SISTEMA DIGESTÓRIO HUMANO
ANATOMIA DO TUBO DIGESTÓRIO
O processo digestório humano tem início na boca e culmina com a eliminação de restos não aproveitados através defecação realizada pelo ânus. Entre estes dois órgãos, no entanto, há diversos processos importantes e várias formas de regulação.
A digestão pode ser classificada em duas categorias: física (mecânica) ou química (enzimática). Na primeira destas nos referimos a meios como a mastigação, através dos quais o alimento é triturado e repartido em pedaços menores que aumentarão a capacidade de atuação da digestão química. Esta última, por sua vez, depende de substâncias químicas, produzidas pelas nossas células, conhecidas como enzimas. Através da atuação enzimática garantimos que uma molécula tenha suas ligações rompidas em pontos específicos até que pequenos grupos de átomos restem como produto para serem absorvidos pelas células e transportadas através da circulação.
Na boca, depois de ingerido, o alimento começa a ser processado quimicamente e fisicamente. Nesta cavidade há a liberação da saliva na qual se encontra uma enzima conhecida como amilase salivar (ptialina) que é capaz de quebrar grandes moléculas de açúcar (amido) em partes menores (maltose e glicose). Como qualquer enzima, no entanto, sua atividade é influenciada por fatores do meio, sendo a variação de pH determinante na manutenção de sua conformação ideal e consequente atividade ótima. A amilase salivar atua de maneira ótima, então, em pH 7,0 (neutro), o que garantido pela atuação das glândulas salivares e, também, da presença de micro-organismos componentes da microbiota oral.
Depois de mastigado e ensalivado o alimento é deglutido, ou seja, é transportado ao próximo órgão do tubo digestório que é conhecido como faringe. Este órgão é reconhecível como um pequeno tubo que conecta os sistemas digestório e respiratório, sendo responsável pelo direcionamento do alimento ao esôfago e do ar inspirado à laringe. A peça mais importante para que este procedimento ocorra com sucesso é a epiglote, uma espécie de pequena tampa que impede a passagem de alimento para as vias respiratórias, impedindo, assim, a asfixia.
Chegando ao esôfago o alimento é encaminhado ao estômago. Ao longo da faringe, e também do esôfago, não existe qualquer enzima nova sendo secretada e a atuação da amilase salivar é mantida.
É importante notar que o deslocamento do bolo alimentar ao longo do tubo digestório não depende da força gravitacional, mas da contração involuntária da musculatura lisa presente no órgão que o compõem. Assim, mesmo que uma pessoa se encontre reclinada, ou até de ponta-cabeça, o alimento – independentemente de sua consistência – seguirá a trajetória indicada através dos movimentos peristálticos.
Chegando ao estômago o bolo alimentar se transforma em uma pasta conhecida como quimo, sendo esta modificação dependente da atuação do suco gástrico, rico em ácido clorídrico (HCl). Neste compartimento, a enzima secretada na boca – que seguia junto ao bolo alimentar – perde sua capacidade digestiva e, agora, passa a atuar a pepsina que é produzida pelas células da parede do estômago. Esta enzima é responsável pela quebra de moléculas de proteína (polipeptídeos) em fragmentos menores (peptídeos e aminoácidos).
O ácido clorídrico secretado pelo estômago tem duas importantes funções. A primeira delas é acidificar o meio para que seja atingido um pH próximo a 2,0 e, desta maneira, a pepsina possa atuar de maneira eficiente. Sua segunda função, não menos importante que a primeira, é impedir a proliferação de micro-organismos patogênicos. Ainda que haja bactérias capazes de sobreviver a este nível elevado de acidez, como a Helicobacter pylori, a maioria dos possíveis agentes infecciosos ingeridos juntamente ao alimento é eliminada nesta região do tubo digestório.
A presença de uma solução ácida tão forte no interior do nosso corpo é controlada de maneira temporal e, também, química. A secreção de quantidades consideráveis de ácido clorídrico ocorre, apenas, mediante estímulo sensorial, como quando estamos com fome e sentimos cheiro de comida. Além disso, a produção de muco pelo epitélio intestinal evita o contato direto das células deste tecido de revestimento com o ácido estomacal.
