igreja Católica.

Santo Agostinho.

Santo Agostinho. Por Philippe de Champaigne. (1645)

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ea/
Saint_Augustine_by_Philippe_de_Champaigne.jpg

Outra parte fundamental da obra Agostiniana é sua Teoria da Iluminação em que argumenta que o verdadeiro conhecimento só é encontrado na iluminação oriunda de Deus. Esse movimento de Agostinho é uma clara influência platônica, ao separar o conhecimento em sensorial, razão inferior e aquele baseado na iluminação divina. Vamos aprofundar:

TEORIA DO CONHECIMENTO DE SANTO AGOSTINHO

• O conhecimento sensível é obtido pelos sentidos e acessível a todos os homens.

• O conhecimento científico é obtido pela razão e acessível a todos os homens, uma vez que se encontra no plano
material.

• O conhecimento divino é obtido pela razão superior e é acessível somente a alguns homens, os iluminados.

TEXTO COMPLEMENTAR

Eis a minha resposta a quem diz: Que fazia Deus antes de fazer o céu e a terra? Não lhe dou aquela resposta que alguém, segundo se diz, terá dado, iludindo com graça a violência da pergunta. Preparava, disse, a geena para aqueles que perscrutam questões tão profundas. Uma coisa é ver, outra coisa é rir. Esta não é a minha resposta. Preferiria responder: ‘‘Não sei o que não sei’’, em vez de dar uma resposta que pusesse a ridículo quem formulou questão tão profunda e gabasse quem respondeu erradamente. Mas eu afirmo, ó nosso Deus, que tu és o criador de toda a criatura e, se sob a designação de ‘‘céu e terra’’ se entende toda a criatura, não hesito em afirmar: ‘‘Antes de Deus fazer o céu e a terra, não fazia coisa alguma’’. Com efeito, se fazia alguma coisa, que coisa fazia senão a criatura? E oxalá assim eu possa saber tudo aquilo que, utilmente, desejo saber, tal como sei que não estava criada nenhuma criatura antes de ser criada alguma criatura.

Mas se algum sentido volúvel vagueia pelas imagens dos tempos anteriores à criação e se admira de que tu, Deus onipotente, e criador e sustentáculo de todas as coisas, artífice do céu e da terra, durante inumeráveis séculos te abstiveste de tão grande obra, antes de a fazeres, ele que desperte e repare que se admira de coisas falsas. Com efeito, como podiam ter passado inumeráveis séculos, que tu próprio não tinhas feito, sendo tu o autor e criador de todos os séculos? Ou que tempos teriam existido que não tivessem sido criados por ti? Ou como podiam ter passado se nunca tivessem existido? Sendo tu o obreiro de todos os tempos, se existiu algum tempo antes de fazeres o céu e a terra, por que motivo se diz que tu te abstinhas de agir? De fato, tu tinhas feito o próprio tempo, e os tempos não puderam passar, antes de tu fazeres os tempos. Se, no entanto, não existia nenhum tempo antes do céu e da terra, por que razão se pergunta o que fazias então? Na realidade, não havia ‘então’, quando não havia tempo.

E tu não precedes os tempos com o tempo: se assim fosse, não precederias todos os tempos. Mas precedes todos os pretéritos com a grandeza da tua eternidade sempre presente, e superas todos os futuros porque eles são futuros, e quando eles chegarem, serão pretéritos; tu, porém, és o mesmo e os teus anos não têm fim. Os teus anos não vão nem vêm: os nossos vão e vêm, para que todos venham. Os teus anos existem todos ao mesmo tempo, porque não passam, e os que vão não são excluídos pelos que vêm, porque não passam: enquanto os nossos só existirão todos, quando todos não existirem. Os teus anos são um só dia, e o teu dia não é todos os dias, mas um ‘‘hoje’’, porque o teu dia de hoje não antecede o de amanhã; pois não sucede ao de ontem. O teu hoje é a eternidade: por isso, geraste coeterno contigo aquele a quem disseste: Eu hoje te gerei. Tu fizeste todos os tempos e tu és antes de todos os tempos, e não houve tempo algum em que não havia tempo. Não houve, pois, tempo algum em que não tivesses feito alguma coisa, porque tinhas feito o próprio tempo. E nenhuns tempos te são coeternos, porque tu permaneces o mesmo; ora, se os tempos permanecessem os mesmos, não seriam tempos.

Não houve, pois, tempo algum em que não tivesses feito alguma coisa, porque tinhas feito o próprio tempo. E nenhuns tempos te são coeternos, porque tu permaneces o mesmo; ora, se os tempos permanecessem os mesmos, não seriam tempos. Que é, pois, o tempo? Quem o poderá explicar facilmente e com brevidade? Quem poderá apreendê-lo, mesmo com o pensamento, para proferir uma palavra acerca dele? Que realidade mais familiar e conhecida do que o tempo evocamos na nossa conversação? E quando falamos dele, sem dúvida compreendemos, e também compreendemos, quando ouvimos alguém falar dele. O que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, sei o que é; mas se quero explicá-lo a quem me pergunta, não sei: no entanto, digo com segurança que sei que, se nada passasse, não existiria o tempo passado, e, se nada adviesse, não existiria o tempo futuro, e, se nada existisse, não existiria o tempo presente. De que modo existem, pois, esses dois tempos, o passado e o futuro, uma vez que, por um lado, o passado já não existe, por outro, o futuro ainda não existe? Quanto ao presente, se fosse sempre presente, e não passasse a passado, já não seria tempo, mas eternidade. Logo, se o presente, para ser tempo, só passa a existir porque se torna passado, como é que dizemos que existe também este, cuja causa de existir é aquela porque não existirá, ou seja, não podemos dizer com verdade que o tempo existe senão porque ele tende para o não existir?

Permite-me, Senhor, ir mais longe na minha procura, ó minha esperança; e não se distraia a minha atenção. Se existem coisas futuras e passadas, quero saber onde estão. Mas se isso ainda não me é possível, sei, todavia, que onde quer que estejam, aí não são futuras nem passadas, mas presentes. Na verdade, se também aí são futuras, ainda lá não estão, e se também aí são passadas, já lá não estão. Por conseguinte, onde quer que estejam e quaisquer que sejam, não existem senão como presentes.

Ainda que se narrem, como verdadeiras, coisas passadas, o que se vai buscar à memória não são as próprias coisas que já passaram, mas as palavras concebidas a partir das imagens de tais coisas, que, ao passarem pelos sentidos, gravaram na alma como que uma espécie de pegadas. Até a minha infância, que já não existe, existe no tempo passado, que já não existe; mas vejo a sua imagem no tempo presente, quando a evoco e descrevo, porque ainda está na minha memória. Se é semelhante a explicação também da predição do futuro, de tal forma que sejam tornadas presentes, como já existentes, as imagens das coisas que ainda não existem, confesso-te, meu Deus, que não sei. Há uma coisa que eu sei: a maior parte das vezes, nós premeditamos as nossas ações futuras e essa premeditação é presente, ao passo que a ação que premeditamos ainda não existe, porque é futura; quando a empreendermos e começarmos a realizar aquilo que premeditávamos, então essa ação existirá, porque então já não será futura, mas presente.

Assim, qualquer que seja a natureza deste misterioso pressentimento do futuro, não se pode ver senão o que existe. Ora, o que já existe não é futuro, mas presente. Por isso, quando se diz que se veem coisas futuras, não se veem essas mesmas coisas, que ainda não existem, ou seja, que hão de existir, mas sim as suas causas ou, talvez, os seus sinais; estes já existem: por isso, não são futuros, mas já presentes para os que os veem, e, a partir deles, são preditas as coisas futuras concebidas no espírito.

As imagens dessas coisas, por sua vez, já existem, e veem-nas como presentes, dentro de si, aqueles que predizem tais coisas. Ofereça-me um exemplo a imensa variedade das coisas. Contemplo a aurora: preanuncio que o sol vai nascer. O que vejo é presente, o que preanuncio é futuro: não é o sol, que já existe, que é futuro, mas sim o seu nascimento, que ainda não existe: todavia, mesmo o próprio nascimento, se não o imaginasse no meu espírito, como agora quando estou a falar dele, não o poderia predizer. Mas aquela aurora que vejo no céu não é o nascimento do sol, embora o preceda, nem aquela imagem que está no meu espírito: ambas são vistas claramente como presentes, a ponto de se poder dizer antecipadamente aquele futuro. Portanto, as coisas futuras ainda não existem e, se ainda não existem, não existem, e, se não existem, não podem ser vistas de forma alguma; mas podem ser preditas a partir das coisas presentes, que já existem e se veem.

Uma coisa é agora clara e transparente: não existem coisas futuras nem passadas; nem se pode dizer com propriedade: há três tempos, o passado, o presente e o futuro; mas talvez se pudesse dizer com propriedade: há três tempos, o presente respeitante às coisas passadas, o presente respeitante às coisas presentes, o presente respeitante às coisas futuras. Existem na minha alma estas três espécies de tempo e não as vejo em outro lugar: memória presente respeitante às coisas passadas, visão presente respeitante às coisas presentes, expectação presente respeitante às coisas futuras. Se me permitem dizê-lo, vejo e afirmo três tempos, são três. Diga-se também: os tempos são três, passado, presente e futuro, tal como abusivamente se costuma dizer; diga-se. Pela minha parte, eu não me importo, nem me oponho, nem crítico, contanto que se entenda o que se diz: que não existe agora aquilo que está para vir nem aquilo que passou. Poucas são as coisas que exprimimos com propriedade, muitas as que referimos sem propriedade, mas entende-se o que queremos dizer.

(Agostinho. Confissões)

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