Depois de realizada a quimificação, o alimento segue ao intestino delgado para que seja mais uma vez transformado. Através da bile e dos sucos entérico (intestinal) e pancreático, o que antes era chamado de quimo passa a receber a designação de quilo.
O intestino delgado é dividido em três porções. A região inicial, na qual desemboca o estômago, é chamada de duodeno e mede aproximadamente trinta centímetros. A ele segue-se o jejuno e posteriormente o íleo que, somados, apresentam entre seis e sete metros de comprimento, e nos quais se localizam várias pregas conhecidas como vilosidades que aumentam a superfície de contato com o alimento e favorecem a sua digestão e a absorção de nutrientes. As células epiteliais que revestem as vilosidades apresentam, na porção apical de sua membrana plasmática (voltada ao contato com o alimento) ondulações denominadas microvilosidades que ampliam ainda mais a área deste órgão.
No intestino delgado são secretadas diversas enzimas, que apresentam variadas funções digestivas. Assim, depois de cessada a atividade da pepsina, se iniciam a quebra de lipídeos (gorduras e óleos), ácidos nucleicos (DNA e RNA) e são finalizados os processos que envolvem açúcares e proteínas. Para que estas enzimas trabalhem com atividade máxima, o pH do quimo é elevado a 8,0, atingindo a faixa alcalina. A tabela a seguir apresenta um compilado de informações a respeito das enzimas que atuam ao longo do intestino delgado.
Ao final do íleo se encontra o apêndice cecal (apêndice vermiforme). Apesar de não apresentar quaisquer funções em humanos, este órgão vestigial foi mantido ao longo do processo evolutivo por não representar um fator suficientemente negativo para que sofresse pressão por sua eliminação. Em ancestrais herbívoros o apêndice funcionava como um local de acúmulo de bactérias capazes de atuarem na digestão de fibras alimentares.
Depois que todos os nutrientes necessários são digeridos, o quilo é encaminhado ao intestino grosso, passando pelos cólons ascendente, transverso e descendente. Neste órgão são absorvidos água e sais minerais para que as fezes sejam formadas e levadas ao ânus para posteriormente serem eliminadas.
Além das funções anteriormente mencionadas, vale destacar o importante papel da microbiota presente no intestino grosso. Além de proteger nosso corpo da colonização por micro-organismos patogênicos, parte destas bactérias também é capaz de sintetizar as vitaminas B1, B2, B12 e K, que são disponibilizadas ao nosso organismo.
GLÂNDULAS ANEXAS AO TUBO DIGESTÓRIO
Para que o alimento seja corretamente processado, existem algumas glândulas que eliminam suas secreções no interior do tubo digestório. Tais secreções podem conter enzimas ou sucos capazes de alterar os níveis de acidez do local e contribuir indiretamente para a digestão.
As glândulas salivares (parótida, sublingual e submandibular) são responsáveis pela produção da saliva. Esta secreção contém muco, água, sais minerais e a enzima amilase salivar.
O fígado, por sua vez, é responsável pela produção da bile. Após ser armazenada na vesícula biliar, a bile é transportada ao duodeno e atua na emulsificação de lipídeos. É importante lembrar que não há, nela, qualquer enzima. Isto significa que a bile, por si só, não realiza qualquer digestão, mas auxilia a atuação de enzimas conhecidas como lipases que são responsáveis pela quebra de lipídeos em moléculas menores.
Por fim, o pâncreas apresenta como função a produção do suco pancreático, que também é lançado no duodeno. Nesta secreção há várias enzimas e uma substância chamada de bicarbonato de sódio que é capaz de reduzir a acidez do quimo (pH 2,0) que acabou de chegar ao intestino delgado para ser transformado em quilo (pH 8,0).
CONTROLE HORMONAL
Existem vários hormônios responsáveis pelo controle do sistema digestório. A seguir estão listadas as funções dos principais.
• Gastrina: é produzida pelo estômago para que atue em si próprio, aumentando sua atividade e facilitando a digestão do alimento que acabou de chegar a este compartimento.
• Secretina: é produzida no duodeno e atua sobre o pâncreas, estimulando a liberação do suco pancreático, inibe a produção da gastrina.
• Colecistocinina (colecistoquinina ou CCK): é produzida no duodeno e atua sobre a vesícula biliar, estimulando a liberação da bile e liberação de suco pancreático.